Vivemos num conto de fadas!
Blogs e Colunas | Clarisse de Almeida 21/10/2019 20h27 - Atualizado em 21/10/2019 21h52Que veneno poderoso nos adormeceu a todos, encastelados em nossa ignorância e egoísmo? Como podemos estar tão inertes, impassíveis em relação à tragédia mortal que sobreveio ao nosso litoral? Tal qual a Bela Adormecida, será que estamos todos anestesiados, irremediavelmente abatidos, em sono profundo por cem anos?
Das minhas relações cotidianas, e considerem que convivo com pelo menos cem pessoas diferentes semanalmente, um percentual irrisório se indignou com a chegada do óleo, vazado criminalmente seja lá de onde for e impunemente pelo que parece, às nossas belas praias. Ops... no mínimo nelas! A verdade é que o óleo está entrando na foz dos rios, penetrando nos manguezais, berçário de dezenas de espécies da vida marinha, nas falésias, barras, baías, enseadas e belos recifes. E nem parece que estamos vivendo pessoalmente, cada um de nós, o maior desastre ambiental que até então teve lugar em nossas vidas!!!
Muito maior foi a reação às queimadas na distante Amazônia. Esse drama vizinho se desenrolando no nosso quintal parece não nos incomodar. O que mais precisa acontecer para que, similarmente a um beijo de um príncipe apaixonado, algo magicamente nos desperte, afinal? Será mesmo que não nos demos conta da gravidade dos fatos e dos prejuízos que virão contra nós? A morte anunciada desses belíssimos sistemas litorâneos e seus habitantes não é suficiente para nos emocionar, mover, impulsionar. Ouço vagos comentários: “Que coisa, né? ”; “É tão sério assim? ”; “Foi mesmo a Venezuela? ”; “Nooossa, que pena!”; “Vi no Face”; “Ouvi algo na TV”; “Foi...vi no Zap”. Longe de todos qualquer vocação para ser Greta, a menina ativista incompreensível para estes mansos brasileiros.
Foto: Governo de Sergipe
Imagino que somente com o sangue de nossos próximos, quando derramado, talvez, e digo talvez, sejamos abalados. Toda a indiferença de nossos governantes, a ausência dos parceiros internacionais, o silêncio dos homens de bem, nada, nada nos mobiliza! Assistimos nos noticiários protestos em várias cidades pelo mundo. Tentativas de taxar aplicativos levam milhares às ruas no Líbano; em Hong Kong, pela democracia milhares marcham; aumento de passagens no Chile arrasta outro tanto; no Equador, o aumento dos preços dos combustíveis; e por aí vai. Pessoas lutando por seus direitos! E aqui nós, assistindo ao “Fantástico”, ignorando o que nos fere, o que nos destrói.
Inertes.
Até quando?
Até quando?
Fico pensando que o poder público deveria explicar esse fenômeno do urbanismo
Uma das últimas casas modernistas na capital corre risco de descaracterização
Vamos admirar elementos de composição urbana para manter viva a história
Não precisava fazer, simultaneamente, obras nas duas pontes sobre o rio Poxim
Que progresso é esse que torna piores os lugares que são por ele tocados?
Arquiteta e Urbanista pela FAUSS/RJ, especialista em Tecnologia Educacional pela UERJ e em Paisagismo pela UFLA/MG. Atua com ênfase em Desenho Urbano e Projetos de Edificação e Paisagismo. Leciona no curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIT. Possui trabalhos reconhecidos nacionalmente e tem sido palestrante em variados eventos. É membro da equipe da Ágora Arquitetos.
E-mail: arqclarissedealmeida@gmail.com
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