O grito de socorro, o tiro e a vida que segue | Marcio Rocha | F5 News - Sergipe Atualizado

O grito de socorro, o tiro e a vida que segue
Blogs e Colunas | Marcio Rocha 06/07/2019 06h05

Vida que segue... após a tragédia acontecida na manhã de quinta-feira ficam várias lições que devem ser colocadas em prática pelos governantes, empresários, trabalhadores, todos de mãos dadas para evitar a perda de novas vidas decorrentes do suicídio por causa da depressão, da sensação de impotência e dos problemas que as turbulências econômicas desencadeiam. O grito de socorro do empresário Sadi Gitz, que cometeu o ato extremado de tirar a própria vida diante de uma plateia de mais de 500 pessoas é o máximo do ressoar de uma classe que pede incessantemente para não morrer, a classe empresarial.

 

A carga tributária executada sobre os custos da produção industrial, os impostos que a população paga diretamente, mesmo sem ter completo conhecimento do que compõe o preço dos produtos consumidos e a falta de ação dos governos em plural, pois todos são responsáveis pelos custos que são embutidos na produção, levaram a um grito de socorro que foi calado com um tiro dado contra a voz que representou toda uma população. A morte de Sadi é a dissonância que ninguém quer ouvir em vida. E isso serve como um exemplo de que urge haver uma mudança no modo como as empresas são tratadas no estado e no país. Sufocados pelos impostos exageradamente cobrados, considerando que o Brasil é um país com altíssima carga tributária, os cidadãos brasileiros suportam, mas não conseguem emitir um grito de socorro, pedindo para que tenham condições de operar, no caso das empresas, e laborar, para os trabalhadores. É duro e difícil aceitar que uma pessoa tirou sua vida para chamar a atenção para problemas que são corriqueiros para tantas outras, também desesperançosas com o quadro econômico que vivemos atualmente.

 

Quantos trabalhadores, quantos desempregados, quantos empresários tiraram suas vidas por consequência da ausência de emprego? O empresário é um trabalhador como nós, que tem a missão de gerar trabalho para outras pessoas que fomentam a economia por meio do consumo, gerando trabalho para outras empresas e outros trabalhadores. Assim funciona a cadeia produtiva da sociedade em que vivemos.

 

Esse grito de socorro calado com um tiro não pode ser abafado. Sadi fez de maneira extremada o que muitos empreendedores têm vontade de fazer e não conseguem, até mesmo por não suportarem as consequências desse tipo de ato em um estado predominantemente político como o nosso. Os empresários precisam ser ouvidos e socorridos na intenção de manter os seus negócios. Ninguém quer ficar sem pagar impostos ou insumos não, apenas querem ter uma carga tributária justa para que os mesmos recursos que são aplicados nos cofres públicos em forma de impostos, continuem os alimentando, mas no formato de tributação sobre elevação de consumo por meio da criação de novas oportunidades de emprego. Reduzir impostos significa aumentar investimentos, pois as empresas querem crescer e se expandir.

 

Vida que segue... Infelizmente a frase faz completo sentido, pois nenhum de nós irá parar de produzir, de criar novas oportunidades para as pessoas, para os trabalhadores, para o próprio estado. Todavia, não cabe julgar um homem que estava emocionalmente abalado com o que aconteceu, tentando criminalizá-lo pelo fatídico incidente com um homem que será lembrado como um mártir da classe empresarial sergipana e brasileira. Vida que segue porque não queremos que mais pessoas, seja o José, o Antônio, o João, a Francisca, a Maria, tantas outras pessoas que amargam o desemprego ou a impotência de manter os empreendimentos em funcionamento para gerar mais empregos para nosso povo. É isso que precisamos, é isso que devemos fazer, é isso que devemos pensar para que não somente Sergipe, mas o Brasil também, saia dessa condição de catatonia e possa atender as clivagens dos setores de atividade econômica. Esse é o terceiro suicídio de pessoa conhecida que acompanho somente neste ano, um era um trabalhador com mais de 20 anos de atividade que tirou a própria vida por não conseguir se recolocar no mercado de trabalho, uma foi vítima de uma desilusão amorosa e o terceiro e mais assustador de todos, devido à circunstância em que ocorreu, de um empresário que queria apenas a oportunidade de ter como ajudar o primeiro citado a não cometer tal ato.

 

O STOP (Supremo Tribunal da Opinião Pública) não poderia fazer o que tem feito desde quinta-feira. Julgar um homem que teve um momento de perda da razão e tirou a própria vida, mas foi lúcido para não atentar contra ninguém antes, o que mostra que sua dor era extrema e ele sofreu sozinho. Também não se pode condenar um gestor público que em estado de choque, se pronunciou com coragem sobre o incidente menos de dois minutos depois do ocorrido. Todos que lá estivemos presentes, estávamos sob a incidência do estresse traumático do momento, ninguém tinha visto algo tão surreal em sua vida, as reações foram as mais diversas, decorrentes do pânico que se criou. Morre e nasce gente alternadamente, choramos mortes, plantamos vidas. Vida que segue... infelizmente.

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Marcio Rocha é jornalista formado pela UNIT, radialista formado pela UFS e economista formado pela Estácio, especialista em jornalismo econômico e empresarial, especialista em Empreendedorismo pela Universitat de Barcelona, MBA em Assessoria Executiva pela Uninter, com experiência de 23 anos na comunicação sergipana, em rádio, impresso, televisão, online e assessoria de imprensa.

E-mail: jornalistamarciorocha@live.com

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