"A dificuldade é que nós que somos políticos temos que estar atrelados ao poder" | Joedson Telles | F5 News - Sergipe Atualizado

"A dificuldade é que nós que somos políticos temos que estar atrelados ao poder"
Blogs e Colunas | Joedson Telles 12/08/2019 17h45

O ex-deputado federal José Carlos Machado comenta, nesta entrevista, como vem trabalhando para fortalecer  o DEM para disputar as eleições municipais de 2020, sobretudo na Grande Aracaju. Machado tem consciência das dificuldades que cercam um partido político que não está no governo para atrair bons quadros, mas aposta nas portas abertas do gabinete da senadora do DEM, Maria do Carmo, em Brasília, para encurtar distâncias. "A dificuldade é que nós que somos políticos temos que estar atrelados ao poder. Hoje mais da metade dos prefeitos estão atrelados ao agrupamento que circula em torno do governador Belivaldo Chagas. O fato de o Democratas ter obtido essa dimensão que hoje ocupa o cenário federal provocou uma certa atração. Quem pretende ganhar a eleição de um município precisa de alguém que abra as portas em Brasília e a senadora Maria do Carmo está disposta a isso", diz. Machado fala ainda das conversas que vem tendo com os deputados Gilmar Carvalho e Garibalde Mendonça, sobre a possibilidade de um do dois disputar a Prefeitura de Aracaju pelo DEM, e lamenta a situação vivida pelo ex-governador e amigo João Alves Filho. 

A frase que “o bom filho à casa retorna” cabe perfeitamente neste momento de reorganização do DEM pelas mãos de José Carlos Machado?

Não que esse retorno foi fácil. A senadora Maria do Carmo, queira ou não seus adversários, tem um papel extraordinário na política de Sergipe. Quando foi primeira dama fez um trabalho na área social que ninguém conseguiu chegar perto, embora muitas tentativas foram feitas. Ela tinha demonstrado, nas conversas que tivemos, interesse em reorganizar o partido em Sergipe. Numa dessas conversas, em Brasília, foi com a presença de dirigentes dos Democratas que foram meus colegas deputados, como José Carlos Aleluia. Teve um momento que a senadora disse que teria que ser eu. Eu disse a ela que quem teria que ser presidente seria ela e que contasse comigo. Mas ela alegou uma série de dificuldades, o cuidado que ela tinha que adotar em relação a João Alves, disse que não poderia estar aqui toda semana. Eu perguntei se teria o apoio dela e ela disse que sim, como também o seu entusiasmo. Definimos de comum acordo uma Comissão Provisória e eu assumi o partido em Sergipe. Temos dificuldades, sobretudo financeiras. Mendonça explicou que vivia sob o manto da possibilidade de uma intervenção. O custeio do partido hoje é feito através do fundo partidário, que é dinheiro público e devemos ter um cuidado extremo. Se atrasarmos um pagamento, existe juros ou multa. Pode-se pagar o principal com dinheiro do fundo partidário, mas os juros ou a multa não. O fato é que estamos tentando superar tudo isso. Eu levei para o ACM Neto as dificuldades do partido e ele prometeu ajudar. Estamos contando aqui, nessa missão de retomada financeira, com Osvaldo Espírito Santo, que é uma pessoa que não precisa discutir sua capacidade nessa área. Ele fica mais nessa questão financeira e eu me dedico mais à questão política. Apesar de todos os percalços, os resultados têm sido agradáveis. Eu estou fazendo o que eu gosto. Eu confesso a meu filho que de manhã eu tenho compromisso, mas à tarde, se eu não tiver dois ou três compromissos políticos, eu já começo a ficar impaciente. Eu estou toda tarde dando expediente, conversando com as pessoas e os resultados não vão acontecer de imediato.

Como está sendo o desafio de tentar reunir um quadro bom num momento em que o partido não tem o poder, para oferecer cargos e outros atrativos da política?

