Fazer planos faz parte de quem sou. Eu já tentei ser diferente e deixar rolar, mas não há outra forma: eu sou, definitivamente, uma pessoa que faz planos. Quem acredita em astrologia vai dizer que é meu signo, mas a terapia me fez entender que é porque tenho uma necessidade íntima de me sentir no controle de tudo. Grande ilusão! Se tem algo nessa vida que aprendi que é impossível ter, isso é o controle de todas as situações. Aprendizado dolorido, confesso, mas o responsável por trazer consigo o entendimento de duas coisas essenciais: precisar controlar tudo é falta de fé e me sentir no controle faz com que eu não desfrute do corredor.

Sobre o tal ‘corredor’ é que tenho pensado muito nos últimos dias. 

Eu quero coisas muito específicas na minha vida e, embora me esforce para cada vez fazer menos planos a longo prazo, eu sei onde quero chegar. Mais que isso, eu entendo as portas que precisam ser abertas pra que eu chegue onde eu quero chegar. Isso envolve tudo. Envolve o que desejo para todas as mulheres que sou: a mulher-esposa, a mulher-mãe, a mulher-profissional, a mulher-pesquisadora, e todas as outras que, acredite, eu ainda posso ser.

Perceber, porém, que não dá pra viver esperando que sejam abertas portas específicas – e determinadas, muitas vezes, por mim mesma – fez a diferença no aprendizado de desfrutar do processo. O processo é o corredor. A jornada é o corredor. O corredor é o caminho que preciso percorrer enquanto a porta não se abre. Se eu não desfrutar do corredor, o tempo de espera até a porta ser escancarada será dispendioso demais, cansativo demais. E se tem algo que eu, sinceramente, não aguento mais me sentir é cansada. 

Não viver cada fase do processo, não saborear as delícias da jornada, faz a porta parecer mais e mais distante. É como viajar de ônibus por longas horas com as cortinas da janela fechadas. Quando o destino chegar, você estará lá, mas não lembra por onde passou. Foi por isso que me habituei a dizer que ‘estou no terceiro ano de quatro anos do doutorado’ ao invés de dizer ‘falta um ano pra eu terminar o doutorado’. Entende a diferença? Eu prefiro valorizar o quanto já caminhei, não focar no quanto ainda falto caminhar.

Queria eu que na vida as coisas fossem mais práticas, mais rápidas e menos trabalhosas. Tenho certeza que você também queria. Entender, contudo, que a forma como caminho determina meu estado emocional na chegada muda a percepção que eu tenho do processo. Eu não quero chegar lá tão exausta de caminhar que nem forças pra abrir a porta eu terei. Eu não quero chegar em frente à porta tão desesperada que não consiga passar pela cerimônia de cortar a fita e inaugurar com êxito minha oportunidade. Eu quero chegar sorrindo, virar a chave, abrir a porta calmamente, entrar com o pé direito, respirar fundo e me preparar para o caminho até a próxima porta. Enquanto a porta não se abre, desfrute do corredor porque nenhuma porta será a última e nenhum processo será o fim.