Histórias do Agro Sergipano (Capítulo II) | Haroldo Araújo Filho | F5 News - Sergipe Atualizado

Histórias do Agro Sergipano (Capítulo II)
Manoel Andrade: um dos precursores da modernização da cultura do milho.
Blogs e Colunas | Haroldo Araújo Filho 05/07/2021 11h20 - Atualizado em 23/08/2021 14h42

É sedimentado no meio rural sergipano o entendimento de que o desenvolvimento da cultura do milho ocorreu em virtude do fomento das empresas privadas do setor e, em especial, na capacidade que alguns produtores tiveram em vislumbrar o potencial econômico desse cultivo.

Dentre esses produtores, merece um importante destaque Manoel da Silva Andrade Neto, da Fazenda Aroeira, localizada no povoado Triunfo, em Simão Dias, que prematuramente nos deixou no início de 2020, vítima de acidente automobilístico.

Por ter desfrutado de sua amizade, poderia aqui escrever muitos parágrafos sobre suas qualidades humanas, mas por conhecê-lo bem não quero enfezá-lo lá no céu, já que ele não era muito afeito a holofotes. Porém, abrevio como sendo um dos amigos mais sinceros, fieis, solícitos e divertidos que já conheci. Aqueles que conviveram com ele, com certeza, corroborarão comigo.

Pois bem, agora, me prenderei ao Manoel Andrade produtor, aquele que foi um dos precursores da modernização do cultivo do milho, responsável por transformar essa atividade em uma das mais importantes para nosso estado.

No final dos anos 90 e início dos anos 2000, alguns produtores de Simão Dias, Pinhão e Paripiranga (BA) (embrião do que hoje chamamos SEALBA), acreditando no potencial de suas terras, começaram a modernizar o cultivo do milho através da utilização de modernas e eficientes técnicas agrícolas.

Foi a partir daí que Manoel Andrade e os outros começaram a utilizar técnicas que levaram à modernização da cultura do milho, desde as mais básicas como: plano de adubação baseado em análise de solo; passando pelo uso de melhores maquinários agrícolas; cultivo com orientação profissional; técnicas de controle das erva daninhas e da lagarta do cartucho; até a gradativa mudança do uso de sementes tipo variedades (BR-106, pé de boi, etc) para as híbridas duplas, triplas, simples até as transgênicas.

 

Como consequência, tais modernizações e inovações levaram à obtenção de excelentes resultados econômicos. Inicialmente, pelos precursores, depois por tantos outros pequenos, médios e grandes produtores, que começaram a “copiar” Manoel Andrade e Companhia.

Mas como todo começo de processo de inovação e transformação gera desconfiança e críticas, não foi diferente no caso em tela. Lembro que certa vez, conversando com Manoel Andrade, ele me falou com os olhos cheios de lágrimas:

- Boy (era assim que ele falava com as pessoas), quando comecei a plantar milho, muitos me chamavam de aventureiro, irresponsável e que iria levar a fazenda do meu pai à desgraça, hoje me procuram para pedir orientações.

Manoel Andrade foi inovador e extremamente responsável com sua atividade. Era atento, zeloso e criterioso. Por exemplo, no tempo de plantio, lá estava ele conferindo e regulando seu maquinário, monitorando de perto a velocidade de plantio e o bom funcionamento da plantadeira. Era daqueles que não apenas dizia como fazer, mas fazia para mostrar como era o certo a se fazer. Ademais, por vezes abriu a porteira de sua fazenda para que a Embrapa fizesse dela campo de teste para diversas pesquisas sobre a cultura do milho.

Essas citadas caraterísticas levaram Manoel a ser uma referência no setor. Todo comerciante/representante queria que ele utilizasse seus produtores, pois sabiam se ele usasse serviria como excelente propaganda para que outros usassem.

Vendedores com pouco conteúdo técnico e de índole duvidosa, querendo se aproveitar de seu jeito meio xucro, não se atrevesse procurar Manoel Andrade, pois sua peculiar perspicácia identificava facilmente os aproveitadores. Creio que, propositalmente, ele alimentava esse jeitão como estratégia de proteção.

Tempos depois, sua credibilidade o levou abrir a “Casa o Lavrador”, loja de produtos agrícolas em Simão Dias, passando a ser não somente um produtor de milho de sucesso, mas também um respeitado comerciante do setor.

Enfim, conhecer histórias como a de Manoel Andrade nos levam a valorizar ainda mais aqueles que com muito trabalho e devoção fazem o agro sergipano.

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Engenheiro Agrônomo do Incra/Ministério da Agricultura, formado pela Universidade Federal de Sergipe, pós-graduado em Irrigação (UFS). Secretário de agricultura de Riachão do Dantas (2005-2007); Superintendente regional do Incra em Sergipe ( 2016-2017); Delegado da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário em Sergipe (2017); superintendente do Ministério da Agricultura (2019-2023). Antes de ingressar no serviço público atuou em empresas comerciais do ramo agropecuário.

E-mail: hafaraujo@yahoo.com.br

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