Almeida acusa Gilmar Carvalho de tramar sua queda por vetar seus privilégios | Joedson Telles | F5 News - Sergipe Atualizado

Almeida acusa Gilmar Carvalho de tramar sua queda por vetar seus privilégios
Blogs e Colunas | Joedson Telles 20/05/2018 10h51

O ex-secretário de Estado da Saúde do governo Belivaldo Chagas, José Almeida Lima, afirmou, na semana passada, que o deputado estadual Gilmar Carvalho (PSC), mesmo sendo de um partido que faz oposição ao Governo do Estado, trabalhou junto ao próprio governador Belivaldo Chagas (PSD) para lhe derrubar do cargo. O motivo? Segundo Almeida, o deputado estava sendo impedido de usar a Secretaria de Saúde politicamente. “Gilmar queria ver-me pelas costas na secretaria porque atrapalhamos o projeto de captação de votos que ele tem por meio de privilégios para pessoas em detrimento de outras na rede hospitalar pública. Ele é um fura fila. Eu nunca permiti nem a ele e nem a outros que sempre quiseram ter seus privilégios”, denuncia Almeida Lima, que cita ainda outro deputado que não o queria secretário. “Deputados como Zezinho Guimarães, que gostariam de fazer da Secretaria de Saúde trampolim para seus interesses eleitorais, e tantos outros, por diversas vezes, foram ao governador Jackson Barreto pedir a minha cabeça”. Almeida ainda explica, na entrevista, a animosidade que tem com Belivaldo Chagas e o que o levou a não entregar o cargo. A entrevista:

A animosidade Almeida Lima x Belivaldo Chagas está perto de ser superada?

A animosidade esteve registrada durante os 30 dias que antecederam a minha exoneração, iniciando-se com a posse dele. No período de 30 dias, o governador entendeu que deveria me desmoralizar publicamente. Negar todo um trabalho que a população vinha enxergando de maneira satisfeita. Essa animosidade não decorre do ato em si da exoneração, mas do comportamento grotesco, mal educado do governante, que não precisava se valer da fritura por ele estabelecida para exonerar um assessor. Todo direito ele tinha de assim proceder, embora eu perceba, hoje, que ele não tinha condições políticas para fazer sem o desgaste que sofreria por conta do acerto que vinha sendo a gestão da saúde no Estado. A tática lamentável dele foi desgastar a Secretaria de Saúde e o secretário, provocando a mim indiretamente com aleivosias, impropérios, gracejos publicamente, o que não fica bem para um governante, e criando fakes para tentar convencer a opinião pública e assim proceder. Nesse período, registra-se uma ação truculenta no Hospital de Urgência tão logo ele chegou, transformando uma ação planejada para acontecer, como, de fato, aconteceu, que foi a inauguração e, oito dias depois, o funcionamento da Nefrologia, num ato, segundo palavras dele, irresponsável por parte do secretário e da Secretaria, seguido de declarações de que o secretário cometeu irresponsabilidade, ao anunciar um PSS para contratação de profissionais da saúde diante da falta de médicos e enfermeiros nas unidades. Diante da falta nas unidades, sem o fechamento das unidades, gerando desassistência, acúmulos de pacientes no HUSE, gerando um gasto de mais de R$ 3 milhões em horas extras desnecessárias. Isto, ele preferiu considerar como irresponsabilidade. O PSS demonstra a correção de um gestor que valoriza aquilo que se propõe a fazer à população. Logo a seguir foi criticado o programa Anjo da Guarda, que é a entrega de medicamentos e próteses a pacientes idosos em sua própria residência, levando dignidade a esse segmento. Por último, criou junto com seu secretário de Comunicação e o deputado Gilmar Carvalho a falsidade da paciente oncológica que foi humilhada, quando as imagens que estamos divulgando nas redes sociais mostram que ela foi bem recebida por todos nós no Centro Administrativo e que esta pessoa vem tendo a atenção merecida da Secretaria, tendo em vista que o exame que ela pleiteava já tinha sido feito dia 10 de fevereiro. Exame este que ela quis repetir através de uma requisição no dia 24 de abril. Qualquer plano de saúde, além do trabalho de verificação, considera que o exame não deve ser repetido em tempo inferior a um ano. Nenhuma perícia de plano de saúde realiza em menos de um ano, sobretudo quando checamos que a mesma paciente, últimos seis meses, havia recebido em dinheiro da secretaria o valor de R$ 553 mil em aplicações pagas no Hospital São Lucas. A animosidade, portanto, não decorre do fato puro e simples da exoneração. Isso é comum na vida pública. A animosidade foi dele que não precisava tentar desmoralizar o secretário para assim proceder. O que demonstrou foi uma falta de controle, estatura moral e política. Mostrou ser um sujeito rude, não educado, não apropriado para o cargo.

