PT pode não apoiar reeleição de Edvaldo e ter candidato próprio | Joedson Telles | F5 News - Sergipe Atualizado

PT pode não apoiar reeleição de Edvaldo e ter candidato próprio
Blogs e Colunas | Joedson Telles 25/11/2018 11h09

A deputada estadual Ana Lúcia Menezes, a Ana Lula, avalia que o PT saiu fortalecido das eleições 2018 e discutirá a possibilidade de ter candidato próprio à Prefeitura de Aracaju, em 2020, e ao Governo do Estado, em 2022. Sobre apoiar uma eventual candidatura à reeleição do prefeito aliado, Edvaldo Nogueira (PC do B), a deputada dá uma dica, ao ecoar o sentimento dos companheiros petistas. “O Edvaldo do momento, eu vejo muita insatisfação por parte de todos os agrupamentos do PT. A forma que ele nos tratou no primeiro e segundo turno, principalmente a campanha de Haddad, foi uma decepção. Ele não tomou posição. O único momento que eu vi Edvaldo na campanha de Haddad foi quando ele esteve aqui. Os outros momentos eu não vi em espaço nenhum ele usando sua liderança para ajudar o companheiro Hadad e a companheira Manuela, que é do seu partido”, diz Ana Lula, que fala ainda do papel que desempenhou como parlamentar, do seu futuro, das expectativas sobre o governo Belivaldo, faz o alerta sobre o futuro governo Bolsonaro e comenta a prisão e o atual momento do ex-presidente Lula.

Na semana passada, a senhora fez parte do lançamento do “Natal de Lula”. Qual a importância desse evento?

Nós discutimos no nosso gabinete a importância de um novo diálogo com Lula nesse período natalino. Aqui em Sergipe, o nosso mandato foi o primeiro a fazer as cartas da população diretamente para Lula. Essa foi uma proposta da professora companheira nossa da Universidade Federal de Sergipe, Cristina. Ela trabalha com português e literatura. Foi um sucesso. A partir dessa experiência, há associações fazendo cartas coletivas, mas corpo a corpo foi aqui em Aracaju o primeiro. Pensamos em fazer o “Natal de Lula” e começamos, na quarta-feira, à tarde. Eu mandei fazer com meu salário. Imprimimos 1 mil cartões para retomarmos esse diálogo de comunicação à distância com Lula. Acho que é uma forma dele se distrair, resignificar sua vida, perceber que continua sendo o maior líder desse país através das mensagens, perceber que a vida aqui fora não está fácil, mas a dele está muito pior. É uma forma de a população demonstrar solidariedade, resistência e manter a esperança de ver Lula livre, que é uma necessidade humana a liberdade. Não podemos deixar de resistir quando estamos vendo que a prisão de Lula é política, agora mais claro do que nunca. Desde o início, estamos dizendo que não se tem nenhuma prova contra Lula. É uma prisão que foi definida por um grupo extremamente conservador, anti-esquerda, anti-petista, anti- partidos progressistas, que tendo Lula como a maior liderança, construiu uma narrativa antiga da Rede Globo que a corrupção veio com o PT. Trabalha a mentira e isso vai penetrando nas mentes e corações das pessoas e foi consolidado com o impeachment de Dilma e agora com a prisão de Lula. O próprio juiz que definiu todos esses procedimentos, durante a campanha, solta um vídeo dizendo tanta mentira que nem o Ministério Público acatou - aquele depoimento do Palocci -, mas ele solta para prejudicar Haddad no primeiro turno. No segundo turno, ele aceita o convite para ser o ministro da Justiça e o vice-presidente Mourão dizendo que ele já sabia, desde o primeiro turno, que seria convidado para ser ministro. Ficou muito claro que ele construiu todo um procedimento para tirar as esquerdas da disputa, e tirar a possibilidade de Lula voltar a ser presidente. Com essa visão conservadora, de vingança, essa forma nas relações sociais, eu vejo que precisamos fazer uma grande mobilização nacional e internacional para que Lula realmente seja livre porque uma pessoa com 73 anos, com debilidade de saúde, porque Lula é forte de espírito, mas todo mundo acompanhou o sofrimentos dele quando teve um câncer de laringe, e ele não tirou o tumor. Ele preferiu o tratamento extremamente agressivo a perder a voz. Em decorrência disso, ele passou a ser uma pessoa diabética. Uma pessoa que tem a liderança que ele tem, que tinha vida ativa como ele tinha, está em uma solitária há mais de sete meses. O Sérgio Moro aceita ser ministro, não pede demissão, e, constitucionalmente, fragilizou a Justiça - e fragilizou mais ainda quando pediu férias para que a sua substituta que tem a mesma intolerância dele interrogasse. E já estava marcada aquela audiência. Nós assistimos àquele espetáculo de uma mulher intolerante, desrespeitosa, que não respeita nem a idade de Lula, que é respeitado no mundo inteiro. Tem toda uma mobilização nacional e internacional pelo “Lula livre”. Aqui em Sergipe, tivemos essa ideia do “Natal de Lula”. O Instituto Lula já estava, nas redes sociais, pedindo que a população mandasse cartões e mensagens de Natal para Lula. A partir dessa experiência de relação direta com a população, que é um perfil do meu mandato, eles aproveitaram e divulgaram na rede social para todos os estados, mostrando que já começamos e dando o endereço para que as pessoas, grupos, entidades, façam sua mensagem de Natal e mandem pra Lula porque isso realimenta a coragem de Lula. O Instituto Lula nos informou que as cartas já estão no memorial, porque, na verdade, eu mando as cartas para o partido, em Curitiba, que é presidido por doutor Rosinha. Nas visitas, ele encaminha para que Lula veja a quantidade de mensagens, que é de muito carinho, e fizemos vídeos também. O Instituto Lula pediu que tudo que fizermos pedisse nome e endereço, porque eles vão colocar no documentário sobre Lula preso, e essa comunicação precisa ter o endereço das pessoas porque eles têm que pegar a autorização dessas pessoas. Por isso nosso cartão tem o remetente e o endereço. Em termos de vídeo, a gente já vai pedir autorização ou não para ser usado em qualquer documentário em favor de Lula.

