“Sem dinheiro, muita coisa não avança”, diz Goretti sobre a gestão Belivaldo | Joedson Telles | F5 News - Sergipe Atualizado

“Sem dinheiro, muita coisa não avança”, diz Goretti sobre a gestão Belivaldo
Blogs e Colunas | Joedson Telles 18/03/2019 05h43 - Atualizado em 18/03/2019 05h56

A deputada estadual Goretti Reis (PSD), ao comentar a ida do governador Belivaldo Chagas (PSD) à Assembleia Legislativa, na próxima quinta-feira, dia 21, expor a situação financeira do Estado para os deputados, avaliou o tema como o grande entrave da gestão. A deputada, no entanto, salienta ser nítida a sensibilidade de Belivaldo para organizar os espaços de gestão em todas as áreas. “Coloca a educação como prioridade, mas sabemos que sem dinheiro, muita coisa não avança. Então, precisa de equipes proativas, empreendedoras, que façam um bom planejamento. Com pouco, o que é que se pode fazer?”, indaga Goretti Reis. “Talvez priorizar as demandas de maior anseio da sociedade.” A entrevista:

A senhora apresentou, na semana passada, um Projeto de Lei que dispõe sobre a reserva de vagas de empregos para mulheres vítimas de violência doméstica e familiar em empresas que prestam serviços ao Governo do Estado. A ideia é dar independência à mulher agredida, que, normalmente, depende financeiramente do agressor?

O objetivo é fazer com que as mulheres, que estão sob medidas protetivas, tenham a garantia da sua sustentabilidade, da sua independência e da sua autonomia. E até a valorização da sua autoestima. Essa vítima saber que por si própria poderá se manter e criar seus filhos sem depender financeiramente do agressor. A preocupação principal é a de como ficarão seus filhos ao deixar seu companheiro. Vem a pergunta: vou viver como? Porque sabemos que esse é um grande impeditivo para denunciar. Então, sabendo que tem essa lei, a mulher saberá que contará também com o poder público para ajudá-la no acesso ao mercado de trabalho, para a sua sobrevivência. Sem uma renda própria, com a aprovação e viabilização desse projeto, pelo menos contará com essa garantia das empresas terceirizadas. É e uma portabilidade para uma independência. Uma sobrevivência.

Há um incentivo muito grande para que as mulheres agredidas denunciem o agressor. Mas não é preciso também garantir, na prática, que a mulher que vai a uma delegacia prestar uma queixa tenha totais garantias que não sofrerá uma nova agressão "por vingança"?

Isso é verdade. Essa questão de vitimizar a mulher, muitas vezes, acontece dentro do próprio sistema público. No memento da abordagem, como ele é feito? O acolhimento na delegacia. A própria estrutura não ajuda, porque, na maioria das vezes, é formada por homens. E pior: muitas das vezes com perfil machista, que a leva a crer ser a culpada pela agressão. O que, infelizmente, faz com que a mulher, se sentindo ofendida, não faça a denúncia. Então, o que é que a gente está construindo nessa Rede de Assistência à Mulher? A Ronda Maria da Penha já é uma realidade em Estância, é uma possibilidade para que as mulheres que estão com medidas protetivas se sintam amparadas e seguras pelo poder público. Então, essa vingança, de depois voltar para matá-la não acontecerá. É preciso que essa Rede trabalhe integrada. Não adianta só o Poder Judiciário punir o autor da agressão, e sim os outros órgãos envolvidos também serem sensibilizados. Hoje, a Casa Abrigo, também uma indicação minha, já é realidade, assim como a Ronda. Hoje, as delegacias já funcionam nos finais de semanas, uma solicitação da Frente Parlamentar em Defesa das Mulheres, a qual sou presidente. Hoje, contamos com um melhor acolhimento da Polícia Militar. Então, vai-se criando uma estrutura, um mecanismo que vai possibilitando que a mulher se senta protegida. Infelizmente, o número de feminicídio aumentou significativamente, o que é vergonhoso. Mas, se o poder público der mais estrutura para punir o agressor, eles vão pensar duas vezes antes das agressões. Não podem punir com pagamento de cestas básicas, é insignificante diante das barbaridades que cometeram, muitas das vezes contra a mãe de seus filhos. Com certeza voltará a espancá-la. Hoje, ele é preso e se insistir em se aproximar, em agredir responderá a outro processo, as penalidades são mais efetivas. Outro ponto que também precisa ser trabalhado, outro projeto de minha autoria, é o acompanhamento e tratamento do agressor em grupos de socialização com apoio de psicólogos. Essa reeducação tem dado certo, inclusive com redução de reincidência em agressões a mulher. Foi matéria de nível nacional, a experiência em 2012, em Lagarto, e mostrou que é possível. Aqui em Aracaju temos a parceria do Tribunal de Justiça com a Faculdade de Sergipe (Fase). Já se percebe que esses homens que passaram por esses grupos de apoio mudaram suas condutas. Tudo passa por um processo educacional. A educação é a base de tudo, além da construção dos parâmetros de família, muitas vezes ausente que permite que o filho participe de um jogo de violência que se é premiado por matar mais. O que acaba sendo para essas crianças algo normal. É preciso reconstruir a família.