Por que o senhor acha que ele agiu dessa forma que acaba de descrever, já que o governador afirmou que tentou de todas as formas a boa convivência?

A conclusão a que eu chego é que ele já tinha definido com antecedência, antes de assumir o governo, que eu não ficaria. Como governador, ele poderia exonerar. Era um fato aceitável, mas ele não se sentiu em condições políticas para fazer. Qual a justificativa que ele daria para um setor que vinha dando certo? Quando ele tinha setores como a Segurança Pública que estava na mídia nacional negativamente. Ele demonstrou uma fraqueza enorme por não ter feito a demissão de forma imediata. Teria sido aceita sem qualquer raivinha ou coisa parecida. A própria imprensa viu a desnecessidade das expressões que ele usava permanentemente, além dos gestos. Ele nomeia um superintendente do HUSE. Quando a imprensa pergunta se informou ao secretário, ele disse que não precisava informar. Nomeia um diretor financeiro da secretaria e disse que não precisava comunicar ao secretário. Ele faz uma reunião com a direção do Hospital de Cirurgia, convoca o diretor superintendente do HUSE, a imprensa estranha a ausência do secretário, e ele diz que não precisa convocar o secretário. Ele faz uma visita de posse de um superintendente em Itabaiana e não comunica ao secretário. Ele não tentou convivência. Está mais do que caracterizado que ele buscou a minha desmoralização ou fazer por aonde eu viesse a entregar o cargo, já que condições morais ele não se sentia possuidor.

Os cargos que Almeida Lima já ocupou, principalmente o de senador da República, se destacando por presidir a Comissão do Orçamento, não o torna maior que o posto de secretária de Estado da Saúde? O que o levou a permanecer no governo, mesmo na relação azeda que o senhor mesmo descreve? Por que não entregou o cargo?

Naquele momento, eu não era uma peça na prateleira. Eu era uma peça dentro de uma engrenagem, já que quem tinha me nomeado era o então governador Jackson Barreto, pré-candidato ao Senado, e eu não deveria tomar uma decisão isoladamente. Foi quando ele me pediu que tivesse paciência. Ele fez uma viagem de descanso merecido para o exterior. Evidente que isso chegou ao desfecho de forma lamentável pela maneira como acontece. Não porque fui exonerado. A vida pública tem começo e fim e é feita de recomeço. Já tenho idade suficiente para compreender tudo isso. Eu me sacrifiquei para que não pudesse ser responsabilizado politicamente por um desfecho que viesse prejudicar politicamente Jackson Barreto. A minha preocupação maior foi quanto a questão política de Jackson Barreto com o governo, visando as eleições. Embora essa é uma avaliação que ele deva fazer. Eu não poderia ser a razão de qualquer desentendimento, tanto que preferi deixar Jackson de lado sem qualquer envolvimento nesta questão que provocou essa falta de inteligência do próprio governador em exercício.

Então, a sua exoneração atingiu Jackson Barreto?