Naquele discurso histórico que Lula fez, antes de ser preso, ele colocou que “é uma ideia”. A senhora ajuda a tirar isso do discurso e levar para a prática com o “Natal de Lula”?

Sim. No nosso cartão, escolhemos coletivamente que deveria ser ilustrado com aquela foto que Lula está saindo do sindicato para ser preso e a população o coloca nos braços que viralizou no mundo inteiro, e em cima tem um poema da nossa jornalista Débora, inspirado que ele é uma ideia. É uma prisão que significa a prisão da maioria da população brasileira, principalmente a mais pobre, de nós nordestinos, dos camponeses, dos operários, dos desempregados, dos desvalidos. Estamos vendo que estamos ficando presos porque querem calar nossas vozes, tirando os nossos direitos, sejam trabalhista ou sociais, e a voz que transcende o Brasil é a voz de Lula. A luta pela democracia em nível internacional, que está começando no Senado dos Estados Unidos, a primeira pessoa do Brasil que foi convidada para integrar essa frente dos valores democráticos foi o Haddad, porque Lula está preso. Foi a nossa liderança indicada por Lula que fez bonito na campanha. Na semana passada, ele já fez uma reunião com nossos senadores e deputados federais. No dia 1º de dezembro, ele vai estar em Washington e será uma reunião de senadores progressistas onde eles vão estar mobilizando o mundo inteiro em defesa da democracia.

A preocupação é com o avanço de forças conservadoras?

Esse avanço das forças conservadoras é um avanço que prestigia quem já tem prestígio e que acha que seu prestígio está acima de qualquer ser humano. Isso é muito perigoso porque vai retroagindo em todos os setores da civilização. Se você perceber, as forças conservadoras não olham a ciência, a tecnologia, o estudo. Um diplomata que vai ser um ministro das relações exteriores dizer que a revolução francesa era marxista, quando Marx nasceu em 1818 e a revolução foi em 1789, é um absurdo. São coisas assim que estão assustado todos nós. Essa proposta de escola sem partido, que, na verdade, é escola de um partido único, o de direita, conservadora, fiscalizadora porque estão querendo controlar e vigiar a autonomia do professor dentro da sala de aula porque a Constituição nos protege nesse sentido. Como você vai colocar história contemporânea e vai falar da Segunda Guerra Mundial sem falar do holocausto? Eles defendem o holocausto. Tem que falar. As pessoas precisam entender as várias interpretações da história, dos historiadores, seja de direita ou esquerda, porque é preciso que o aluno tenha informação das várias interpretações da história. Da mesma forma, com a matemática, a química, a física. Temos que ver os físicos positivistas porque é isso que vai humanizando a ciência para humanizar a sociedade.

