Coleta Seletiva – um dos pilares da sustentabilidade
Blogs e Colunas | Consciência Limpa 05/06/2020 11h38 - Atualizado em 05/06/2020 11h53Eu já li pessoas escreverem que o lixo é a ponta do iceberg entre os problemas que cercam as mudanças climáticas em todo o mundo. O que me deixa um tanto preocupada, porque apesar de ser apenas o topo de toda a problemática, ainda não tem uma solução devida. Não vou me deter à parte do saneamento básico e pobreza no Brasil, porque isso é assunto que quero transcorrer em outro post, e vou direto para abordagem do gerenciamento de resíduos sólidos.
No Brasil, somente 17% da população é atendida pelo serviço de coleta seletiva, o que significa algo em torno de 35 milhões de pessoas, num país com 220 milhões. Os dados são do Compromisso Empresarial de Reciclagem (Cempre). Aracaju, por sua vez, é uma das 1.227 cidades brasileiras que possuem o serviço. No entanto, somente 30% dos aracajuanos têm acesso. E o que me incomoda é ver esse pequeno grupo, do qual faço parte, não se preocupar em separar o próprio lixo. É como se a coleta seletiva estivesse ali, passando por nós, diariamente, despercebida.
Ora, esse problema é nosso. O lixo que produzimos é nosso. Lógico que contamos (ou ao menos deveríamos) com o alicerce governamental para que funcione por via de regra, mas, somos os responsáveis diretos pelo que consumimos e o lixo que geramos. Portanto, precisamos tomar consciência de que a nossa responsabilidade não é só pôr o lixo para fora de casa para que os garis o busquem. Vai além disso!
Para se ter noção, somente 3% de todo material reciclável é de fato reciclado no Brasil. Sendo que somos o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo e reciclamos apenas 1% dele, segundo o Fundo Mundial para a Natureza (WWF). São 11 milhões de toneladas de lixo plástico produzidos por ano, pessoal. E continua crescendo, de maneira geral, a produção de lixo no país, mais rápido até do que a infraestrutura que temos para lidar de maneira correta com o resíduo. Resultado? A maior parte, digamos que cerca de 41% segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), vai parar em rios, mares e lixões.
Em Aracaju, um grupo de jovens de uma Igreja Messiânica, realiza encontros para catar lixo nas praias. Um dos envolvidos é o engenheiro de materiais, Victor Teixeira, e ele conta que além da ação estar voltada para a proteção do meio ambiente, tem papel fundamental na educação das pessoas.
“A nossa atividade é sobretudo educacional. Depois de catar, nós colocamos todos o lixo acumulado e separamos o que vai para a cooperativa e o que não vai. Nisso o pessoal acaba ficando impactado porque muita coisa acaba não indo, apesar de ser reciclável. Por isso a intenção é conscientizar. Somos responsáveis por aquilo que a gente coloca na natureza e por aquilo que a gente compra. Por isso o trabalho de conscientização, para mostrar que é em casa que a gente muda os hábitos e é a partir de casa que a gente evita com que o lixo chegue aqui”, explica Victor.
E sabe porque a maioria não serve para ser reciclado? Porque não é viável financeiramente.
Ação
Bom, agora que já sabemos que nem todo lixo reciclável é reciclado, é nosso papel diminuir o consumo de embalagens de todos os tipos. Isopor, embalagens de salgadinhos, garrafas de vidro de cerveja ‘longneck’, papel filme ou de alumínio, são alguns exemplos. Não vou viver sob a ilusão de que nunca mais devemos consumir essas embalagens, porque para alguns itens nós teremos a necessidade. É impossível não produzir lixo. O que estou querendo pontuar é que podemos reduzir esse tipo de consumo.
