Parlamentar petista defende que o PT entregue os cargos a Belivaldo | Joedson Telles | F5 News - Sergipe Atualizado

Parlamentar petista defende que o PT entregue os cargos a Belivaldo
Blogs e Colunas | Joedson Telles 17/01/2021 06h43

Vereadora petista, a Professora Ângela Melo afirma, nesta entrevista que o PT precisa retomar o seu papel de protagonista na política sergipana, nas eleições 2022. Segundo a parlamentar, isso passa por construir alianças com o campo progressista e disputar o Governo de Sergipe. Professora Ângela Melo salienta, entretanto, ser preciso, antes, o PT entregar os cargos comissionados que ocupa, hoje, no governo Belivaldo Chagas (PSD). "De minha parte e da tendência que integro, não haverá recuo na defesa da candidatura própria e nos passos necessários para a construção de um bloco progressista, o que inclui a entrega dos cargos que o partido ocupa no atual governo.

O que Aracaju pode esperar do seu mandato?

Aracaju terá na Professora Ângela Melo uma vereadora que atuará a partir de quatro características principais: autonomia, enfrentamento, proposição e escuta às demandas populares. Quando falo em autonomia, digo em relação a quaisquer governos. O nosso mandato será pautado pela defesa inegociável dos direitos da classe trabalhadora de Aracaju, em especial dos segmentos mais vulnerabilizados. Quando menciono enfrentamento, estou afirmando que o mandato estará, de forma permanente, denunciando e lutando contra medidas que fragilizem a democracia e que retirem direitos. Mas além da denúncia e fiscalização, o mandato será de muita proposição, com a apresentação de indicações, projetos e outros instrumentos legislativos para a melhoria da vida das pessoas que vivem em nossa cidade. E a escuta às demandas populares será materializada pela nossa constante presença nos bairros, dialogando com as pessoas, acolhendo as suas reivindicações, levando as suas demandas para o Plenário e defendendo a abertura de espaços na Câmara para a participação da sociedade.

A senhora chegou à Câmara de Aracaju, vencendo também uma "disputa" interna contra o professor Joel Almeida, então candidato que representou a tendência petista da qual a senhora, o deputado Iran Barbosa e a ex-deputada Ana Lúcia se desligaram. Isso mostra que o eleitor, sobretudo o professor, compreendeu o processo?

Não compreendo a eleição para o Legislativo como uma disputa entre candidatos do mesmo partido político. Até porque ninguém consegue se eleger unicamente pelos seus votos, por isso todos os candidatos são importantes para o projeto partidário. Nesse sentido, a disputa era entre todas as candidaturas, de todos os partidos, pelas 24 vagas de vereador e vereadora. Sobre a minha candidatura especificamente e a votação que me garantiu uma das vagas na Câmara, faço questão de frisar que foi candidatura de uma tendência interna do PT, a Militância Socialista, que é composta por advogados, assistentes sociais, professoras e professores, jovens estudantes, desempregados e outras categorias e segmentos. Dentro da Militância Socialista, temos lideranças como a ex-deputada Ana Lúcia e o deputado Iran Barbosa, que sempre atuaram a partir das mesmas características que falei anteriormente. Então, acredito que a população de Aracaju reconheceu essa construção coletiva e expressou o desejo por ter uma parlamentar com esse perfil.

O PT apoiou a reeleição do prefeito Edvaldo Nogueira, no segundo turno. Isso a coloca como aliada dele? Qual será sua postura na Casa?

A decisão do PT no segundo turno da eleição municipal foi de muita responsabilidade com os perigos do momento que vivemos. Vivemos um cenário de acelerado avanço do fascismo, de virulência institucional e de criminalização da política de esquerda ou de orientação progressista. Golpe contra a presidenta Dilma e a permanente perseguição ao presidente Lula são parte desse quadro. Então, analisamos esse cenário e decidimos, como expresso no documento publicado pelo partido, pelo voto crítico em Edvaldo, ressaltando que isso não significa participação em sua campanha nem presença num eventual governo. Com Edvaldo reeleito, a minha postura já está sendo (e permanecerá) de oposição, firmeza nas denúncias, independência e apresentação de propostas que garantam os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Uma primeira prova disso foram as duas indicações que apresentei, antes mesmo do início dos trabalhos no Plenário: uma sobre a adoção de medidas urgentes para aquisição da vacina e imunização de toda a população e outra sobre a criação da Renda Básica Municipal, como fez a Prefeitura de Belém, por exemplo.

Quais pautas precisam ser prioridades, em 2021, na Câmara de Aracaju, além do combate ao coronavírus?