Há uma preocupação com o perfil que o governo Bolsonaro terá, então?

A gente fica preocupada com essa desqualificação desses quadros que estão sendo convidados para assumir como agentes públicos. O ministro da Fazenda não entender de Orçamento, e colocar para o presidente do Senado que não interessa discutir o Orçamento agora? No próximo, ano ele vai implementar o Orçamento que vai ser aprovado agora. Ele mostrou ser ignorante sobre o papel do Estado, o que é uma Lei de Diretrizes Orçamentárias. Como ele vai liderar a implementação de um orçamento que é o coração do Ministério da Fazenda sem entender dessa área? É uma situação muito difícil.

Lula continua orientando os companheiros?

Lula recebe as visitas das nossas lideranças, e através das visitas, ele vai orientando todos nós do PT e das forças progressistas. Boulos, que é um grande líder do movimento dos trabalhadores sem teto, foi candidato a presidente pelo PSOL, mas tem um forte diálogo com Lula. Depois do segundo turno, ele foi fazer uma visita a Lula, que continua conversando com várias lideranças, como João Pedro Stedile e as nossas lideranças de outros partidos, lideranças religiosas de “várias fés”, apesar de ser católico. Ele e a companheira Mariza sempre tiveram como orientador espiritual o Frei Beto. Hoje, eu vejo que a relação dele é muito próxima com Leonardo Boff. É um dos que ajuda espiritualmente ele estar enfrentando essa situação. Vamos estar juntando forças e energia para superar essa fase sempre na busca de humanizar a sociedade, garantindo nossos direitos, principalmente das diferenças e das divergências, de termos espaço de fazermos opções ideológicas, políticas e sexuais diferentes. A diversidade precisa ser respeitada na religião, no trabalho, nas relações sociais. A imprensa está sendo desmontada. É assustador. Os jornalistas estão sendo demitidos de grandes empresas. É uma coisa que nos assusta, mas não podemos reforçar a pedagogia do medo. Precisamos reforçar a pedagogia da esperança e eu acho que Lula simboliza essa pedagogia. No coletivo, você vai descobrindo o caminho de superação e de vitória.

Um dos argumentos para escolher o Haddad, e não o Bolsonaro, foi entender que o PT errou, mas tem um projeto social conhecido. Errou, mas, se tivesse outra oportunidade, poderia não errar outra vez. Já o Bolsonaro se mostrou despreparado. É mais ou menos por aí?

Eu acho que os liberais que votaram em Haddad o maior argumento é que o PT é democrata e que respeitava todas as diferenças. Foi o PT que regulamentou e fortaleceu a Polícia Federal, a Justiça Federal, o Ministério Público Federal. É Lula quem vai fortalecer e ser vítima desse fortalecimento. O grande erro do PT foi ter trabalhado em sua fundação e em todo esse processo, nos espaços públicos, o combate à corrupção, de não usar a máquina pública para fortalecer grupos políticos e acabou caindo no caixa dois. O grande erro do PT foi o caixa dois, que é o modelo político. Bolsonaro, agora, com a rede social? Caixa dois. Os grandes empresários pagaram para que acontecessem aquelas mentiras e calúnias. Favoreceu a eleição dele em cima de mentiras, de fake news, como a cartinha da ideologia de gênero. O próprio Tribunal Superior Eleitoral desmentiu que não teve cartilha durante o governo Lula nem Dilma, mas ele insistiu. O que nos assusta são segmentos das Forças Armadas, principalmente do exército, serem omissos e fortalecer esse tipo de ação. Eles têm que defender a Nação. Não podem defender a privatização da riqueza nacional, da nossa água, da nossa floresta, do nosso petróleo, de todas as riquezas minerais desse país que pertence ao povo brasileiro. É uma forma de você defender seu território e seu povo. Eu espero que as Forças Armadas continuem nacionalistas, e não deixem que a privatização aconteça como o ministro da Fazenda quer. Se privatizar a Chesf, está privatizando as águas do Rio São Francisco. Um rio que já está debilitado, porque há mais de 500 anos que já começamos a usar de forma indevida, jogando os dejetos, desmatando a mata ciliar. São várias formas que o homem usou o rio e que agride o rio. Estamos vendo que os elementos da natureza não são infinitos e sofrem com as ações do homem. Por isso o exemplo dos indígenas e das populações afros, porque na sua religiosidade usam os elementos da natureza e daí são protetores. Precisamos entender isso para ver de que forma avançamos na tecnologia, mas com o que chamamos de sustentabilidade. Usa da tecnologia de forma que aquele emento da natureza possa estabelecer. Se você usa a irrigação na região do semi árido do sertão sem ter cuidado com a tecnologia e a forma de irrigar você vai transformar ali num deserto, como a Austrália, pelo mau uso do solo. Há locais no sertão que não se pode irrigar. Se irrigar, a terra é muito salinizada e não vai ter mais condições de vida ali. Manter a caatinga é manter nossa vida. Primeiro porque a caatinga tem elementos fundamentais para tratamento da nossa saúde. Se você não tem aquela vegetação equilibrada vai matar a possibilidade de vida humana e animal. Se vai destruindo nesse momento para a criação do gado, de repente vai secar de vez, vai salinizar e daqui há 30 anos não vai ter mais nem caatinga e nem condições de vida humana. É isso que a maioria da população precisa entender. Até em nível internacional assustou quando o novo presidente disse que ia juntar Meio Ambiente com Agricultura. Até o agronegócio se assustou porque ia perder todo mercado internacional. Precisamos manter vivo o debate para realmente sustentar nossa democracia.