Vou dar o meu exemplo! Faz uns três meses que opto por compras à granel, em feiras, mercados centrais e lojas de produtos naturais. Isso me ajudou a reduzir em cerca de 70% o uso de embalagens plásticas dentro de casa. Para alguns locais eu levo o meu próprio pote de vidro de armazenamento para colocar o item direto nele na hora da compra. Além de ser positivo para o meio ambiente, e ele agradece, também tem sido positivo para mim, já que diminui o consumo de produtos industriais.
Dentro de casa nós produzimos três tipos de lixo: o orgânico, resíduos sólidos e rejeitos. Sendo que 50% do total é o lixo orgânico, onde a maior parte é compostável e não precisaria ir para os aterros ou lixões. Mas, essa ainda é uma realidade remota. Mais triste é ver material reciclável com alto potencial para ser reaproveitado sendo ensacado junto com lixo orgânico e rejeito e descartado no lixo comum.
Eu iniciei a separação do meu lixo ano passado (2019). O bairro onde eu morava, não possuía o serviço de coleta seletiva pela prefeitura. Mas, existiam os catadores de resíduos que passavam diariamente pela rua onde a minha antiga residência estava localizada. Gente de uma comunidade carente que vive dessa renda, e que antes eu não enxergava. Quando tomei consciência dessa “cadeia”, tudo mudou.
Atualmente moro num condomínio fechado onde diz ter coleta seletiva (confesso que sou um pouco desconfiada disso). Percebo que tem gente que separa o lixo e deposita no local da coleta, mas, dentro de um condomínio com seis blocos de seis andares, com quatro apartamentos por andar, se preenche apenas um carrinho de lixo para a coleta seletiva. É muito pouco.
Aracaju também conta com os Pontos de Entrega Voluntário (PEVs). Se puder se deslocar até um PEV para fazer o descarte dos seus resíduos recicláveis, faça! Porém, todo cuidado é pouco. Nem todo mundo tem a educação e conhecimento necessário, e muitas vezes, todo o material reciclado depositado nos PEVs se perdem, porque outras pessoas acabam jogando lixo indevido, como, por exemplo, cocô de animal. Infelizmente, é duro de imaginar essa realidade, mas ela existe. Veja onde encontrar.A Cooperativa dos Agentes Autônomos de Reciclagem de Aracaju (Care), faz um trabalho brilhante. Eles fazem a coleta em diversos bairros, inclusive no meu. Eu liguei uma vez para eles e, simplesmente, agendei. Eles pegam os meus recicláveis na porta de casa. Para quem tiver interesse, basta ligar no (79) 3243-1581. Mesmo em tempos de covid-19, a cooperativa ainda está realizando o trabalho, ela não parou. Portanto, cabe a nós termos os devidos cuidados com o material, ensacá-los corretamente e de maneira segura, para não colocar a saúde dos trabalhadores em risco. Confira a agenda.
Por fim, não basta separar
Para descartar o material reciclável, não basta apenas separar. Eles precisam estar limpos. Sim! Você tem que limpar a caixa de leite, a garrafa pet, a latinha de alumínio, os potes de alimentos, os recipientes de limpeza, a lata de óleo, as latas de sardinha, as latas de molho de tomate, as embalagens de vidro de molhos...enfim! Não adianta descartá-los sem que estejam devidamente higienizados. E isso é muito simples: acabou, lavou, separou, descartou. Já faz parte da minha rotina e não vejo dificuldades em executar.Se você é um dos privilegiados que conta com serviço de coleta seletiva no seu bairro ou na sua cidade, colabore. Seja solidário, gerando renda para os trabalhadores de cooperativas, seja solidário com o meio ambiente!
Lais Oliveira de Melo, jornalista diplomada, pós-graduanda de MBA em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, atualmente repórter do Jornal da Cidade e blogueira em Consciência Limpa. Premiada em 2018 no Prêmio Setransp com a terceira melhor reportagem de veículo impresso. Trabalhou por cinco anos no marketing digital de uma empresa de turismo e participou de um programa de estágio no F5 News.
E-mail: demelo.lais@gmail.com
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