Especialista sergipana fala sobre desafios no diagnóstico e tratamento de TDAH | F5 News - Sergipe Atualizado

Especialista sergipana fala sobre desafios no diagnóstico e tratamento de TDAH
Segundo ela, se observa exagero na medicalização do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
Cotidiano | Por Monica Pinto 17/11/2018 10h25


O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um dos distúrbios mais diagnosticados em crianças hoje, mas, conforme o pediatra Eduardo Goldenstein, doutor em Psicologia Clínica e membro do Departamento de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), em artigo para a revista Saúde, alguns estudiosos do assunto negam sua existência, alegando que até o presente momento não se conseguiu determinar a área do cérebro comprometida pelo problema, nem os genes diretamente envolvidos com o seu surgimento.

“Creem esses estudiosos que crianças e adolescentes saudáveis que apresentam dificuldades no processo de escolarização estão sendo rotuladas indevidamente como portadoras de supostas doenças neurológicas, sobretudo o TDAH, numa clara medicalização dos processos de aprendizagem e desenvolvimento”, escreveu ele.

F5 News conversou com a psicopedagoga e arteterapeuta Vânia Clareto sobre os desafios relacionados ao TDAH, na entrevista a seguir.

F5 News - A senhora concorda que há um exagero no diagnóstico do transtorno e na subsequente prescrição de medicamentos?

Vânia Clareto – Concordo, sim. Tudo hoje é TDAH, a gente está criando uma geração de crianças e adolescentes que não sabem ouvir um “não”. Muitas vezes a culpa é nossa mesmo, que corre demais, trabalha o dia todo fora, aí chega em casa, o filho quer as coisas, já que passou o dia todo fora de casa aproveita e não dá o “não” que o filho poderia ou precisaria ouvir. Eles já sabem direitinho fazer birra, ser opositor, faz com que os pais abram a guarda e deem aquilo que eles querem. E com isso vai sendo muito medicalizado, diagnosticado principalmente com o TDAH e o TEA - Transtorno do Espectro Autista. Hoje em dia está bem complicado conseguir fechar esses diagnósticos, eu sempre coloco que o ideal seria a gente conseguir aguardar para fechar diagnóstico.

F5 News – O que deveria ser feito para ter mais segurança nesse diagnóstico?

Vânia - Esperar a criança estar mais velha, antes de dizer que tem TDAH, trabalhar a questão de limites, trabalhar um pouco a questão da frustração, para que não haja tanta birra, tanto surto, como colocam. “Ah, a criança surtou”, muitas vezes é uma birra muito bem feita e realmente está sendo diagnosticado muito cedo. É complicado esse tipo de diagnóstico. Enquanto psicopedagoga, consigo muito bem identificar, mas não sou eu que bato o martelo, a gente trabalha sempre com os médicos e com uma equipe multidisciplinar para poder fechar o diagnóstico. A medicalização tem vindo forte, está sendo muito usada a medicação para o TDAH, que vai trabalhar foco, vai trabalhar uma quietude da mente, para que possam ter um tempo maior de foco e concentração e, com isso, aprender mais facilmente.

F5 News - Como os pais podem discernir entre a agitação coerente com a vitalidade e as curiosidades da infância e o ponto em que esse quadro deixaria de ser saudável, passando a demandar investigação mais criteriosa?

Vânia - Uma coisa que ajuda muito a fechar o diagnóstico é como essa criança é vista nos espaços, no meio familiar. Se ela é vista como uma criança impossível, que não dá conta, se não cumpre regras, se é uma criança que não consegue lidar com as outras da mesma idade, se é uma criança que começa as coisas e não termina. Essa é uma grande característica de TDAH: começa e tem muita dificuldade de terminar. A gente faz um levantamento também dessa criança na escola, no ambiente escolar, como ela é vista pelos professores, pelos colegas; se é uma criança que consegue ter um amigo, dois, ou se não consegue agregar; se é uma criança líder, que é levada ou que leva os outros. Isso tudo é bastante avaliado, e também em outros espaços que essa criança frequenta. Se frequenta alguma religião, como ela é vista junto a outros grupos, se faz inglês, se faz balé, natação, futebol, a gente procura buscar o relato de todas as pessoas que lidam com essa criança ou adolescente, para realmente poder fechar um diagnóstico mais preciso

F5 News - A medicação é sempre recomendada, ou o tratamento terapêutico pode isoladamente surtir bons resultados?

Vânia - Em relação à medicação, tem sido bastante complicado. Para um TDAH, ela pode ser, em alguns casos, imprescindível, mas aí acaba sendo banalizada porque a medicação agora tá sendo usada por pessoas que querem fazer concurso, que querem manter mais um pouco o foco, por pessoas que estão um pouco mais cansadas e querem estudar até mais tarde - quer dizer, se tira o objetivo específico da medicação e a banaliza. isso tem acontecido muito com a Ritalina, que é a medicação praxe que se passa normalmente para a criança ou adolescente com TDAH, porque ajuda muito no foco, por isso hoje é conhecida como a “medicação da aprendizagem” ou a “medicação do estudante”. Infelizmente quem não tem necessidade tem usado e aí tira um pouco de foco, o para quê ela foi criada. Existem casos em que não adianta o acompanhamento terapêutico isolado, que tem que ter o acompanhamento medicamentoso. Aí a gente está falando de casos mais complicados, de meninos que não conseguem manter foco, de meninos que não conseguem se organizar para iniciar qualquer atividade. Então, com a medicação existe uma calma no pensamento, corta o pensamento insistente e o foco fica mais fácil e mais prolongado o tempo de foco de concentração. Porém não adianta só a medicação. Só tratamento medicamentoso, sem o acompanhamento terapêutico, é difícil surtir efeito e, em alguns casos, o contrário também. Hoje em dia a gente vem procurando trabalhar com áreas onde a medicação é mais leve, com menos risco de efeitos colaterais.

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