A exoneração já estava no projeto de Belivaldo. O objetivo político e de marketing sempre foi e está sendo o de mostrar distanciamento do ex-governador. Não vejo como respingar porque Jackson foi responsável por um secretário que deu resultado e procuro, mesmo com as poucas condições materiais, fazer valer o ato de nomeação, melhorando a Saúde Pública do Estado. Embora, o atual governador não tenha tido a menor preocupação quanto a esse ganho.

A sua exoneração foi de interesse exclusivo do governador Belivaldo Chagas ou há mais pessoas, digamos, nos bastidores?

É preciso compreender que havia um desejo amplo do segmento político e de governo, exclusivamente, pela minha exoneração. Isso se deve ao olho gordo do segmento político ávido para gerenciar um orçamento de mais de R$ 1 bilhão. A Secretaria de Saúde sempre esteve como a menina dos olhos da classe política que sempre procurou fazer só para seus projetos pessoais e políticos. Não trago nenhuma novidade nesse aspecto. O compromisso que eu assumi com Jackson foi que não seria candidato e nem colocaria a secretaria a serviço de quem quer que seja. Isto não agradou a deputados de oposição e de governo.

Por exemplo?

Gilmar Carvalho, que perdeu o direito de estabelecer privilégios no HUSE e no Hospital de Cirurgia. Deputados como Zezinho Guimarães, que gostariam de fazer da Secretaria de Saúde trampolim para seus interesses eleitorais, e tantos outros, por diversas vezes, foram ao governador Jackson Barreto pedir a minha cabeça e davam como justificativa o fato de eu ter um gênero candidato a deputado estadual e ninguém nunca registrou o uso da máquina em favor dessa pessoa. O que o governador Belivaldo Chagas identificou foi que ele não poderia usar a Secretaria de Saúde como instrumento para sua reeleição. Estive em uma audiência com o governador Jackson Barreto, na companhia do secretário adjunto Luiz Eduardo Prado, presente o então vice-governador Belivaldo Chagas, presente o assessor do governo Luiz Eduardo Costa. Entre tantas discordâncias de pontos de vista entre minha equipe e Belivaldo Chagas, chegou ao ponto dele berrar na reunião e dizer que eu tinha que me preocupar como secretário da Saúde porque era um ano eleitoral e estávamos precisando de voto. Ou seja, para eu usar a secretaria de forma a buscar votos. Eu sempre disse que exerceria o cargo de secretário sem fazer uso político e sempre disse que ali era fiscalizado permanentemente em reuniões públicas com o Ministério Público Federal e eu não iria agir de outra forma. A minha demissão estava marcada para acontecer. Como ele não se sentiu confortável para fazer no primeiro dia de governo foi ao desgaste para fazer 30 dias depois.

O senhor citou o nome do deputado Gilmar Carvalho numa suposta trama para lhe desgastar e exonerar. Mas Gilmar não é da oposição?

Há os interesses... Neste momento, os interesses convergiram. Gilmar queria ver-me pelas costas na secretaria porque atrapalhamos o projeto de captação de votos que ele tem por meio de privilégios para pessoas em detrimento de outras na rede hospitalar pública. Ele não concorda com a regularização de leitos e centros cirúrgicos porque leva em conta a situação do paciente. Pacientes mais agravados têm mais prioridade do que outros, e ele sempre trabalhou para furar fila. Ele é um fura fila. Eu nunca permiti nem a ele e nem a outros que sempre quiseram ter seus privilégios.

Existe uma animosidade Almeida x Gilmar por conta da demissão de Gilmar da Rádio Liberdade?

Gilmar é um homem que vive a comer o próprio fígado diariamente. Nem me lembro mais disso. O tempo já tirou da minha mente. Só em pessoas rancorosas e mal resolvidas tipo essas almas penadas que existem esses sentimentos. Eu sou uma pessoa de bem com a vida. Sempre admitir o recomeço como estou fazendo agora.

