Atravessar não é superar | Amanda Neuman | F5 News - Sergipe Atualizado

Atravessar não é superar
Blogs e Colunas | Amanda Neuman 07/08/2022 18h00

Quantas situações difíceis você já atravessou? Se você pensou em tantas que não poderia mencionar aqui, você é uma pessoa normal. Mas se eu perguntasse quantas dessas situações você superou, talvez a certeza de uma quantidade infinita não fosse tão firme assim. É que passar pelas coisas não significa vencê-las, sobreviver às situações não significa viver além delas. 

Um dia desses senti uma dor que não superei, só atravessei. E, olha, eu nunca tinha percebido. A gente se acostuma a viver com os acontecimentos da jornada, passa por eles, segue em frente, vai direto e vive como se estivesse tudo bem. A gente não olha pra baixo, finge que o joelho não está sangrando, porque é como se acreditar que não está doendo fizesse doer menos. Seria tão bom se as mensagens de autoajuda funcionassem nessas horas como a gente queria que funcionassem. Mas machucados não tratados inflamam, doem até mais do que deveriam e, mais cedo ou mais tarde, precisarão ser vistos com atenção.

Eu me decepcionei. Me decepcionei tanto que tudo que eu queria era acreditar que não tinha depositado tantas expectativas em alguém que nunca me pediu isso, alguém que não tinha pedido minhas expectativas e que era humana como eu, podendo errar e me frustrar a qualquer momento. Então, ao me sentir enganada, também me senti profundamente ferida. Meus joelhos sangraram tanto que eu nem quis olhar pra eles. Acreditei naquela história de que se os olhos não vissem, o coração não sentiria. Levantei e atravessei.

Atravessei aquela situação por muito tempo, muito tempo mesmo. Até que um dia, ao ver de relance um vulto que lembrava o que me feriu, a ferida inflamada voltou a sangrar. Os joelhos arrebentaram como se eu tivesse acabado de cair, os anos desde a queda pareceram segundos e tudo doeu de novo. Então percebi que eu não tinha superado, eu só tinha atravessado. E como dói não superar!

Doeu tanto que não havia mais a possibilidade de ignorar a dor. Eu não queria sobreviver, eu precisava viver além da situação. Tratar a ferida é colocar um remédio que tem diversos nomes: perdão, bondade, paciência, domínio próprio. Feridas não cicatrizam rápido, eu sei. O coração treme quando sei que aquele vulto pode passar por mim novamente, ou até o que me feriu pode passar por mim de novo, mas aqui estarei: colocando todo dia mais remédio na ferida. Estarei superando – no gerúndio mesmo. Porque superar é um processo na travessia até chegar do outro lado quando a ferida vira cicatriz, a gente olha pra ela, mas não dói mais. Aí, sim, terei certeza que atravessei e superei. 

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Amanda Neuman

Jornalista (UNIT) há 10 anos, mestra em Comunicação (UFS), doutoranda em Sociologia (UFS), pesquisadora na área de redes sociais e influenciadores digitais, e mentora de marketing para empreendedores e Influenciadores. Na internet, como mulher plus size que descobriu o amor próprio e auto estima além dos padrões, compartilha sua vida e vivências com outras mulheres e as encoraja a se amarem como são.

E-mail: amandaneuman.an@gmail.com

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