Eu tive uma conversa muito longa com ACM Neto, que hoje é um dos melhores quadros da política brasileira. Ele disse que estava me convidando e se eu aceitasse o desafio seria de soerguer o partido, principalmente no Nordeste. A intenção dele é essa. Ele acredita que a depender do trabalho, sobretudo dele e dos outros membros que compõem os Democratas no Nordeste, o partido pode surgir das cinzas e ocupar a posição que tinha antes de 2002. O partido começou a decair no Nordeste dopeis da vitória de Lula, em 2002. Ele quer reconquistar este espaço e o principal ingrediente dessa reconquista é a história do partido, principalmente no Nordeste brasileiro. Houve um momento que todos os governadores do Nordeste eram do PFL – hoje DEM. Ele tem essa missão, e eu estou impregnado nesse objetivo. Ele quando me deu a missão disse que a renovação era fundamental, mas a gente não poderia desprezar as pessoas que ao longo de sua história estiveram sempre com o antigo PFL. Eu tenho feito isso diariamente. Conversado muito. A dificuldade é que nós que somos políticos temos que estar atrelados ao poder. Hoje mais da metade dos prefeitos estão atrelados ao agrupamento que circula em torno do governador Belivaldo Chagas. O fato de o Democratas ter obtido essa dimensão que hoje ocupa o cenário federal provocou uma certa atração. Quem pretende ganhar a eleição de um município precisa de alguém que abra as portas em Brasília e a senadora Maria do Carmo está disposta a isso. Não é ajudar diferenciando o político da situação do político da oposição. Ela é senadora de Sergipe e tem que atender a todos e ajudar na medida do possível, mas é natural que aqueles que são nossos aliados recebam um tratamento minimamente diferenciado. Isso é natural da política. Faz parte do jogo. Não tem nada de indecente.

E tem dado certo?

Já se começa a perceber um fluxo muito acentuado de prefeitos e futuros candidatos em busca de conversa com Maria do Carmo. Ela tem passado que a sua missão é cuidar de João. Eu digo que eu sei, mas que vamos fazer política também. Antes do São Pedro, eu disse a ela para irmos à Estância porque o prefeito estava nos convidando. Fomos eu, ela e Albano. Ela soltou até rojão. As fotografias (e vídeos) dominaram as redes sociais durante muitos dias. Brayner diz que político que solta rojão em véspera de São Pedro é porque é candidato. Eu tenho insistido com ela que não descarte a possibilidade de ser candidata ao Senado daqui a três anos. Sarney exerceu o mandato no Senado com mais de 80 anos. Apesar da missão espinhosa, eu estou muito otimista com relação ao futuro dos Democratas em Sergipe dentro daquele espírito de renovação, de fazer o eleitor de Sergipe relembrar o que o antigo PFL representou para o estado, principalmente nas duas administrações e João Alves como governador. João construiu Sergipe. Não foi só ele, mas foi o responsável pela grande maioria das obras estruturantes que estão aí servindo há décadas aos sergipanos. Há 45 anos, ele construiu uma avenida que até hoje é pujante, que é a avenida Maranhão (na zona Norte). Se essa avenida ainda hoje tem importância, imagine há 45 anos? Depois dessa avenida, o que foi que fizeram em Aracaju? Qual foi a obra estruturante que fizeram depois das grandes obras que João fez em 74, 75 e 76? No mais, o aracajuano e o sergipano, quando olham para as obras estruturantes de Aracaju e lembrar de João Alves. É esse o objetivo do Neto. Ele diz que na Bahia tem que relembrar a história do avô (Antônio Carlos Magalhães), que foi tão realizador em termos de construção assim como João foi para Sergipe.

Pelo visto, a eleição de 2020, em Aracaju, terá importância fundamental para o DEM. O deputado estadual Gilmar Carvalho pode ser mesmo pré-candidato a prefeito pela legenda?

