“Gastarão milhões pela compra da consciência da população” | Joedson Telles | F5 News - Sergipe Atualizado

“Gastarão milhões pela compra da consciência da população”
Blogs e Colunas | Joedson Telles 14/08/2018 07h31

Candidato ao Governo do Estado, o médico e ex-vereador por Aracaju, Emerson Ferreira (Rede), define os adversários como “a mesmice dentro de uma caixinha”, deixa evidente que não acredita que nenhum deles tem como equacionar os problemas de Sergipe e antecipa que o poder econômico estará presente durante a campanha. “Vamos ter partidos que gastarão milhões numa campanha sustentada pela compra da consciência da população que, infelizmente, ainda uma parcela se oferece como gado para o abate nesse processo que rouba a dignidade das pessoas. Se começa errado com a compra das consciências vai terminar errado com um governo que não serve ao bem comum. A gente precisa quebrar esse ciclo na política”, diz Emerson.  A entrevista:  

O Partido da Rede Sustentabilidade está pronto para enfrentar a eleição 2018?

Somos um partido com três anos de construção e já avançamos bastante em nível de Brasil. Aqui em Sergipe, temos feito um trabalho com todos os filiados e filiadas, com o elo estadual, a comissão executiva estadual. Temos feito um trabalho de construção dentro dos princípios e valores da Rede. A gente preserva aquilo que o estatuto nos aponta no sentido que a gente possa crescer, mas construindo uma identidade em Sergipe. Não temos a figura de presidente. Temos lideranças e estamos procurando construir um partido que seja uma escola de lideranças. Um lugar onde lideranças estarão surgindo e apontado para a renovação. A direção da Rede é sempre constituída por uma comissão executiva, na qual cada cargo é ocupado por duas pessoas, ninguém pode ocupar o cargo mais que uma reeleição. Isso vale para os cargos diretivos e do Poder Legislativo ou Poder Executivo, caso os membros do Rede sejam eleitos vereadores, deputados, prefeitos, governadores. Dentro dessa constituição temos os porta-vozes, sempre um homem e uma mulher, e na direção tem que ter 30% de um gênero. Aqui em Sergipe, no elo estadual, temos 50% de homem e 50% de mulher. Priorizamos a cultura da paz, uma linguagem não violenta e o consenso progressivo na tomada de decisões. Isso tudo é muito diferente para a própria imprensa, de modo que as discussões na Rede precisam de duas semanas para que a gente chegue a tomar uma decisão.

Nada de caciques políticos?

A prática na política de Sergipe é que os donos dos partidos se reúnam e comuniquem o que decidiram nas suas conversas. As pessoas são chamadas apenas para serem notificadas da decisão que já está tomada.

A sociedade demonstra ter este discernimento?

Estamos agregando muitos jovens. Estamos hoje com filiados que tem envolvimento com o partido em mais de 40 municípios e temos uma meta para que, ao final desse ano, até em função do processo eleitoral, a gente consiga existir nos 75 municípios do estado e é fundamental que a gente tenha sempre preservado esses princípios e valores do partido para que a gente cresça sempre nessa identidade e vá promovendo a renovação política que Sergipe tanto precisa. Nós estamos em fase de mudança. Estamos migrando da democracia representativa para democracia participativa. O povo hoje quer participar, quer dizer claramente o que deseja, o que espera dos gestores, dos legisladores, e nessa migração é preciso que a gente tenha uma formatação nova de partido para esses novos tempos. O partido que prioriza a democracia interna, que dialogue com a sociedade para que a gente possa evoluir para uma governança com sustentabilidade.

O senhor vem batendo na tecla que é preciso priorizar as políticas de Estado...

A gente tem que trabalhar em função de políticas de estado que vão para muito além de quatro anos. Defendemos mandato de cinco anos sem direito a reeleição para que a gente desenvolva essa cultura de política de estado. O mandato já nasce comprometido com a aquela política porque quem for eleito sabe que vai ficar só cinco anos para que a gente possa adotar essa cultura da política de estado. A velha caixinha em Sergipe é dominada por quatro ou cinco pessoas na nossa história. Todos eles se igualam. É a mesmice dentro da caixinha porque as praticas são as mesmas. Em relação ao financiamento de campanha, que cresce no Brasil inteiro. As pessoas que viviam nos bastidores da política já sabiam que isso acontecia, só não havia chegado para o Poder Judiciário, Ministério Público, Polícia federal e para a população de maneira geral através da imprensa. É inadmissível que esse estado e esse país continuem o mesmo depois disso que aconteceu.  Aí seria o povo assumir um papel de cúmplice dessa história, se permitir que continue o que está acontecendo. Claro que o isso não vai impedir que muito dinheiro sujo seja gasto nessa campanha.

