Edvaldo ajudou André Moura, diz petista pregando rompimento | Joedson Telles | F5 News - Sergipe Atualizado

Edvaldo ajudou André Moura, diz petista pregando rompimento
Blogs e Colunas | Joedson Telles 20/01/2019 06h28

Presidente da Central Única dos Trabalhadores de Sergipe (CUT/SE), o petista Rubens Marques, o professor Dudu, faz um alerta sobre a necessidade de o PT ter candidato próprio não apenas a prefeito de Aracaju, em 2020, mas também a governador do Estado, em 2022, sob pena de perder a sua identidade junto ao eleitor. “Sinto que o PT em Sergipe caminha para perder referência nas massas, caso se omita das grandes disputas”, avalia Dudu, que não assegura as candidaturas petistas. “Isso vai depender dos interesses das lideranças que definem a política do partido. Na maioria das vezes, eles olham o que é melhor para eles e não para o partido”, dispara. Dudu diz ainda o que pensa sobre o aliado do PT, Edvaldo Nogueira, prefeito de Aracaju. “Há muito tempo, Edvaldo Nogueira deixou de ser um quadro de esquerda... Ele usa os mesmos métodos da direita reacionária. Hoje, Edvaldo se sente mais à vontade com André Moura e com os empresários do que com a esquerda”, afirma Dudu, defendendo que o PT entregue os cargos que ocupa na PMA. “Já deveria ter feito isso há muito tempo. Alguém viu efetivamente Edvaldo na campanha Haddad e Manuela? Tacitamente, ele se empenhou para ajudar a campanha de André Moura”, assegura. A entrevista:

Como o senhor avalia os primeiros dias, as primeiras ações do governo Jair Bolsonaro?

Os primeiros dias do governo Bolsonaro tem sido um festival de trapalhadas: todo mundo fala e manda, menos o presidente. Todos os acenos, até aqui, têm sido para a classe dominante, enquanto vira as costas para as camadas vulneráveis do povo. Acho que o presidente terá dificuldades em manter o apoio da maioria daqueles que o elegeram, uma vez que, muitas das bandeiras de campanha, a exemplo do combate à corrupção, perderam credibilidade por conta do caso Queiroz, que envolve um filho do Mito e a primeira dama, como também o nepotismo, que prometeu combater, mas está em alta no governo, uma vez que o vice-presidente promoveu o próprio filho na estrutura do Banco do Brasil, e o presidente promoveu o amigo para um cargo importante na Petrobras. Vejo com preocupação o governo oferecer o Brasil na bandeja para os Estado Unidos. Até aqui, tenho visto muitas bravatas e contradições.

Na sua ótica, o presidente já desceu do palanque ou este discurso de ‘despetização’, por exemplo, é um dos pontos que mostram que não?

O governo Bolsonaro ainda não desceu do palanque, e vai continuar enquanto o povo não perder a paciência. Como ele é um deserto de ideias, e não opina sobre a maioria dos assuntos sérios do governo, a exemplo da economia, só lhe resta dar entrevistas e vomitar bravatas. Falar mal do PT tem dado audiência entre os seus apoiadores, a questão é saber até quando.

O presidente fala uma coisa e depois surge um ministro e fala outra. Estão batendo cabeça?

É trágico perceber que o presidente não sabe o que fala, ao ponto de ser desmentido por ministros e assessores, como aconteceu no caso do anúncio do aumento na taxa do IOF, mas não só.

Inexperiência ou despreparo?

Não há dúvidas de que o presidente é despreparado. Ele mesmo assumiu de público que não entende de economia. Como não entende também de educação, cultura, meio ambiente etc. Limita-se a incitar o ódio contra o PT e a esquerda.

As urnas colocaram o PT na oposição. Como deve ser este enfrentamento?

O PT, naturalmente, fará oposição ao governo até o fim do mandato (se o Mito não cair até lá), e não pode ser uma oposição vacilante: é preciso fazer oposição dura e forte como merece um governo de direita com algumas características do fascismo. O PT deve fazer sistematicamente comparações entre os governos petistas e os governo do golpista Michel Temer e o do Mito, e mostrar ao povo que são governos distintos: o PT marcado pela inclusão dos mais pobres, pela soberania nacional, pela ampliação da democracia, pela geração de empregos e melhoria da economia, mas não só, e os governos pós-PT. Não tenho dúvidas que ganharemos o povo para o nosso lado.

Aqui em Sergipe, como a oposição atuará?

Os parlamentares eleitos pelo PT deverão fazer parte da bancado de oposição a Bolsonaro. João Daniel, em segundo mandato, manterá a toada, uma vez que teve papel destacado na luta contra o golpe, no parlamento e também nas ruas. Quanto a Rogério Carvalho, que tem um perfil mais de diálogo, espero que encarne a conjuntura de guerra e aja como um soldado do PT.