A senhora não disputou a reeleição. Qual o legado está deixando com tantos anos de vida pública?

Eu não vou deixar a vida pública. Foram quatro mandatos. A Casa é uma grande escola. Eu só disputei eleição para deputada estadual – e, no meu primeiro mandato, fui a mais votada de Aracaju e a sexta mais votada de Sergipe. No segundo mandato, fui a segunda mais votada de Aracaju, atrás de Adelson Barreto, e a quinta mais votada de Sergipe. No terceiro mandato, quase que não era reeleita. Queimaram-me bastante quando ocupei a Secretaria de Inclusão Social, dizendo que eu tinha traído os professores. O parlamentar tem a prerrogativa de se afastar do mandato para servir no Poder Executivo. Foi um pedido de Déda que eu atendi e passei dois anos e aprendi demais a entender melhor os movimentos sociais porque ali a gente trabalha diretamente com a pobreza. Na Assembleia, meu grande desafio foi procurar implementar os princípios do meu partido e da minha corrente (Articulação de Esquerda), e, portanto, um outro modelo de política, seja nas ruas, seja nos movimentos. Acho que esse final de mandato, pelas avaliações dos movimentos sociais, do sindicatos, da sociedade em geral. Eu acho que cumpri a minha missão. Consegui colocar uma outra visão de exercício parlamentar que não fosse tão ligado aos poderes. Um Poder Legislativo muito subalterno ao Poder Executivo, ao Poder Judiciário, que é o modelo político que está aí. Tive muitos desafios, ameaças, mas com todas contradições eu acho que consegui implementar outra forma de fazer política mostrando que fazer política militante é o modelo que precisamos para fortalecer a democracia. Aprendi demais. Eu tinha uma visão de experiência em sala de aula e de movimento sindical. Tinha um diálogo muito aberto com os movimentos sociais, tanto é que na minha primeira eleição acho que sete movimentos fortes me apoiaram, mas eu não me inseria totalmente porque estava uma parte em sala de aula e outra em movimento social. Aqui, então, eu ampliei demais e fui aprendendo com todos esses movimentos. Comecei a fazer audiência sobre a questão da tolerância religiosa são 13 credos que vêm para as audiências. A gente vai aprendendo a visão de cada religião. Tem a predominância dos evangélicos e dos católicos e você vai aprendendo do judaísmo ao candomblé, os povos de terreiro, os quilombos. Os trabalhadores sem terra eu já acompanhava desde o movimento sindical e eles me apoiaram nas duas primeiras candidaturas. Criança e adolescente foi meu eixo de estudo. Eu passei a militar nessa causa, na questão dos idosos, em toda pauta dos direitos humanos, do emprego, da saúde, educação, gênero, LGBT, mulher, negros. No meu ambiente, cada vez mais, eu fui me inserindo e fui obrigada a estudar todas essas áreas para eu entender e fazer as defesas. Eu acho que foi uma grande escola pra mim. Eu só tenho a agradecer à população sergipana por essa oportunidade, de uma forma especial a todos aqueles que votaram e pediram voto que são a minha base mais forte, professores e colegas. Volto para sala de aula porque no meu modelo de política colocar o nome para um cargo eletivo não é profissão. Eu não fiz opção pela aposentadoria de parlamentar. A minha aposentadoria vai ser de professora. Com 46 anos de magistério, eu volto para sala de aula para recuperar a minha regência, que é a única gratificação que, constitucionalmente, não me é segura, e vou cuidar do meu estado de saúde e ver até quando ainda aguento dar aulas, porque dar aula é uma paixão. Depois eu me aposento. Mas vou continuar na militância, sim, no meu tempo. E, com certeza, acompanhando o mandato do nosso companheiro Iran Barbosa, que é um mandato que tem identidade de princípios e de proposições. Claro que ele com o perfil dele e eu com o meu, mas são os princípios que identificam as pessoas e ajudam na implementação de uma política pública. Eu volto para a sala de aula e continuarei nas atividades políticas, mas não para disputar cargo eletivo.