Inclusive em Sergipe?

Em Sergipe não vai ser diferente. Temos certeza que vamos ter partidos que gastarão milhões numa campanha sustentada pela compra da consciência da população que, infelizmente, ainda uma parcela se oferece como gado para o abate nesse processo que rouba a dignidade das pessoas. Se começa errado com a compra das consciências vai terminar errado com um governo que não serve ao bem comum. A gente precisa quebrar esse ciclo na política. Precisamos evoluir para alianças programáticas. O que está acontecendo em Sergipe é o retalhamento do Estado. Todo mundo da caixinha já esteve com todo mundo. Os que estão dentro da caixinha produziram a situação caótica que Sergipe vive hoje, tem uma obra da sucessão de todos eles. Claro que esse último governo colocou Sergipe numa situação que talvez na história nunca estivemos. A situação de crise.  Temos praticamente uma década perdida. Isso é uma sucessão de governos ruins, que culminaram no governo atual. Então, temos essa situação e temos que refletir sobre as causas, sob pena de não resolvermos.

O que o senhor define como “retalhamento do Estado”, evidente, não serve ao coletivo. Não é isso?

Esse loteamento de espaços públicos faz com que repartam as secretarias. Cria-se secretarias e cargos comissionados em função desse loteamento. Depois essas secretarias farão política partidária. Tem muita gente incompetente na administração pública e isso se sucede em todos esses grupos constituídos por essas quatro ou cinco pessoas. Todos eles têm culpa e já estiveram juntos no governo. Esse loteamento inviabiliza política de Estado. Cada secretaria é uma ilha. Não existe transversalidade. As secretarias não dialogam. Como pode se enfrentar o problema da segurança, se queremos resolver apenas pela Secretaria de Segurança? É um problema de polícia, mas não é só um problema de polícia. Precisamos ter uma policia motivada, capacitada e preparada para fazer a repressão. Precisamos de uma polícia preventiva, amiga da população. Mas precisamos de uma intersetorialidade de braços dados com uma educação de qualidade, uma assistência à saúde de qualidade, uma assistência social que dialogue nessa assistência a polícia e precisamos ter a cultura, lazer e esporte dialogando para que a gente possa resolver tudo isso como política de Estado com a união de todos esses atores. Quando você loteia cada secretaria para um partido, e cada secretario é muito mais que um cabo eleitoral no exercício de sua função, essas secretarias viram ilhas. Não dialogam e isso é uma das causas dessa situação caótica na administração pública em Sergipe. Isso precisa mudar. Isso nega a sustentabilidade das políticas públicas.

Qual seria outro ponto a ser destacado nesta cultura política de Sergipe que o Partido Rede, em chegando ao poder, pretende romper?

É tradicional em Sergipe um prefeito descuidar das obras feitas pelos adversários. Ele vai cuidar de construir outras obras no sentido que coloque uma placa e mostre que ele está fazendo. Quando se fala de sustentabilidade não é apenas do ponto de vista ambiental. É sustentabilidade numa perspectiva de política pública de Estado, de médio e longo prazo, para que tenhamos sustentabilidade nas finanças, sem essa situação caótica em Sergipe e uma dificuldade na receita, onde houve um estouro nos gastos nesse último governo. Quando o governo pensa em melhorar a arrecadação a única coisa que faz é aumentar a alíquota. Com esse não foi diferente. Aumentou o ICMS e faz com que isso crie dificuldades, principalmente se vermos que em Sergipe temos uma energia muito cara, uma telefonia muito cara, água cara, gás caro. Tudo isso vai repercutindo na cadeia produtiva e vamos ter um custo de vida altíssimo. Tudo isso porque a prática é a busca de dividendos eleitorais. A imprensa tem conhecimento que técnicos orientam governantes no sentido de tomar determinadas medidas e eles se opõem porque poderão perder voto. Assim não se administra a cidade como se deve. A Casa Civil é um lugar para acomodar correligionários que estejam fora do poder. É uma coisa absurda. Tem pessoas que recebem mais de R$ 20 mil. Isso onera a folha do Estado.