Aracaju é uma cidade extremamente desigual. E isso não é mero discurso. Basta vermos as condições de vida das pessoas que moram nas zonas periféricas e comparar com as que vivem nas áreas nobres. Basta vermos como, mesmo na pandemia, as pessoas são obrigadas a se amontoar em ônibus lotados e sem qualidade. Basta vermos como muitos bairros ainda carecem de estruturas básicas de saneamento, iluminação e asfaltamento. Basta vermos como cresce a cada dia o quantitativo de pessoas desempregadas e em situação de extrema pobreza. Então, as prioridades do Legislativo Municipal devem estar sintonizadas com a necessária reversão dessas desigualdades, o que passa pela concepção da cidade como um direito humano fundamental. Ou seja, a cidade precisa ser um ambiente de expressão da dignidade e dos direitos de todas as pessoas que nela vivem e não um espaço de enriquecimento de alguns poucos. Partindo desse entendimento, a Câmara deve dedicar os esforços a discutir a revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano; o Estatuto da Cidade; a criação de um Plano Municipal de Mobilidade Urbana, que contemple a licitação do transporte coletivo, a implantação do Passe Livre para estudantes e desempregados e a valorização de modais coletivos; o fortalecimento do Sistema Único de Saúde e do Sistema Único da Assistência Social; a preservação e revitalização de Áreas de Preservação Permanente e dos ecossistemas predominantes na cidade; a garantia de um Plano Municipal de Arborização; a valorização das servidoras e servidores públicos, com respeito aos seus salários e cumprimento dos reajustes previstos em lei, dentre outros temas.

O que faltou para a candidatura de Márcio Macedo empolgar o eleitor?

Na verdade, precisamos reconhecer que a política institucional tem como um dos principais desafios justamente reempolgar a população. Então, não é um ou outro candidato que não tem empolgado. Os altos e crescentes índices de abstenção eleição após eleição, em todos os níveis, são um recado para todos (as) que se colocam para a representação política. Além desse quadro, que é geral, enfrentamos todos os dias o antipetismo, que é uma postura de promoção do ódio contra o PT, mas também contra toda a esquerda brasileira. Tudo isso deve ser considerado ao avaliarmos as votações das candidaturas petistas.

Márcio Macedo era o melhor quadro do partido, para encabeçar o projeto em Aracaju?

O PT de Aracaju tem diversas lideranças com condições de representar o nosso projeto de sociedade e de conduzir o nosso programa de cidade. Márcio Macedo é uma dessas lideranças e foi a que, com muita determinação, se apresentou ao partido para cumprir essa tarefa coletiva necessária.

Qual a lição que o PT precisa aprender com a eleição 2020?

Muitas, afinal, toda eleição é um processo educativo e de aprendizado. Se não tiramos lições, corremos o risco de insistir nos possíveis erros logo adiante. Qual era o nosso objetivo principal nas eleições de 2020? Voltar a governar Aracaju, retomando o modo petista de governar, que Aracaju conhece da experiência com Marcelo Déda. Não conseguimos esse objetivo por alguns motivos que já coloquei anteriormente, mas também porque não demos a devida prioridade ao processo de educação política da sociedade, porque em determinados momentos priorizamos a luta institucional e negligenciamos a luta popular e social, porque em alguma medida nos encastelamos e passamos a perceber pouco as mudanças vividas pela classe trabalhadora. Então, as principais lições são: precisamos de um PT ainda mais próximo da vida cotidiana das pessoas, precisamos de um PT que dispute a institucionalidade e que tenha a mobilização popular e social como preocupação diária, precisamos de um PT que invista na educação política.

Criticar Edvaldo no primeiro turno e apoiá-lo no segundo foi um erro do partido?

Não houve erro na orientação política e não houve apoio, mas voto crítico a Edvaldo. A crítica é fundamental em qualquer ambiente democrático. E é importante destacar que a crítica que fazemos é sempre no campo das opções políticas, das alianças feitas e da forma de condução da cidade. Como falei antes, a nossa decisão foi pautada na responsabilidade com o momento que vivemos e fincada na defesa da nossa autonomia.

Na eleição de 2022, o PT deve estar no agrupamento de Belivaldo Chagas, apoiando o nome do bloco ou apresentar um candidato próprio a governador?

De forma bastante direta: entendo que em 2022, o PT deve retomar o seu papel protagonista na política sergipana. Isso passa por construir alianças com o campo progressista e disputar o Governo de Sergipe, com um programa democrático e popular.

É possível o PT pensar em candidato própria ocupando espaços no governo Belivaldo?

O PT é um partido de militância ativa, que disputa internamente as diferentes táticas a serem adotadas nos diferentes momentos históricos. De minha parte e da tendência que integro, não haverá recuo na defesa da candidatura própria e nos passos necessários para a construção de um bloco progressista, o que inclui a entrega dos cargos que o partido ocupa no atual governo.

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Joedson Telles é um jornalista sergipano formado pela Universidade Federal de Sergipe e especializado em política. Exerceu a função de repórter nos jornais Cinform, Correio de Sergipe e Jornal da Cidade. Fundou e edita, há nove anos, o site Universo Político e é colunista político do site F5 News.

E-mail: joedsontelles@gmail.com

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