A senhora disse que espera não precisar disputar mais uma eleição. Pode, então, disputar?

Eu acho que não. Eu já dei minha contribuição nesse sentido. Com 70 anos, as energias não são as mesmas. A saúde e o corpo determinam limites, e, como a concepção e os princípios são de atender demandas da sociedade, e como eu sou Paulo Freiriana, para eu atender demandas eu tenho que ter escuta, por isso que faço tanto audiência pública, vou para os espaços, porque ali a gente sabe o que a população não está entendendo, e a gente vai aprendendo e interferindo nessa realidade. Depois de 70 anos, é muito difícil implementar dessa forma. É muito sacrifício. Eu vejo a companheira Erundina, com 80, mas não pretendo fazer esse sacrifício. Eu pretendo estar com os companheiros na luta. Eu sou muito chata comigo mesmo. Eu posso estar sentindo dores, mal estar, mas como tem aquela tarefa eu quero cumprir e fico muito mal quando não posso ir. Peço aos meus assessores para irem. A gente tem que conhecer nossos limites, e eu espero não precisar mais disputar eleição. Mas a gente não sabe o dia de amanhã. Eu sou do Partido dos Trabalhadores. Não sei o que vai acontecer com nosso partido. Eu vou me dedicar ao nosso partido também e espero não ter essa demanda mais. A gente não sabe o que vai acontecer com o partido, a partir do próximo ano com esse governo de ultra direita. Eu vou estar na defesa do nosso partido, em sala de aula, e com a expectativa de não precisar colocar meu nome à disposição de nenhuma disputa eleitoral pelos limites da saúde e idade.

Por que há tanta corrupção na política?

A corrupção não é na política. É na estrutura do capitalismo. Como diz Jessé de Souza, esse grande cientista, a corrupção está no capital financeiro que domina o mundo hoje. A gente precisa entender melhor o que é essa corrupção. A corrupção vai educando e criando uma cultura de você se apropriar de coisa que não devia se apropriar, deseducando a população para a questão do bem comum, o que pertence a todos. Os bens de uma nação pertencem à população, e não se deve usar as políticas públicas e esse dinheiro que vem de toda população para favorecer grupos, partidos, famílias. Na história do país, desde o processo da colonização, que se tem corrupção. Os coronéis controlavam toda política e você termina incorporando os instrumentos que os coronéis usavam, que é a troca, o favor, a subalternidade do cidadão ao político. Se eu preciso de uma cirurgia, mas não consigo de imediato, vou ao político, ele começa a mediar, consegue a cirurgia e eu acho que estou devendo favor. Aquilo é uma política pública paga por toda população. O político tem que resolver os problemas. Essa cultura de achar que o deputado é para resolver os problemas individuais e não coletivos é da cultura do povo brasileiro. Na escravidão não tinha cidadão. Tinha os colonizadores, escravos e indígenas, correndo para não serem escravizados. Tem um processo de colonização no país que desenvolveu numa elite uma concepção extremamente perversa de achar que tem seres humanos que tem que ser escravos deles no pensamento e nas ações, e começou-se a naturalizar isso. Veja a arrogância de alguns patrões e de algumas pessoas da classe média, que quando assume um cargo de chefe se acha proprietário do outro. A corrupção na política vem de um modelo que foi sendo construído e que o PT, assim como o PC do B, sempre combateram. Alguns do Partido dos Trabalhadores avaliaram erroneamente que para ter o processo de reeleição ou entrava na política de caixa dois ou não seria reeleito. A maioria dos deputados eleitos era por caixa dois e são eleitos por caixa dois. É um modelo que precisa ser desconstruído, mas a gente precisa construir outra cultura, que demanda tempo, com processos democráticos de debate, discussão, de estudo, reflexão. Você pode discordar de alguns argumentos meus, eu posso discordar de alguns argumentos seu, mas vamos buscar outras explicações para um novo debate, e vai mudando nossa percepção e gerando outra percepção. É assim que se dá o fortalecimento da democracia. A corrupção está na estrutura do capital, como o racismo também é estruturante no Brasil. Ele vai naturalizando as ações racistas como corretas. O comportamento e as políticas públicas, ao invés de serem políticas para o processo de superação desse preconceito, são de fortalecimento porque interessa ao capital essa visão. Interessa a um modelo econômico essa visão e aí reproduz nas relações sociais.