Como romper com esta cultura nociva ao coletivo?

Temos que acabar com essa cultura. Mas precisa de alguém que chegue com independência desse processo. Todos vão prometer que são a renovação, mas nenhum vai fazer. Primeiro porque não tem a cultura para fazer diferente. Segundo porque já não podem fazer diferente, porque os compromissos estão selados. É preciso que a gente dialogue com os sergipanos que têm uma perspectiva de uma política pública que cause impacto positivo na vida das pessoas. Existe uma parcela da população que está correndo atrás de cargo comissionado, pessoas que vivem olhando para o umbigo. A perspectiva de melhorarmos na nossa condição de políticas públicas é quanto mais agirmos e pensarmos coletivamente. Essas pessoas que estão na caixinha pensam só na disputa do poder entre eles. Aí temos uma série de outros mecanismos.

O eleitor é consciente disso e, logo, é conivente ou vota inconsciente?

O processo de dominação histórica do nosso povo é alienante. Se estudarmos a evolução histórica do nosso país a população nunca esteve próximo do poder. Foi sempre alienante o processo. Culturalmente isso vai gerar uma cultura de não participação. Se analisarmos os tempos atuais, vermos as dificuldades que o povo está passando em Sergipe com inexistência de políticas de desenvolvimento a médio e longo prazo, com índices ruins de educação, saúde, a situação caótica  nesse processo de alienação transforma o povo em vítima. Está aí o processo de favelização que acontece no Brasil nos últimos 50 anos. As grandes cidades incham e esse processo é a política de urbanização que temos para este país. Essas pessoas são vitimas desse processo alienante. Porém, a partir do momento que o processo civilizatório vai avançando a possibilidade da comunicação e as pessoas vão tomando conhecimento disso, estão sob pena de continuarem vítimas e agora cúmplices. As pessoas não podem dizer que são vítimas desse processo. Elas, se foram coniventes, agora serão cúmplices. Aí esse estouro da Operação Lava Jato e tivemos, no ano passado, uma eleição suplementar. Existe o processo de eleição a cada dois anos e quando existe uma denúncia de compra de voto a Justiça julga e condena aquela prática e anula a eleição. Aí a mesma Justiça promove uma eleição suplementar. No Brasil, aconteceram eleições suplementares, no ano passado, em Amazonas. Esse ano, no Tocantins e em cerca de 23 municípios. Há uma situação de indignação, revolta e falta de esperança. Isso as pessoas numa primeira reação repudia e dá as costas para a política. Tivemos em todas essas eleições mais de 50% de pessoas não foram votar.

O político caiu no descrédito?

Mas esse discurso de que é tudo ladrão interessa ao político ladrão. Eu afirmo que não existe político ladrão e político corrupto. Existe ladrão, existe corrupto que vieram para política. Essas pessoas seriam corruptas e ladrões em qualquer atividade que exercessem porque isso é do caráter das pessoas. A política é essencial. Não podemos fazer um discurso da negação da política. A política é exercida pela cidadania. Mais de 50% das pessoas não foram votar, como eu disse, e os coronéis, os políticos profissionais da caixinha ganharam as eleições. Não teve perspectiva de renovação. Só teve um município, entre os 23, que teve um prefeito que ganhou e está sendo entendido como uma renovação na política... No Brasil, há um entendimento que um terço da população eleitoral ainda não vota com consciência. Uma parcela da população ainda banaliza o voto. Não mede a consequência que o voto pode ter. Vota de qualquer forma. Têm pessoas que saem de casa e dizem que o primeiro santinho que achar na rua votam naquele candidato. Têm pessoas que conseguem uma consulta médica e votam por isso. Essa parcela corresponde a 33%. Se 50% não vota e 33% estão banalizando o voto só sobram 17%. Quem vai decidir a eleição são estes 33%. As pessoas dizem que agora vai mudar. Mas se 50% das pessoas não forem votar (mais uma vez) não vai mudar.  Essa é a equação e a gente apela para a reflexão das pessoas em nome do pensar coletivo, de pensar o futuro do nosso estado e da nossa nação, o futuro daqueles que nem nasceram ainda e não temos o direito de construir o pior para eles.