O senhor vê Jackson com chances de vitória, no pleito de 2018?
Diante de todas as pré-candidaturas postas, Jackson é o único nome que se trata de um verdadeiro estadista. Seria a desgraça de Sergipe, se o governador dos últimos quatro anos, não tivesse sido ele para superar a crise que ele conseguiu superar. Sergipe hoje estaria num patamar bem maior de dificuldade. Nenhum dos outros nomes tem a estatura política de Jackson Barreto.

Os recursos anunciados por André Moura não fazem diferença?

Fazem. Mas teremos a eleição de dois nomes. André poderá ser naturalmente o segundo nome. Acho até que Sergipe não merece ter o senador Valadares por um quarto mandato. Ele já disse a que veio nos últimos três mandatos? A nada. Logo não vejo maiores dificuldades para Jackson. Trata-se de uma eleição majoritária na qual o candidato vai ser avaliado pelo conjunto da sua obra. O conjunto da obra realizada por Jackson Barreto é bem mais brilhante do que qualquer um dos outros, sem desmerecer ninguém. Meu palpite é Jackson. Teremos uma segunda opção para o Senado, que vai se descortinando aos poucos.

E para governador? Qual a sua aposta?

Já afirmei que serei contra Belivaldo. Não pela demissão em si, mas pelo que ele representa para Sergipe. Acho que determinadas lideranças políticas ainda poderiam trabalhar uma alternativa que considero viável politicamente e que seria bom para o estado. A pré-candidatura de Eliane Aquino ao governo de Sergipe. Acho que ela poderia ser a candidata agregando outras forças. Caso isso não ocorra, teremos que ver alternativas, a exemplo de Eduardo Amorim, Mendonça Prado, Dr. Emerson.

Almeida Lima pode voltar a disputar cargo público?

Não tenho nenhuma pretensão, mas também não me considero aposentado. Eu estou em firma e vamos dar tempo a vida. Estou reaprendendo a viver um pouco do ósseo. Leituras, passeios, cultura física, relax aí lado da minha neta, cinema... Porque há mais de 12 anos que não sei o que é tirar férias.

Terá tempo para a campanha do genro...

Não tenham dúvida. Principalmente, agora com o tempo integral, como também para esclarecer a opinião pública o que esse rapaz (Belivaldo) representa de ruim a Sergipe. A bandeira contra Belivaldo está bem hasteada. Como disse e repito: Deus nos livre de um mandato de quatro anos de uma figura como esta.

P.S. Este espaço está à disposição de todas as pessoas citadas pelo ex-secretário de Saúde Almeida Lima para divulgar o chamado direito de resposta se, assim, elas entenderem necessário.

 

Mais Notícias de Joedson Telles
16/11/2021  07h15 "Não vou procurar outro caminho", diz Laércio
Bolsonaro não tem preparo, avalia cientista político
11/10/2021  09h08 Bolsonaro não tem preparo, avalia cientista político
26/09/2021  09h05 "A OAB/SE permaneceu inerte quando os advogados mais precisaram de proteção"
12/09/2021  08h42 "Vou para vencer", afirma Valmir de Francisquinho sobre 2022
22/08/2021  08h03 "Valmir é o melhor político de Sergipe", diz Adailton Sousa

Blogs e Colunas
Joedson Telles
Joedson Telles

Joedson Telles é um jornalista sergipano formado pela Universidade Federal de Sergipe e especializado em política. Exerceu a função de repórter nos jornais Cinform, Correio de Sergipe e Jornal da Cidade. Fundou e edita, há nove anos, o site Universo Político e é colunista político do site F5 News.

E-mail: joedsontelles@gmail.com

O conteúdo e opiniões expressas neste espaço são de responsabilidade exclusiva do seu autor e não representam a opinião deste site.

F5 News Copyright © 2010-2024 F5 News - Sergipe Atualizado