Além da violência física, qual a grande grita das mulheres que chega à deputada estadual Goretti Reis? Outras formas de machismo?

A grande grita que a gente ainda vê das mulheres? A misoginia. Às vezes, os próprios meios de comunicação tratam a mulher como um termo pejorativo e vulgar. Precisamos ter essa sensibilidade na hora até de falar, de fazer uma matéria, de falar sobre a questão da mulher. A gente ainda vê muito, mulheres desenvolvendo as mesmas atividades que homens com salários diferenciados. Com a aprovação do Senado Federal, no último dia 13, isso não poderá acontecer porque o projeto prevê multas para as empresas e empregadores que não pagarem salários iguais a mulheres e homens que desempenhem a mesma função. As mulheres têm um nível de gerência bem maior, mas na prática, na hora da remuneração é diferenciado, além de poucas chegarem aos cargos majoritários, como presidência, secretárias, ministra, próprio cargo de deputada. Precisamos de leis para que se tenha a tão sonhada igualdade de gênero. Temos muitas áreas de atuação com puro machismo. A mulher ainda é vista como incapaz. Quando se vê uma mulher policial, ainda se escuta: “nossa, uma mulher? Como? Pra Que?”. Machismo e preconceito são muito presentes. Muito já fizemos e conquistamos, mas vamos andar muito ainda para conseguir realmente igualdade.

O governador Belivaldo Chagas anunciou que vai à Assembleia Legislativa, no próximo dia 21, expor a preocupante situação financeira do Estado para os deputados. Ele tem feito apelos para somar forças no sentido de vencer a crise. Como o Poder Legislativo pode se somar à causa?

