"Eu roubei o quê? Mas fui condenado na opinião pública", lamenta Emanuel | Joedson Telles | F5 News - Sergipe Atualizado

"Eu roubei o quê? Mas fui condenado na opinião pública", lamenta Emanuel
Blogs e Colunas | Joedson Telles 23/06/2019 10h16 - Atualizado em 23/06/2019 12h10

“A delegada não encontrou nada, mas insinua. Minha vida está aberta. A polícia já circulou tudo e não encontrou nada. Eu vou continuar lutando e pedindo que eu seja absolvido. Qual é meu roubo? O dinheiro de outros políticos foi encontrado nas contas, o de Geddel no apartamento, e o meu? Eu roubei o quê? Mas fui condenado na opinião pública. Talvez quando terminar de provar minha inocência eu não sei se ainda estarei vivo. A minha família foi atingida por causa de mim. Eu acho que deveriam ter olhado minha casa, na casa de minha mãe. A família sofre na rua com o povo dizendo que o cara é ladrão. Eu sou professor e meus alunos diziam que eu era ladrão. Eu acho que só deveriam divulgar essas coisas quando houvesse condenação. No Brasil é assim. Acontece isso todo dia e eu sou vítima disso. Eu tenho que trabalhar com consciência, tranquilidade e me defender sempre”, diz o ex-presidente da Câmara de Aracaju, o vereador Emanuel Nascimento (PT).

Como está sendo a vida fora da política, exercendo um mandato?

Tem sido difícil porque eu passei de 88 para cá fazendo política. Eu fui eleito para sete mandatos de vereador, três vezes para presidente da Câmara de Aracaju. Fui secretário do município da Prefeitura de Aracaju e fui vice-prefeito da capital duas vezes: uma quando Jackson Barreto saiu para ser candidato a governador, e eu fiquei como vice-prefeito e outra vez quando Sílvio Santos saiu para ser secretário de Estado da Saúde. Como eu já vivia na política, a perda da eleição, em 2016 eu senti muito, porque tive que começar a fazer outra coisa. O que me salvou em parte foi o IFS (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe), onde eu já dava aula mesmo como vereador. Quando eu perdi a eleição, em 2016, eu estava dando aula. Eu ganhei 2012 e continuei dando aula e sendo vereador. É difícil, com todo esse na política, quando você vê a Câmara funcionado, quando lê os jornais, você lembra. Eu trabalho hoje fazendo política, mas de outra forma, administrando porque eu não tenho mais mandato. Quando eu ia a um órgão e o diretor responsável sabia que eu estava ali, ele terminava a reunião para me receber. Hoje, ele manda dizer que não pode atender porque está em reunião, e eu espero uma hora, duas horas. Eu vou tentar resolver uma questão do povo. Aquilo que eu tinha facilidade antes, tanto no âmbito municipal como no estadual, hoje, tenho dificuldade. A gente trabalha para que sempre fique uma brechinha aberta. As pessoas ficam achando que você ainda é vereador, mas não sou mais. Na verdade, vereador abre portas. Sem o mandato, as pessoas evitam. A gente percebe. Às vezes, não quer se encontrar com você porque acha que você vai pedir alguma coisa. Lula disse que o cara sem mandato nem vento bate nas costas. É conviver com isso. Vou tentar uma reeleição e continuar na vida política e com minha vida de professor, que eu sou desde 1966. Minha casa era uma escola, no Agamenon Magalhães. Meu pai dava aula e eu já ajudava. Estou acostumando com isso.

Essa indiferença também pode ser percebida em aliados que estão no exercício do mandato?

Cada um trata de uma forma diferente. Uns lhe tratam com solidariedade, outros trabalham para ajudar, mas a maioria trabalha com indiferença. Até para e encontrar é difícil. Não é nem porque o cara é ruim. É porque a atividade política é intensa mesmo. Nitinho, por exemplo, é uma pessoa que me atende. Saber que não mais aquela pessoa, que não tem mais mandato, que agora é ir com o nome e com o conhecimento e que lá vai ter as dificuldades naturais da vida. É a vida. Eu fazia aquilo e agora não estou fazendo mais. Tem que aprender a fazer outras coisas. O dia de maior tristeza é o dia que outras pessoas vão tomar posse, e você sabendo que poderia estar ali, mas não está. Quantos deputados, governadores, senadores não sentem isso? Sentem por que seres humanos.

Pensa em voltar a disputar uma eleição?

Eu continuo fazendo a política sem mandato. Continuo reivindicando as questões da comunidade, e vou tentar uma eleição de novo agora em 2020. Continuo no Partido dos Trabalhadores.

O PT tem lhe acolhido mesmo sem mandato?

