"Na política não existe jamais", diz petista sobre aliança com Edvaldo | Joedson Telles | F5 News - Sergipe Atualizado

"Na política não existe jamais", diz petista sobre aliança com Edvaldo
Blogs e Colunas | Joedson Telles 27/09/2020 09h17

Coordenador da campanha do candidato do PT à Prefeitura de Aracaju, Márcio Macedo, o ex-presidente da legenda em Sergipe, Silvio Santos, evidencia, nesta entrevista, que há dificuldades a serem superadas, mas não está descartada uma reaproximação entre o PT e o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT). "Na política não existe jamais, mas é preciso dizer que é muito difícil reatar qualquer aliança com Edvaldo no curto e médio prazo. Além de todos os esforços do PT para fazer Edvaldo três vezes prefeito da capital, em vários momentos cortando na própria carne para apoiá-lo, nesse último mandato nós concedemos a ele todas as oportunidades para uma repactuação programática e ele ignorou solenemente. Negligenciou e fez pouco caso com um aliado histórico", diz Silvio Santos. 

O senhor assina um artigo publicado no site Universo Político repudiando o uso eleitoral da memória do saudoso Marcelo Déda em um vídeo apócrifo, atacando o pré-candidato Edvaldo Nogueira. Devemos nos preparar para uma campanha rasteira? O que o episódio evidencia?

Os principais protagonistas das campanhas eleitorais, nos últimos anos, rebaixaram muito o nível dos debates. A falta de conteúdo, somada à ausência de clareza ideológica, multiplicada pela intolerância criaram o ambiente adequado para a criminalização e o consequente rebaixamento da política. É nessa seara que surgem os camaleões oportunistas, os aventureiros e os justiceiros/milicianos. Com personagens desse perfil, a primeira vitima é a política e o debate de ideias. Sem conteúdo para apresentar um programa claro para a sociedade resta a esse tipo de candidato a baixaria, a fofoca e a tentativa de desconstruir seus adversários através da vilania. Esse é o terreno fértil onde nasceu e prosperou o já famoso marketing do mal. Essa pré-campanha já deu sinais de que esse modus operandi vai continuar existindo nas eleições de 2020, infelizmente. O que posso garantir é que nós do PT, por acreditarmos na política, não adotaremos essa prática. Nós somos um partido que se construiu no debate político. Defendemos causas e temos um ideário. Não temos tempo a perder com sordidez, injúrias e difamações. Além do mais nós temos um legado a defender. Nós somos os legítimos herdeiros de Marcelo Déda o maior líder político da história de Sergipe. Um homem que fez da política algo nobre, positivo e em prol do bem comum. Nunca se viu Marcelo Déda desqualificar nenhum adversário pessoalmente. Sempre combateu no campo das ideias. Em nome dele, de sua história de vida e da sua vitoriosa trajetória é que nós estaremos sempre a combater o marketing do mal e os que praticarem o aviltamento da política.

Como coordenador político da coligação que apresenta o petista Márcio Macedo como pré-candidato a prefeito de Aracaju, qual o balanço que o senhor faz desta pré-campanha? Foi dentro das expectativas do PT?

Foi uma pré-campanha atípica. A pandemia provocada pela COVID-19 nos impôs uma realidade a que não estávamos acostumados. O necessário isolamento social e os cuidados para evitarmos o contágio nos tirou das ruas. Nos impediu o contato mais direto com as pessoas, algo tão importante nesse momento de construção. A preocupação legítima das pessoas com o vírus e suas consequências relegaram o tema eleição para um segundo plano. Isso fez com que esta fase fosse menos discutida, menos abordada e consequentemente mais fria. Mesmo assim considero positiva nossa construção. Conseguimos unificar todo o partido, suas lideranças e sua militância em torno do nome de Marcio Macedo. Enquanto nossos adversários e seus analistas na imprensa apostavam que nós ficaríamos isolados, nós construímos uma aliança com o PROS e a Rede de Sustentabilidade, ampliando com lideranças políticas populares a exemplo do ex-deputado Robson Viana e do ex-presidente da OAB, Henry Clay Andrade, consolidando a nossa candidatura como a única opção real do campo progressista nessas eleições em Aracaju.