É realmente o grande entrave, hoje, da gestão do governador. É nítida a sensibilidade dele para organizar os espaços de gestão em todas as áreas. Coloca a educação como prioridade, mas sabemos que sem dinheiro, muita coisa não avança. Então, precisa de equipes proativas, empreendedoras, que façam um bom planejamento. Com pouco, o que é que se pode fazer? Talvez priorizar as demandas de maior anseio da sociedade e dar visibilidade. A questão dos servidores é uma polêmica a enfrentar. Essa crise não é de agora. Já vem ao longo do tempo, e não é só Sergipe: é nacional. Tem até ranking com esses dados. Como se vê, o Rio de janeiro e o Rio grande do Sul estão vivendo as maiores crises. Em termos de não conseguir arcar com as despesas do Estado, vi um gráfico recente, se não me engano, só o Espírito Santo está em melhor equilíbrio financeiro. Os demais estão realmente passando por diversas dificuldades. Uns em maior índice, outros menores. Mas Sergipe também está lá dentro da média de riscos em relação ao equilíbrio financeiro. Não é fácil administrar. Tenho certeza que o governador está buscando alternativas e colocando técnicos em cada área para tentar viabilizar a administração. Às vezes, algumas leis que vem a essa Casa se tornam antisociais, mas que são importantes para, de repente, viabilizar uma folha de pagamentos dos servidores. Veja que ele tentou antecipar os royalties do petróleo e não conseguiu porque os bancos não quiseram fazer os empréstimos antecipados. Então, dificulta. Os aposentados não receberam dentro do mês, assim como os servidores. Tem o reajuste que não acontece. Mas tenho certeza de que isso não é uma coisa que satisfaz o governador. Ele, com certeza, gostaria de poder pagar em dia e dar o reajuste e o equilíbrio de anos que os servidores tiveram. Já diminuiu o número de secretarias, de diretorias, já foi uma forma de otimizar mais recursos dentro das despesas do Estado. Fala-se no momento em relação a decretar falência do Estado. É preciso analisar, não sou da área econômica, mas é importante que quem entenda avalie os prós e os contras dessa falência para Sergipe. Não devemos, aqui nessa Casa, nos posicionar como oposição é oposição, situação é situação. Um do amém, outro do contra. É preciso contribuir, colaborar para se sair desse momento de crise, assim ganham todos.

Como a senhora avalia a prisão do prefeito de Lagarto, Valmir Monteiro?

Vergonhoso para Lagarto e para nosso estado. Saber que o prefeito de Lagarto, Valmir Monteiro, foi preso? É a primeira vez que o município vive isso. E por toda uma situação que, a gente não quer acusar por acusar, mas os próprios órgãos de controle que acompanham estão sinalizando e pontuando irregularidades dentro da gestão do município. O que nos deixa triste é saber que ele teve uma votação significativa, a população confiou nele. Em outra administração, já tinha sido reprovado. Quando não se reelegeu, há alguns anos, o povo não concordava com sua gestão. Mas diante da insatisfação com outro prefeito, a população resolveu trazer Valmir de volta e, infelizmente, causou essa grande decepção ao povo lagartense. Isso tudo só faz com que o desenvolvimento fique estagnado com tantas mudanças de quem senta na cadeira de prefeito. Assume a vice. Daqui a pouco sai a vice, volta novamente o prefeito, volta pro vice de novo. E essa troca de equipe acaba comprometendo toda a gestão. Isso não é bom pra o município. Lamentável.

Pelo que a senhora sente nas ruas, é possível avaliar se a maior parte da população do município acredita na inocência do prefeito?

Não sei quem acredita ou não. É lógico têm aqueles seguidores do prefeito que ele pode fazer o que for e vão achar que foi injustiçado, é um grupo pequeno. A grande maioria da população, realmente, critica. Tive a oportunidade de ir ao mercado e ouvi os feirantes e as pessoas da comunidade. Muita gente comenta que “é uma vergonha pra Lagarto”; “ruim pra gente”; “como é que o prefeito faz isso? Que decepção”. E não acreditam, realmente, na inocência. Eu não estou aqui julgando, até porque não faço parte do Poder Judiciário, e não quero condenar, porque tem aquele pré-requisito que se diz: “até que se prove o contrário, você é declarado inocente”. Então, que ele encontre os mecanismos de provas de sua inocência, senão, vai prevalecer o que o Ministério Público já tenha apurado.

A senhora pensa mesmo em disputar a Prefeitura de Lagarto, nas próximas eleições? Já há conversas?