O PT é um partido cheio de tendências. Lá você precisa construir relações. Eu não posso dizer que o PT me maltrata porque me deu espaço para ser candidato. Muita gente do PT não vota em mim porque já tem um segmento. Eu perdi uma eleição para o Sintese, que tinha Iran, para o deputado federal João Daniel, que não ia deixar de votar no filho dele pra votar em mim. Tivemos receio de nosso partido não ter um vereador porque nossa chapa estava frágil. Na aliança candidatos como Nitinho, Evandro Franca e outros se elegeram. É próprio da política. O PT saiu enfraquecido. Eu dizia para gente tentar eleger dois vereadores e que o PT não se dividisse tanto. Hoje, o PT não tem um vereador porque em 2016 se dividiu. Cada agrupamento pensou no seu candidato e acabou o partido perdendo.

Em 2020, é melhor o PT ter um candidato próprio a prefeito de Aracaju ou continuar ao lado de Edvaldo?

Se você fizer uma análise das alianças no Brasil e em Sergipe, você lembrará da Aliança Renovadora Nacional (Arena). Chegou um tempo que a aliança cresceu tanto que teve que transformar em Arena 1 e Arena 2. Desde 1994 foi feita uma aliança entre o PT e os partidos progressistas, mas no meio do caminho já na aliança democrática todos participaram. Já essa aliança democrática para eleição de Sarney e de Tancredo já não continua em 1986 porque os grupos se dividiram. Em 1988, a gente já votava em Paixão. Em 1990 foi aquele acordão entre João e Albano. Quando cegou em 1992, Valadares que era da Arena já se juntou a gente pelo PST. É um processos natural da política. Nessa eleição que vem aí tudo pode acontecer. Eu não sou uma pessoa que tem veto a Edvaldo Nogueira. Não tenho problema nenhum em votar nele. Quando eu estava trabalhando nesse grupo Edvaldo Nogueira era o vice. Quem botou ele lá foi o PT. Na reeleição, botaram ele como vice de novo. Naquele tempo se cogitou até Edvaldo ir para o PT. O PT sempre foi parceiro de Edvaldo Nogueira e do PC do B historicamente, até em nível nacional. Agora saímos de uma aliança PC do B e PT par elegermos o governador do Estado. Eu sou um sobrevivente porque não tenho mandato, mas tenho que ouvir meu partido em qualquer decisão.

Como o PT tem que lidar com esse governo de direita para se manter vivo até a próxima eleição?

Continuar fazendo política e lutando pelos interesses da comunidade. Nessa eleição, agora, todo mundo sabe o que aconteceu. Atacaram o PT, uma parte da imprensa, dos setores conservadores já vinha trabalhando contra o PT e depois foi com Lula preso. A gente não tinha uma referência e acabou sendo o Haddad. A gente tem que continuar trabalhando pelo PT e fazendo as alianças possíveis, tanto no âmbito estadual quanto federal. Temos que fazer política todo dia. O PT elegeu a maioria dos governadores com Lula na cadeia. Elegeu quase 60 deputados federais, elegeu senadores. Aqui elegemos um senador. Ninguém sabe se, no ano que vem, a gente vai continuar nesta aliança, porque quem determina isso são as lideranças. Eu vou trabalhar para essa aliança continuar. Se ela vai, eu não sei, mas acho que temos que trabalhar pela unidade. Foi com unidade que ganhamos essa eleição em 2018, 2016, 2014, 2010. Até essa unidade está se fragmentando porque Amorim estava com a gente e não está mais. As coisas acontecem por conta do processo político. Todos falam que a gente precisa fazer uma mudança na política. A política que interessa a sociedade. Se for olhar direitinho, cada um faz a política do seu jeito. Quando você nasce já fez política. Eu defendo que todos façam. O caminho ruim é ter ditadura e nossa origem é de ditadura. Tomé de Souza era um ditador, Eduardo da Costa também, Mendes Sá. Quem foi D. João VI? Dom Pedro? A gente vem construindo uma democracia depois da República. Frágil, mas está se fortalecendo.

O PT tem que ter candidato a governo, em 2022?

A gente olhando os bastidores vê que a eleição de 2022 tem que ser preparada em 2020. Os partidos mais fortes serão os que elegerem mais prefeitos, mais vice-prefeito, mais vereadores, o prefeito da capital. Nas outras eleições nos fragmentamos. Valadares fazia parte de uma aliança. Rompeu a aliança, perdeu ele e perdeu o filho. A gente tem que ter muito cuidado nessa construção. O importante seria se todos nós estivéssemos juntos em 2020 e 2022. Não sei se isso vai conhecer. Essa aliança vem sendo vencedora com Jackson, Marcelo Déda, Eliane Aquino, que é a continuidade de Marcelo Déda no PT. Rogério Carvalho é uma nova liderança. Pra mim foi o melhor secretário de Saúde que o Estado teve. É um cara reparado. Ter pessoa não é o problema para ser candidato. O problema é o interessa na política. Se muita gente quiser ser candidato a governador e se encontrar no segundo turno? Temos que pensar isso, agora em 2020. No estado, a gente tem que começar a construir a unidade agora dos setores democráticos. Às vezes, no meio do caminho não acontece. Às vezes, um tem interesse e outro tem outro interesse. Apoiamos Valadares Filho, em 2012, contra João Alves. Foi o candidato de Edvaldo Nogueira. Já agora, Valadares Filho estava contra Edvaldo Nogueira. A gente tem que tentar construir a maioria discutindo com as lideranças, com os partidos.