O que a senhora espera do novo governo de Belivaldo Chagas?

Eu espero que, na verdade, ele faça um governo diferenciado do governo Jackson Barreto, que vem de uma luta social, mas foi um desastre como governador, porque mostrou que não tem nenhuma motivação para governar o Estado, cada secretaria era um governo. Ele não controlava. Não educação foi um desastre absoluto. A experiência que eu tenho como colega parlamentar de Belivaldo é que ele é uma pessoa feita ao diálogo, escuta bastante, é uma pessoa que tem experiência administrativa. Com certeza vai gerar insatisfações, como parcelar o décimo terceiro. Eu vou ter que votar contrário porque não sou a favor disso, como funcionária pública. Mas acredito que, se ele mantiver essa concepção do diálogo, de escutar, de criar um conselho político que realmente ajude a implementar políticas públicas, que tenham um olhar para as camadas mais sofridas da sociedade, de forma articulada, com tecnologia social, escutando a população, para superar essa crise que o estado, espero que ele possa fazer um bom governo.

No contexto que se deu, a eleição de Rogério Carvalho para o Senado mostra a força do PT em Sergipe?

Eu acho que o PT mostrou ser o partido mais forte de Sergipe. Foi uma grande lição para Rogério porque ele viu que a candidatura mais difícil era a dele, que não tinha dinheiro, todo esse sistema poderoso econômico, e ele foi extremamente criativo. Aquela campanha dele nas redes sociais do falso e do verdadeiro, com Havaianas, vem da criatividade dele. Rogério, como um médico da saúde pública, no doutorado ele estudou muito esse processo de comunicação. Ele estudou muito a linguística. Ele entende também de comunicação, não só da medicina. É um rapaz novo, inteligente e buscou formas criativas de fazer a campanha, diferente da outra, e saiu vitorioso. A relação dele com Lula também foi importante. Lula ajudou bastante o crescimento do nosso partido no Nordeste. A gente precisa ter competência para manter e avançar mais ainda. Foi Lula que fez isso. Tanto é que os candidatos do PT colaram na figura de Lula. O partido saiu bastante fortalecido. Por isso que defendemos a candidatura própria do partido, porque a gente já percebia que, com a figura de Lula, o partido estava muito forte. A gente precisava disputar e consolidar o nosso programa. Conseguimos reeleger o deputado João Daniel, Márcio Macedo foi muito bem votado e tem a possibilidade de assumir, mantivemos as duas vagas da Assembleia e fizemos nossa vice Eliane. Belivaldo tem clareza que, se não fosse o PT, dificilmente, ele teria sido reeleito, porque o MDB estava muito queimado. Eliane teve um papel fundamental na campanha de Belivaldo e na de Haddad. No segundo turno, Eliane fez campanha sistemática em defesa de Haddad nas ruas, na televisão, nas redes sociais e mostrou sua liderança e ajudou a gente superar em Aracaju, Socorro, São Cristóvão e Barra dos Coqueiros. A Grande Aracaju deu uma reviravolta, o partido foi para as ruas de forma mais intensa. Nosso mandato mesmo, na terça-feira após o primeiro turno, aproveitamos o material de Rogério que sobrou, cortamos a estrelinha do 13 e saímos distribuindo nas ruas. A unidade do PT fez com que pudéssemos reverter esse cenário e vencemos em todos os municípios de Sergipe. Em Gararu, teve 87% dos votos. A maioria das cidades era 70%. A ação dos dois prefeitos, tanto de Socorro quanto de São Cristóvão, também foi importante. Foi uma bonita vitória de Haddad em Sergipe e em todo Nordeste. De uma forma especial, o Piauí que deu 76% dos votos a ele. Os dois grandes estados do Norte, Pará e Tocantins também Haddad ganhou. A maioria dos municípios votou com Haddad, mas as grandes cidades votaram com Bolsonaro, principalmente no eixo Sul e Sudeste. Tudo isso são dados que a gente tem que analisar para ver a nossa força. O PT é um dos maiores que saiu vitorioso no Brasil inteiro. Temos a maior bancada na Câmara Federal, conseguimos eleger quatro senadores, temos seis agora, e também elegemos muitos deputados estaduais do movimento sindical ou popular. Acho que essa é uma grande vitória - e vamos estar contribuindo para o fortalecimento do PT e da Frente em Defesa da Democracia, dialogando com todas as forças progressistas, não só dos partidos de esquerda, mas das forças progressistas que defendem a democracia.