Hum, gostei da conversa. Conversas com grupos, ainda não. O que tem acontecido é que grande parte dos eleitores e dos amigos estão nos estimulando, instigando para que possamos participar como pré-candidata à gestão do município de Lagarto. Isso por conta de todo o histórico de credibilidade, pelo histórico do perfil da deputada Goretti Reis. Trabalhos já mostrados, em especial, na área de saúde, nosso compromisso, responsabilidade, respeito e seriedade, muito parecidos com meu pai, Artur Reis, homem de palavra e do “sim sim e não não”. Então, o povo avalia isso como uma boa gestora e que poderia ser muito bom para o município. Isso tem sido realmente um estimulo. Agora, se realmente eu penso em ser? Tem aquela história que eu aprendi com um amigo em Lagarto: “o povo bota, o povo tira”. Então, o povo é que sabe realmente aonde cada um deve estar. Estamos aí pra ouvir. Agora, conversas com agrupamentos, se já defini, ou bati o martelo, isso ainda não aconteceu.

Quais as principais demandas, hoje, do município de Lagarto?

Lagarto tem tido a necessidade de se trabalhar a questão da infraestrutura. Tivemos um problema sério na rede de esgotos do município. A empresa que fez o trabalho, infelizmente, tem contribuído para deixar a cidade muito irregular no nível do calçamento. As pessoas têm clamado por isso. Asfaltar ou arrumar todo o calçamento daquela região. Lagarto, hoje, tem necessidade de ter ampliação de alguns serviços de pronto atendimento. Os moradores da Colônia 13, uma região grande, cobram o funcionamento do 24 Horas que foi fechado. Precisam do abastecimento de água regular. Isso é um problema sério no município. Sempre procuramos os órgãos responsáveis para amenizar o sofrimento da população em relação à questão hídrica. Lagarto, ainda vemos com um grande poder de formação com as escolas e as universidades que lá estão. É preciso trabalhar a questão da educação. É preciso estudar formas de aproveitar essas instituições de ensino, no município, para se fazer parcerias com o poder público municipal. Seja na questão da violência doméstica, na questão de atendimentos de primeiros socorros. Oportunizar mudanças de hábitos e auxiliar a comunidade para um melhor aproveitamento do solo, do preparo e no tratar essa terra. Tem a questão da agricultura e da sustentabilidade. Trabalho de aproveitamento também na área de saúde, já que a faculdade tem potencial para isso. Tudo passa pela visão de quem está à frente da gestão e de que forma pode aproveitar esses potenciais que tem na cidade. A universidade se coloca à disposição o tempo todo. É preciso saber reverter isso em benefício para a comunidade. Lagarto está vivendo um verdadeiro desmando. Faltam medicamentos, merenda sem qualidade, além do péssimo transporte para os alunos. São necessidades de melhorar a cidade como um todo. De repente é um grupo de doceiras ou de artesanato que você pode estar fazendo feirinhas e contribuir com a venda desses produtos para as comunidades.

Já é possível avaliar se há muita diferença entre as gestões Valmir Monteiro e Hilda Ribeiro? O que a deputada espera desta nova fase da Prefeitura de Lagarto?

Não. Está muito recente - e ainda está nesse retira um e bota o outro. Não dá para avaliar se há diferença. A diferença que se vê, dita pelo povo, é em relação ao perfil da Hilda. É uma pessoa que não tem o nome queimado, sujo dentro da política. Está em seu primeiro mandato. Já tem um fator positivo em relação a Valmir que está completamente sem credibilidade perante a comunidade. Essa é a única diferença. É uma fase instável. Ainda não está definido que Valmir não retorna. Isso é ruim para o município e para a prefeita que lá está. Ela não sabe até que ponto pode planejar e executar ou concluir. Com isso quem, infelizmente, perde é Lagarto. Fruto de escolhas erradas feitas pela própria população. Isso paralisa o desenvolvimento. É obra parada por toda parte. Até para a nova equipe se planejar e reprogramar as atividades fica difícil. Fase ruim para o município. Espero que se defina essa situação, e se a prefeita permanecer, que, realmente, arrume e organize a cidade.

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Joedson Telles é um jornalista sergipano formado pela Universidade Federal de Sergipe e especializado em política. Exerceu a função de repórter nos jornais Cinform, Correio de Sergipe e Jornal da Cidade. Fundou e edita, há nove anos, o site Universo Político e é colunista político do site F5 News.

E-mail: joedsontelles@gmail.com

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