Como o eleitor acompanha isso?

O eleitor diz que é tudo igual, mas não é. Eu acho que esse grupo nosso ganhou muito com essa aliança desde Jackson, que foi um dos melhores prefeitos de Aracaju. Déda também. A gente tem muita sorte com prefeito. Edvaldo Nogueira tem feito uma boa administração. Tem enfrentado problemas como todos tiveram e vai continuar tendo. A gente tem que juntar a maior quantidade de partidos possíveis para continuar fazendo esse trabalho. João Alves também foi um grande prefeito. O povo apontou na direção de João Alves, em sua última eleição, pelo que ele fez lá atrás, em 1978. Eu acho que temos que continuar fazendo política respeitando a opinião das pessoas. Esse grupo político que hoje está no comando da Prefeitura de Aracaju e do Governo do Estado quem elegeu foi esta aliança. Vamos continuar tentando unir essas pessoas e ver se a gente sobrevive nesse meio. Nessa última que passou eu não sobrevivi.

Qual a grande lição da derrota para uma nova disputa?

A grande lição é que a política é feita de momentos. Eu já me beneficie de alguns momentos, já ganhei eleição, e esse momento foi ruim pra mim. A gente percebia porque o PT estava ruim, estava sendo muito questionado. Esse momento ruim eu era líder do PT na Câmara e não abri mão. Algumas pessoas estão me estimulando ser candidato a presidente municipal do PT. Eu estou avaliando. Hoje é outra conjuntura e talvez não me favoreça. Eu tenho que respeitar. Eu sou um sobrevivente fragilizado. Vou trabalhar pra continuar sobreviver dentro do PT e tentando vencer. Não há como fazer política sem coalizão. E vou atrás do apoio do todos os meus amigos. Se der, tudo bem. Se não der, vou pra casa. Não tem como disputar outra eleição mais pra frente. Se eu perder essa, eu perdi duas. Eu vou continuar dando aula e continuar com minha vida de advogado. Mas, vou continuar fazendo política. Vou morrer na política.

As acusações que pesaram contra Emanuel Nascimento no caso polêmico da Operação Indenizar-SE já foram superadas?

Não. Eu lamento aquilo tudo ter acontecido. Talvez eu, como era do PT, fui um dos mais atingidos. A polícia invadiu meu escritório. O único vereador que aconteceu isso fui eu, porque acharam que meu escritório tinha dinheiro. Não provaram nada contra mim. Abriram meu sigilo bancário, meu sigilo telefônico, sigilo fiscal do imposto de renda. Eu não construí riqueza na política. Não é verdade, mas quando vai provar já morreu. Um dos caras que mais sofreu com essa questão na política foi Jackson Barreto. Teve até intervenção. Eu apoio Jackson desde 74. Eu fui pedir ajuda a ele e ele me ajudou com um advogado. Eu perdi o mandato por isso. Você prova, mas quando chega à rua há uma condenação antecipada, porque os meios de comunicação e a vida condena você antes. Toda vez que saem aquelas questão da Operação Indenizar-SE saem imagens do meu escritório. Eu acredito na Justiça. Eu vejo muita gente dizendo hoje que o Poder Judiciário se politizou muito, mas seria pior se não tivesse a Justiça. A gente questiona, mas tem que cumprir. Eu vou questionar, vou tentar convencer as pessoas do contrário. A gente tem que aprender a se defender. Até hoje, ninguém provou nada contra mim. Eu estava na Câmara de Vereadores, os parlamentares entraram nesse processo e eu também. Eu era sócio de Alcivan lá atrás. Quando eu perdi a eleição, em 2000, eu fui trabalhar com Alcivan porque ele já tinha essa empresa e eu fui ser assessor para ver se trazia vereadores para essa empresa. Mas só fiquei lá até 2001 porque depois Déda me chamou e eu fui ser o líder dele. Mas houve aquele questionamento, dão espaço para as pessoas falarem, mas não dão espaço para as pessoas se defender. Eu estava lá para me defender quando invadiam meu escritório? Entraram com uma autorização judicial. A delegada não encontrou nada, mas insinua. Minha vida está aberta. A polícia já circulou tudo e não encontrou nada. Eu vou continuar lutando e pedindo que eu seja absolvido. Qual é meu roubo? O dinheiro de outros políticos foi encontrado nas contas, o de Geddel no apartamento, e o meu? Eu roubei o quê? Mas fui condenado na opinião pública. Talvez quando terminar de provar minha inocência eu não sei se ainda estarei vivo. A minha família foi atingida por causa de mim. Eu acho que deveriam ter olhado minha casa, na casa de minha mãe. A família sofre na rua com o povo dizendo que o cara é ladrão. Eu sou professor e meus alunos diziam que eu era ladrão. Eu acho que só deveriam divulgar essas coisas quando houvesse condenação. No Brasil é assim. Acontece isso todo dia e eu sou vítima disso. Eu tenho que trabalhar com consciência, tranquilidade e me defender sempre.

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