Qual o papel da CUT neste contexto?

A CUT continuará cumprindo o seu papel histórico de defender a classe trabalhadora sem fazer concessões. A palavra de ordem é “nenhum direito a menos.” Além dos direitos trabalhistas, a CUT continuará defendendo a democracia. O governo já elegeu os movimentos sindical e social como inimigos e vai tentar desmantelá-los, porque sabe que para cumprir o que prometeu, primeiro precisará remover as barreiras. Collor tentou fazer o mesmo para implantar a política neoliberal que incluía privatizar e desregulamentar a legislação trabalhista, mas não conseguiu porque houve muita resistência, agora deverá acontecer o mesmo.

O que espera do governo Belivaldo Chagas?

O governo Belivaldo deverá buscar o alinhamento com o Governo Federal. Não o vejo com disposição nem perfil para enfrentar o enquadramento via determinações do Mito e seus ministros. Isso significa que o compromisso de não privatizar a Deso e o Banese pode ser revisto por ele - e esse deverá ser o primeiro embate com o movimento sindical. Não é novidade que o Governo de Sergipe está estudando a possibilidade de vender ações da Deso, e isso é uma forma de fazer uma privatização de forma sorrateira. Outro ponto de alinhamento será a Reforma da Previdência, outro ponto nervoso que gerará conflitos. Não podemos perder de vista que Belivaldo é um conservador e por isso a sua política não deve ser progressista, ele é parte da velha política.

Como avalia a polêmica questão da Saúde de Aracaju?

Há muito tempo, Edvaldo Nogueira deixou de ser um quadro de esquerda. Hoje, ele se esforça para ser um bom gerente que se resume a cuidar da cidade, especialmente onde mora a burguesia. Em contrapartida, decepciona nas políticas públicas e na relação com os servidores. Ele já cortou salário dos enfermeiros em greve, não dialoga com o movimento social, a exemplo do aumento da tarifa de ônibus, e, por último, entregou o hospital municipal Nestor Piva à iniciativa privada, para tentar enfraquecer a luta dos trabalhadores da saúde em greve. Ou seja: ele usa os mesmos métodos da direita reacionária. Hoje, Edvaldo se sente mais à vontade com André Moura e com os empresários do que com a esquerda.

Ainda assim, o PT estará com Edvaldo no projeto de reeleição ou apresentará candidato próprio?

O PT em Sergipe é composto por várias forças. Então, não posso falar pelo partido. Mas posso externar a posição da Tendência Articulação de Esquerda, que defende candidatura própria. Não há consenso, por exemplo, se agora em 2019, o PT deixará os cargos na Prefeitura de Aracaju. O assunto está na ordem do dia do PT. Eu, particularmente, acho que já deveria ter feito isso há muito tempo. Alguém viu efetivamente Edvaldo na campanha Haddad e Manuela? Tacitamente, ele se empenhou para ajudar a campanha de André Moura.

A Articulação já tem um nome para 2020?

O PT em Sergipe é extremamente pragmático. Por isso, não arrisco dizer que terá candidatura própria em 2020. Isso vai depender dos interesses das lideranças que definem a política do partido. Na maioria das vezes, eles olham o que é melhor para eles e não para o partido. O partido, que deveria ser a vanguarda, termina servindo aos interesses pessoais dos seus quadros. Se depender de mim, desde já o PT anuncia que terá nome para disputar a Prefeitura de Aracaju, em 2020. É sintomático que os quadros do PT prefiram uma aliança complicada, a colocar o nome à disposição do partido para fortalecê-lo, independentemente do resultado. Às vezes, certas “vitórias” passam a ilusão de crescimento, quando, na verdade, o partido fica menor. Belivaldo é governador, hoje, porque o PT abdicou da disputa, e eu não tenho dúvidas: Eliane foi decisiva para a virada do jogo.

E 2022? É obrigação do PT ter candidato a governador?

Se o PT não tiver candidatura própria ao governo, em 2022, se tornará um partido coadjuvante, abrindo mão de ser protagonista. Sinto que o PT, em Sergipe, caminha para perder referência nas massas, caso se omita das grandes disputas. Mas o meu palpite é que o PT terá candidatura própria, e nos bastidores já se fala em dois nomes: Eliane e Rogério. E espero que a Articulação de Esquerda também apresente um nome. Pra mim, o nome do PT para disputar o governo, em 2020, deverá ser resultado de um plebiscito transparente entre todos os filiados, e não só com os delegados. Mas antes do plebiscito os pleiteantes deverão apresentar uma síntese da suas plataformas, bem como a realização de debates regionais.

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