Recentemente, visitando a fazenda de um amigo, senti o cheiro característico de um boi de raça criado na cocheira. Automaticamente foi ligada em meu cérebro a memória olfativa de um odor familiar que muito senti na minha infância nas visitas a Lagarto, seja na Exposição agropecuária ou na fazenda Santa Maria, de propriedade de meu avô materno, Martinho Almeida (in memoriam), um notável criador da raça Indubrasil.

Martinho Almeida. Foto do autor

É por causa dessa memória olfativa que decidi incluir a raça Indubrasil como um personagem do Agro Sergipano. Afinal, é possível que muitos não saibam da importância dessa raça na pecuária sergipana.

O Indubrasil é uma raça genuinamente brasileira, formada do cruzamento entre o Gir, Guzerá e Nelore, tendo a docilidade, rusticidade, longevidade, boa conformação frigorífica, boa conversão alimentar e rendimento de carcaça como suas principais características.

Infinito do General - Campeão nacional 2006/Uberaba/MG - Foto do proprietário: Djenal Neto

Nas primeiras décadas dos anos 1900, essa raça teve outros nomes: Induberaba, Induaraxá, Indubahia e Indubelém, sendo este último responsável por iniciar a relação de forte identidade com Sergipe. O nome é oriundo da fazenda Belém, localizada em Itaporanga D´Ajuda, pertencente a Felisberto Freire, considerado um dos pioneiros na criação dessa raça.

Daí então, com a crescente aceitação da raça na pecuária nacional, outros tantos criadores sergipanos passaram a se dedicar a seleção do Indubrasil, dentre eles, Martinho Almeida (Faz. Santa Maria) que com o touro Natal alcançou o prêmio de campeão nacional na Expozebu/1970 – Uberaba/MG, o primeiro boi sergipano a conseguir esse título e ainda hoje considerado um ícone da raça.

Bacará - Bicampeão Nacional 2010 e 2012/Uberaba/MG - Foto do proprietário: Roberto Góes

Depois, outros criadores sergipanos também tiveram animais campeões nacionais: Oviêdo Teixeira (Faz. Salgado), Paulo Gonçalves (Faz. Ladeirinhas), Murilo Dantas (Faz. Canafístula), Djenal Queiroz Neto (Faz. São Francisco), Antônio de Almeida (Faz. Lajinha), José Mariano (Faz. Capitão), João Pinto (Faz. Nelson Pinto), Horácio Góes e Roberto Góes (Faz. São José).

Esse irrefutável sucesso dos criadores transformou nosso estado em uma referência genética da raça no Brasil, como também em outros dezesseis países, a exemplo do México, Tailândia e Colômbia. Não por menos que a Associação Brasileira dos Criadores de Indubrasil (ABCI) é competentemente presidida pelo sergipano Roberto Góes, de Riachão do Dantas.

Indubrasil vermelho - Fazenda Floresta. Foto do proprietário: Acrísio Neto

Atualmente, Acrísio Cruz, Francisco Alves, Cláudio Rezende, Aldemir Mendonça, João Pinto, Roberto Góes, Luiz Durval Queiroz e Djenal Queiroz Neto continuam preservando e aprimorando o legado do Indubrasil em terras sergipanas, e é por consequência disso que está em andamento o programa de conservação e difusão genética da raça, fruto da parceria entre MAPA, UFS e Criadores.

Por fim, é imperativo afirmar que o reconhecimento da credibiidade dos criadores e da qualidadade do que se cria em Sergipe, independentemente da raça, se iniciou bravamente com o Indubrasil sergipano.