O tempo que temos para estruturar o partido até próximo ano é curto. Eu conversei com Gilmar e juntos fomos até o Neto, em Salvador. Gilmar colocou muito claro suas intenções, apesar de todas as dificuldades que ele vai ter em relação à legislação (trocar o PSC pelo DEM sem perder o mandato), mas, se houvesse a possibilidade sem risco, ele estaria disposto a retomar as conversas e ingressar nos Democratas. Isso não ficou definido. Neto disse a ele que, se Machado recebe a missão de fortalecer o partido, em Sergipe, principalmente em Aracaju, e viabiliza uma candidatura própria do partido é um bom sinal. Neto disse a ele que, se os obstáculos fossem vencidos, o partido iria tratar ele como prioridade. Gilmar disse que a conversa foi melhor do que ele esperava. Mas, eu não posso ficar só nessa possibilidade. E se Gilmar não viabilizar sua saída do partido? Tenho que pensar outras alternativas. Eu conversei muito com Garibalde Mendonça, que é um deputado estadual do MDB e tem uma excelente imagem em Aracaju. A saída dele também corre risco porque, mesmo que o partido não questione sua saída, o suplente pode questionar ou mesmo o procurador regional eleitoral. Eu fiz um convite a ele para que as pessoas ligadas a ele pudessem neste momento participar do partido de alguma forma. Eu vou conversar com outros. A orientação que eu recebi foi de ter candidatura própria. Se não conseguirmos viabilizar candidatura temos que pensar em aliança.

O DEM tem em seus quadros o vereador Juvêncio Oliveira, que faz um grande trabalho na Câmara de Aracaju, mas anunciou que não será mais candidato. Machado vai conversar com ele?

Já conversei com ele. Ele me disse que está profundamente decepcionado, que não pretende ser candidato, mas que não vai deixar a política. Eu disse a ele que as portas estão abertas e que voltasse mais vezes. Eu entendi que ele não se candidata, mas vai ter um candidato apoiado por ele. Ele tem a política no sangue, só que eu tenho no sangue, no coração, nos braços, na cabeça, na orelha, nos olhos...

E outro bom quadro, o vereador Vinícius Porto?

Conversei com ele também. Ele disse que aceitou o desafio de ser líder do prefeito Edvaldo Nogueira devido à estruturação do partido. Eu disse a ele que temos que pensar de agora para frente, e que tinha recebido uma missão de tentar viabilizar uma candidatura própria do DEM. Expliquei que se isso não fosse possível, estávamos abertos para conversar com quaisquer que sejam os outros candidatos. Quando Neto explicava a Gilmar, ele disse que Machado talvez fosse o único político em Sergipe que conversa com todas as áreas da política sergipana, que transita em todas as áreas. É interessante para a legenda manter Vinícius nos quadros. Um quadro como Vinícius não pode ser desprezado sem tentar mantê-lo. Ele sabe disso. Além disso, existe minha amizade pessoal por ele que eu sei que é recíproca.

Os ex-prefeitos pela legenda também estão nesse pacote?

Estou conversando. São de três a quatro conversar por dia. Eu tive uma alegria muito grande porque fui procurado pela prefeita de Gararu, Elizabeth, a esposa de Chico, que sempre foi filiado aos Democratas. Eu digo a todos que façam o que for melhor para o seu município. Se quiser vim para o partido, estamos de portas abertas. Temos uma senadora que está disposta a ajudar de alguma forma e hoje o poder de um parlamentar federal está bem diferente do meu tempo. As emendas individuais são impositivas e as de bancada também. O parlamentar hoje pode fazer muito por um município por onde foi votado e de forma especial por todo o estado.

Quem mais está no exercício de um mandato e no radar do DEM?

Umas das primeiras conversas que eu tive foi com o prefeito de Estância, Dr Gilson Andrade. Foi uma conversa muito boa e ele manifestou intenção de deixar o partido e já foi do quadro dos Democratas. Foi um imbróglio que o fez sair do partido, mas isso está superado.

Machado já trabalha também partidos que possam se somar a esse projeto majoritário do DEM?

Eu tenho conversado com Zezinho Sobral e outros tantos. Não podemos abrir o jogo porque o segredo é a alma do negócio. Quem está na oposição quer ser governo, mas tem casos que não tem jeito. Se o adversário é governo, se a pessoa for será mais um. É melhor ficar onde estar que pode ter mais notoriedade e quem sabe ganhar as eleições. Eu estou otimista. Tínhamos cinco prefeitos. Um saiu e eu estou tentando convencê-lo a rever sua posição. Depois dessa eleição, quem sabe se a gente não sai com nove prefeitos eleitos e dobramos o número de vereadores? Estaremos preparados para influir de alguma forma na eleição de 2022.