O resultado da eleição coloca o PT com a possibilidade de ter um candidato próprio para disputar a Prefeitura de Aracaju?

Com certeza. Estou aguardando a convocação do presidente Rogério para uma nova rodada de conversa sobre a questão da Prefeitura de Aracaju e do governo, em 2022. O partido, neste final de novembro, vai ter reunião. Vamos ter agora, nos dias 28 e 29, em Brasília. Acredito que Rogério só vá chamar para conversar depois disso porque a gente tem uma visão mais consolidada do que o partido em nível nacional está pensando, mas, em nível nacional, o partido tem essa avaliação que saímos muito forte em Sergipe. Em Aracaju, o PT é um partido muito forte.

E Edvaldo Nogueira?

Edvaldo precisa dizer se continua dialogando com o partido que o elegeu, porque se não fosse o PT, a defesa que o partido fez da sua candidatura, a aceitação de Eliane de não fechar com o MDB, porque o MDB tinha dado o golpe, mesmo vendo que Jackson não participou do golpe, fizemos uma bonita campanha e queremos dialogar com Edvaldo. Ele foi eleito por esta coligação e queremos que os espaços sejam fortalecidos para serem mantidos. Isso vai depender do diálogo de Rogério e Eliane, claro que com as outras forças do PT em Sergipe. Mas quem está dialogando é o presidente com nossa vice-governadora, que ainda é vice-prefeita até dia 1º de janeiro, e que, agora, assumiu a prefeitura e mostrou sua capacidade de mediação enquanto gestora pública, já tentando resolver o problema da compra de medicação junto ao Tribunal de Contas, mostrando diálogo, com uma equipe técnica que tem que buscar alternativas para convencer os conselheiros e auditores que tem que se destravar algumas interpretações para favorecer a população. As políticas públicas existem para favorecer a população. Eu acho que ela encerrou esses 10 dias de mandato bastante feliz porque ela deu posse ao conselho da igualdade racial, que foi um conselho criado por Marcelo Déda há 13 anos.

Então, o PT espera um novo Edvaldo, do jeito que ele está não merece apoio? É isso?

Eu espero que Edvaldo mantenha os princípios do PC do B, o diálogo com a esquerda, a implementação de políticas públicas progressistas que tenham um recorte especial para aqueles que mais precisam. Não se pode priorizar só obras. Temos que priorizar as políticas sociais, que devem ser articuladas para haver sucesso. Articular a geração de emprego com a cultura, educação, saúde. Acho que a assistência social faz esse papel articulador. O Edvaldo do momento, eu vejo muita insatisfação por parte de todos os agrupamentos do PT. A forma que ele nos tratou no primeiro e segundo turno, principalmente a campanha de Haddad, foi uma decepção. Ele não tomou posição, quando a vice era do PT. O único momento que eu vi Edvaldo na campanha de Haddad foi quando ele esteve aqui. Os outros momentos eu não vi em espaço nenhum ele usando sua liderança para ajudar o companheiro Hadad e a companheira Manuela, que é do seu partido. Aí passa por uma questão de prioridade e uma questão de gênero. Eu espero que ele responda ao PT esses desafios que estamos colocando.

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Joedson Telles é um jornalista sergipano formado pela Universidade Federal de Sergipe e especializado em política. Exerceu a função de repórter nos jornais Cinform, Correio de Sergipe e Jornal da Cidade. Fundou e edita, há nove anos, o site Universo Político e é colunista político do site F5 News.

E-mail: joedsontelles@gmail.com

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