É imprescindível, então, este discernimento para que haja a tão falada mudança?

É fundamental que a gente faça essa reflexão nesse cenário político, para que a gente possa resolver esses problemas. Nós temos uma administração irresponsável, caótica e os indicadores estão aí para mostrar. A gente vai estudar esses indicadores que são muito ruins em Sergipe. Nos últimos anos, esses indicadores só pioram. Metade das mortes nos serviços públicos de saúde é evitável. A gente conhece como anda essa historia da atenção a saúde em Sergipe. Pessoas que procuram a saúde sem um político têm dificuldades enorme de serem atendidas, quando temos um sistema que na Constituição é um modelo assistencial de saúde para todos. As pessoas fazem uma verdadeira via crucis quando querem ser atendidas. Aí buscam um político e seguem.  O tempo no atendimento no serviço público em Sergipe está muito além do que os protocolos de saúde recomendam. A gente sabe que existem pessoas com cotas de quantas podem levar para os hospitais. Se a gente entende que 70% dos problemas de saúde são de baixo e médio risco, essas pessoas poderiam ser atendidas sem nem passar na calçada da casa de um vereador. Essas pessoas seriam encaminhadas a parir do serviço primário. Isso evitaria que as pessoas, sabendo que as unidades de saúde não estão funcionando, procurassem os hospitais de urgência que ficam superlotados. A gente sabe que existem as cotas de mercado. Isso não é política pública de saúde. É um crime que se comete contra a sociedade.  A política de saúde está no processo de partidarização.

Como assim?

Analise a política de Sergipe e veja quantos secretários de saúde de Sergipe se tornaram deputados federais. Fazem dali um comitê eleitoral e isso não é política de saúde.

E como equacionar isso?

É preciso que a gente despartidarize as políticas públicas de saúde. Quem está na caixinha não pode fazer isso porque todos eles já estão agora fazendo essas negociatas. Isso é extremamente ruim e tudo vai continuar se gravando por conta dessas práticas. A gente precisa ter a possibilidade de ganhar baseado em um programa de governo efetivo, numa história de vida onde as pessoas acreditam na correspondência, no que se vê e no que se fala – e, principalmente, que as pessoas cheguem com competência e com vontade para que governem os melhores. É importante que a gente tenha esse entendimento. É possível a curto e médio prazo melhorar muita coisa, mas é preciso buscar os melhores. Os melhores não são os mesmos que sempre estiveram à frente e são co-responsáveis por essa situação caótica existem pessoas boas nas academias, na sociedade, no serviço público. Pessoas que exercem com efetividade esse trabalho. Com relação aos servidores públicos, num governo que se preze é basilar o pagamento da folha. Aqui não é uma afirmação demagógica. É fundamental. Trabalhou, tem que receber. A gente precisa valorizar e motivar esse servidor que se encontra desmotivado. Muitas vezes, o cara diz que é o chefe, mas não aparece lá ou não tem competência para exercer o cargo porque a política da caixinha não permite que as coisas sejam diferentes. É preciso muita independência para se buscar os melhores. Precisamos rever a infraestrutura de Sergipe. Não existe política de atração para as empresas em Sergipe e as empresas que aqui chegam não chegam por iniciativa dos governantes. Chegam porque por algum motivo estratégico as empresas quiseram vim. Estrategicamente, existem empresas internacionalmente que percebem Sergipe como uma situação estratégica. Precisamos criar mecanismo, projetos que possam atrair as pessoas para virem para Sergipe do ponto de vista empresarial, mas temos que pensar também numa política e isenção tributária que não seja tão injusta para os sergipanos. Aqui em Sergipe, há empresa com mais de 90% de isenção tributária. Aí temos uma energia cara, água cara...

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Joedson Telles é um jornalista sergipano formado pela Universidade Federal de Sergipe e especializado em política. Exerceu a função de repórter nos jornais Cinform, Correio de Sergipe e Jornal da Cidade. Fundou e edita, há nove anos, o site Universo Político e é colunista político do site F5 News.

E-mail: joedsontelles@gmail.com

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