Como o partido chega para encarar a campanha nas ruas? Qual o discurso?

Estamos muito mobilizados e a nossa militância muito animada. Desde Déda, em 2004, há dezesseis anos que o PT não disputava a eleição para prefeito de Aracaju com candidatura própria. Isso por si só já anima os petistas. Aliás, esse dado cala a boca daqueles que nos acusam de hegemonistas. Apoiamos candidaturas de outros partidos durante todo esse período. Mais: ajudamos a construir programas de governo que nossos aliados nunca tiraram do papel. Além de toda legitimidade que o PT, como qualquer partido tem, de lançar candidatura própria, entendemos que é chegada a hora de uma candidatura realmente comprometida com o nosso programa. O nosso discurso será modernizar a cidade para o exercício da cidadania. Será o de construir uma cidade saudável e ambientalmente sustentável para todos nós. Enfrentar o caos em que se encontra a saúde pública, recuperar a atenção básica e qualificar a prestação de serviços de saúde cuidando mais e melhor das pessoas. Melhorar a qualidade da educação pública em nosso município. Superar os atuais índices apresentados pelo IDEB. É inadmissível o descaso da atual gestão com a educação pública que atende principalmente os filhos das famílias mais pobres em nossa capital. Desprivatizar a prefeitura conforme já fizemos com Déda no início dos anos 2000. Para isso vamos colocar na ordem do dia temas como Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU). A melhoria da qualidade de vida de nosso povo passa por um novo ordenamento do espaço urbano. Vamos definitivamente enfrentar a questão da licitação do transporte público em nossa capital. Os aracajuanos usuários de transporte público de Aracaju merecem respeito e um transporte confortável, pontual e de qualidade para se locomover. Enfim, pretendemos governar para todos, dialogando e respeitando todos os setores da sociedade, mas a nossa prioridade sempre foi e continuará sendo aqueles que mais precisam do poder público.

As pesquisas não colocaram, até hoje, Márcio Macedo como o favorito para vencer o pleito. Por conta disso, há quem argumente que o PT reverteu uma eleição, em Aracaju, mais difícil, em 2000. Este raciocínio pode ter lógica sem levar em conta a densidade eleitoral do então candidato Marcelo Déda? Não foi uma eleição na qual pesou o lado individual, e não só a força do partido?

Claro. Nenhuma eleição é igual a outra. Eu, embora não seja ingênuo, não gosto de desqualificar pesquisas. Mas, temos vários exemplos de que muitas vezes as pesquisas não conseguem captar direito o sentimento do eleitor. Nem sempre acertam. Além do mais, como diz o ditado, o jogo só termina quando acaba. A campanha de verdade começa agora. É a partir de agora que os candidatos começarão de fato a expor suas ideias, seus programas e o seu preparo para liderar os aracajuanos frente a complexidade dos desafios existentes. É doravante que o povo vai prestar mais atenção nas propostas e observar quem está mais preparado para executá-las.

Os erros do PT na esfera nacional estão pesando neste pleito de Aracaju ou o eleitor sabe separar as coisas?