A Grande Aracaju é prioridade do partido?

Quem não pensar dessa forma está agindo de forma irracional. A Grande Aracaju tem quase a metade do eleitorado. Se somar Aracaju, São Cristóvão, Barra dos Coqueiros, Socorro e alguns municípios como Laranjeiras e Itaporanga dá metade do eleitorado. Em São Cristóvão, temos candidato que está participando de conversas que envolvem as posições para ter candidatura própria. Eu tenho dito a eles que quando a oposição se divide só favorece quem está no poder. Dou como exemplo a última eleição para governo. Estou tentado ver com algum partido em Socorro. Zé Franco manifestou intenção de ter conversa conosco e eu acredito que esta conversa vai acontecer. O fato é que as coisas não estão acontecendo acima do que eu esperava, mas está indo bem.

O nome de Machado será preservado para a eleição de 2022?

Eu não tenho intenção nenhuma de participar das eleições de 2020. Vamos ter que aguardar como o partido vai sair das eleições de 2020 e se terá condições de apresentar uma candidatura própria a deputado federal. Não existe mais coligação. O partido tem que ter quadros suficientes para garantir que vai atingir o coeficiente eleitoral e eleger pelo menos um. Tudo vai depender do trabalho. É por isso que estamos focados em quadros excelentes, pessoas de elevado espírito público e que possam de alguma forma ajudar o partido. Mais vai dar certo.

Como está acompanhando a situação difícil vivida pelo ex-governador João Alves?

Com muita preocupação e tristeza. Eu tive em Brasília no dia do seu aniversário, 3 de julho. O quadro realmente é preocupante. Ele foi cometido desse mal súbito e vai continuar seu tratamento em casa junto aos seus familiares para evitar infecção hospitalar. Quando eu olho pra ele vejo aquele homem inquieto, destemido, brilhante, portador de um espírito público invejável. Realmente era um líder. Ele não tergiversava. Quando tinha que tomar uma decisão ele tomava. Ele perdeu a eleição de 2006 para governo e, três dias depois, já estava definido que seria candidato em 2010 e percorreu o estado todo. Em 2010, ele enfrentou toda a classe política de Sergipe. Os agrupamentos que agora, em 2018, apresentaram candidatos a governo, João enfrentou todos juntos, em 2010, acrescido com agrupamento de Albano Franco. Em nenhum momento ele teve dúvida. Ele perdeu por uma diferença mínima de 70 mil votos. Eu participei junto com ele de uma posse de um vice- presidente do Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, e o empossado quando foi saudá-lo disse que ele era o governador que construiu Sergipe. Ele tinha uma capacidade de contagiar a todos. Ele não tinha hora para trabalhar por Sergipe. Por onde você anda em Aracaju enxerga obras de João. Conseguiu convencer Ernesto Geisel, através de um decreto, a doar a área que hoje é a Coroa do Meio. Era uma área da União e foi cedido para a prefeitura sem ônus. Hoje, tem 14 avenidas, escolas. As melhores escolas de Aracaju foram construídas por João. Ele tinha esse amor por Sergipe. Sua saída da Prefeitura de Aracaju, no primeiro mandato, foi apoteótica. A prefeitura era no centro da cidade e ele deixou a prefeitura e foi conduzido até sua casa, na rua Riachuelo, por mais de 400 carroceiros. Era um transporte muito utilizado, há 45 anos. Hoje, João está doente sem ter noção do que está acontecendo ao seu redor, mas está ao lado da família sendo bem tratado e com milhões de sergipanos torcendo para que ele tenha um resto de vida digno porque ele merece. Sergipe deve muito a ele. Eu me lembro de desafios que ele me encarregou de resolver. Missões impossíveis. Quando eu dizia que o problema estava resolvido ele falava que eu era um craque. A última visita que eu fiz a ele em Aracaju, num condomínio que ele morava no Mosqueiro, ele me reconheceu e disse que eu era um craque. Fiquei até emocionado.

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