Em primeiro lugar, para analisarmos com isenção e profundidade, precisamos entender que o PT passou por um processo de execração pública muito mais pelos seus acertos do que pelos seus erros. A elite conservadora nacional nunca aceitou o PT. O PT chegou ao governo porque conquistou maioria na sociedade e, apesar dessa elite conservadora apostar que o PT não conseguiria se sustentar, ele governou, governou bem e se manteve no governo por quatro eleições seguidas pelo voto da maioria dos brasileiros. Só saiu quando foi golpeado. Assim como Vargas, Jango, JK e todos os governos populares da história do Brasil, o PT também, vê-se agora com as constantes denúncias e desmoralização de Lava a Jato, foi vítima do mesmo processo histórico. Todos os quadros petistas que foram acusados de corrupção estão sendo inocentados em instâncias superiores. Já foram inocentados Luiz Gushiken, José Genoíno, Delúbio Soares, João Vaccari, Paulo Ferreira. Foi esse massacre midiático sobre a ética que exacerbou o antipetismo e provocou estragos na imagem do partido até mesmo perante sua base social. Porque foi a primeira vez na história que a corrupção foi tratada com uma ação coletiva, partidária. Todas as outras denúncias tinham um nome e um cpf. Quando se tratava de um petista era dita de forma a ser entendida como se fosse de todos os partidários. Uma narrativa estúpida, mas uma narrativa que, de tanto repetida, ganhou corpo na sociedade. O tempo e as contradições dos justiceiros fazem hoje esse sentimento negativo sobre o PT se arrefecer. Para além disso, a profunda recessão econômica que provoca um dos mais altos índices de desemprego da nossa história, que aumenta a pobreza, coloca milhões de brasileiros em estado de miséria absoluta e devolve o país ao mapa da fome, somados ao sucateamento da indústria nacional, a fuga de capitais, a entrega de nossas riquezas e uma política perversa de retirada de direitos dos trabalhadores, fazem a sociedade repensar quem é de fato seu inimigo. Por isso se preparem. Nós vamos fazer esse debate. Aracaju não é uma ilha. Os aracajuanos sofrem com essa política igual aos brasileiros do resto do país. O nosso povo não é cego. Todo mundo está vendo o que esse governo fez com a Petrobras aqui em Sergipe. Todos sabemos da importância dessa empresa para nossa economia. Todos viram recentemente o presidente da República nos visitar, ser recebido em festa, afagos e salamaleques e ninguém cobrou uma posição, um compromisso ou uma atitude dele em relação a permanência da Petrobras em nossa terra. Nem governador, nem prefeito, nem os deputados e o senador que o acompanhavam. Nenhum deles demonstrou a mínima preocupação com esse atentado à economia do nosso estado. Somente o PT, através do senador Rogério Carvalho, do deputado João Daniel e de outros petistas sem mandato têm se posicionado sobre o assunto. Os sergipanos sabem. O povo não é bobo.

Márcio Macedo tem subido o tom quando faz críticas ao prefeito Edvaldo Nogueira. Na sua ótica, essa postura significa que não há como PT e Edvaldo Nogueira reatarem a aliança, seja num eventual segundo turno ou mesmo no pleito de 2022?

Na política não existe jamais, mas é preciso dizer que é muito difícil reatar qualquer aliança com Edvaldo no curto e médio prazo. Além de todos os esforços do PT para fazer Edvaldo três vezes prefeito da capital, em vários momentos cortando na própria carne para apoiá-lo, nesse último mandato nós concedemos a ele todas as oportunidades para uma repactuação programática e ele ignorou solenemente. Negligenciou e fez pouco caso com um aliado histórico. Ademais, não fazemos política como quem participa de uma confraria de fumadores de charutos. Somos um partido político e não um grupo de amigos. Dessa forma damos importância as questões programáticas e nesse campo Edvaldo já se distanciou em muito da gente.

Qual o peso do ex-presidente Lula nesta caminhada do PT nas eleições de Aracaju? Ele assegurou presença física?

Gostem ou não do Lula, uma coisa não há como negar: é o maior líder político que o Brasil já conheceu; e é, inegavelmente, uma liderança reconhecida em todo o mundo. Não há como abrir mão de alguém assim numa campanha. Ainda mais em Sergipe e em Aracaju onde sua marca de governante está presente em várias obras. Obras de concreto e obras sociais extraordinárias que melhoraram a vida do nosso povo e que cotidianamente a gente ouve os agradecimentos. Teremos, sim, para alegria da nossa gente, o Lula conosco na campanha ao lado de Márcio, Ana Lúcia, aliados do PROS da Rede, vereadores e nossa militância.

Como o senhor avalia este discurso do novo?

O novo enquanto renovação, renascimento, reoxigenação, revolução é sempre algo bem vindo e essencial para avançarmos. Mas quando esse novo representa apenas um nome de fantasia, sendo, na verdade, sinônimo de engodo, hipocrisia, enganação e flerta com o fascismo devemos repudiá-lo e enfrentá-lo com todo rigor e vigor.

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