“Sempre apontei a falta de reciprocidade como um equívoco”, desabafa Eduardo | Joedson Telles | F5 News - Sergipe Atualizado

“Sempre apontei a falta de reciprocidade como um equívoco”, desabafa Eduardo
Blogs e Colunas | Joedson Telles 21/10/2018 08h14 - Atualizado em 21/10/2018 08h27

Informo ao senador Eduardo Amorim (PSDB) que o então candidato ao Senado, Heleno Silva, afirmou, antes do primeiro turno da eleição, ao desabafar que o “aliado” André Moura só pensava em sua própria eleição, que ele, Eduardo, não merecia passar o que estava passando durante a campanha dentro do agrupamento. Em seguida, o indago sobre o que Heleno quis dizer. A resposta de Eduardo: “Heleno quis dizer que eu tenho caráter, índole. Que eu adoto princípios, valores e defendi o tempo todo aqueles que estavam do meu lado. Sempre apontei a falta de reciprocidade como um equívoco. Houve problemas. Não vou negar. O time não é feito só de goleiro ou de centroavante. Quando o centroavante pensa que só ele tem que marcar o gol está equivocado. Quando você faz um grupo o próprio nome já fala que é coletivo. Eu não consegui vencer isso. Tem coisa que a gente já sabia, e eu lutei contra isso”, desabafa Eduardo. A entrevista:

Por que a decisão de não apoiar nenhum dos dois candidatos no segundo turno?

Foi coerente. Tem agente que não dá valor ao princípio da coerência. Eu sou um daqueles tradicionalistas e procurei ficar do lado correto o tempo todo. Se eu combati os dois, a coerência manda que nem um e nem outro.

Mas um líder não orienta os liderados?

Como líder, eu deixei que cada um utilizasse da sua consciência para agir, tanto é que têm alguns liderados que estão se manifestando a favor de um ou de outro. Traduz um pouco da realidade local, do aspecto político local. Outros estão optando pela neutralidade.

O fato de o candidato Valadares Filho ser oposição também não deveria aproximá-los?

Aproximou lá atrás. Houve uma separação. Nós é que estamos enfrentando esse governo há muitos anos. Eu estou onde sempre estive. Nem um e nem outro.

O senhor chegou a ser procurado pelos candidatos?

Fui procurado por pessoas.

Conversou com alguém, antes de tomar a decisão?

Essa decisão e minha, mas conversada. Eu sei respeitar as decisões, mesmo que discorde delas. O povo escolheu os dois para o segundo turno e estou respeitando como respeitei, em 2014, mesmo achando que quem está indo para o segundo turno é continuidade do projeto que está aí. Não vejo esperança nenhuma.

A sua mensagem não foi compreendida ou a divisão da oposição dificultou o êxito do projeto?

Não é fácil num estado como o nosso enfrentar uma máquina. A máquina funciona e funciona de forma pesada e desigual. Enquanto a gente tiver nesse país a reeleição, nunca será igual. Enquanto a gente tiver pesquisas que induzem ao eleitorado será sempre desigual e injusto. Eu fui vítima de pesquisas maldosas, equivocadas. Não estou dizendo com isso que todas são erradas. Há pesquisas sérias. Mas têm outras que são feitas para induzir. Pesquisa eleitoral deveria ser divulgada antes do início da campanha. Nossa democracia ainda não está madura o suficiente para não sofrer interferência das pesquisas. Uma faixa do eleitorado vota buscando o voto útil, quando, muitas vezes, esse voto não é útil é induzido. O cara deixa de votar de acordo com a sua consciência para tentar seguir as pesquisas. Eu claramente fui vítima disso. A pesquisa que saiu no sábado à noite me dava 14%, quando, na verdade, o resultado final a diferença foi menos de 1% dos votos válidos.

A eleição de Rogério Carvalho ilustra o seu argumento...

Com Rogério também aconteceu isso.

É fácil comprar uma pesquisa?

Não sei. Nunca comprei.

Mas como político que disputa a eleição, o senhor deve ter alguma informação, não?  

Eu não gastaria dinheiro com isso. Mas parece que existe. O meu gabinete em Brasília é o mais exposto do Congresso Nacional. Fica a quatro metros da principal comissão que é a de Constituição e Justiça. Deveria ser o gabinete que todo mundo teria acesso facilmente. Acesso tem, mas nunca entrou quem não deveria entrar. Eu nunca fui procurado por instituto nenhum porque sabe como eu sou. Quando as pessoas sabem da sua maneira de agir não adianta insistir porque não vai obter êxito. Aquilo já é uma porta fechada. Mas é estranho os equívocos tão grosseiros de pesquisas que são feitas dentro de um padrão científico. A gente sabe que a ciência pode errar, mas não erros grosseiros. Isso não é comum, quando não existe uma intenção.

O que mais o senhor apontaria para explicar a derrota?

Tivemos erros internos. Não por minha culpa. Eu procurei conciliar alguns equívocos e confesso que não consegui. Em 2010, Déda passou por isso e não foi por minha culpa. Eu procurei agir sempre com coerência.

 

O então candidato ao Senado, Heleno Silva, disse, durante a campanha, que Eduardo não merecia passar o que estava passando internamente. O que ele quis dizer?

Ele quis dizer que eu sou um cara do bem, e sou mesmo. Sou um cara que luto. Combati o que eu entendi que deve ser combatido e não me dobro para qualquer coisa. Não tenho o olhar individual. Se eu fosse um cara egoísta, olhando para o meu umbigo, com certeza o resultado dessa eleição e de outras seria bem diferente. Mas eu sou um cara que pensa no coletivo. Gosto de olhar pra frente. Não olho só pra o imediatismo. Se eu estou nisso é para defenderam um projeto coletivo. A gente fez a opção por um risco maior, mas temos consciência disso. Por isso estou muito tranquilo. Não me sinto e nunca me senti um derrotado. Quem luta contra essa máquina, contra essa divisão, não pode ser considerado um derrotado. Nem sempre o vitorioso é aquele que leva a medalha. Aquela corredora, Gabrielle Andersen, nas olimpíadas, durante a maratona chegou toda contorcida, toda dolorida, mas chegou. A gente guarda a imagem dela, mas nem lembra a que ganhou a medalha de ouro. Aquela cena vai se repetir por todos os momentos em todas as olimpíadas, mostrando que muitas vezes o que importa é combater. No meu entender, eu sou um vitorioso porque enfrentei com a verdade. Alguns erros foram cometidos. Somos feitos de músculos, de convicções erradas ou não. Posso ter tido culpa, mas errar intencionalmente eu não fiz. Eu sigo em frente. Heleno quis dizer que eu tenho caráter, índole. Que eu adoto princípios, valores e defendi o tempo todo aqueles que estavam do meu lado. Eu mesmo votei nos dois para o Senado. Eu sempre apontei a falta de reciprocidade como um equívoco. Houve problemas. Não vou negar. O time não é feito só de goleiro ou de centroavante. Quando o centroavante pensa que só ele tem que marcar o gol está equivocado. Tem que marcar o gol quem estiver melhor posicionado para marcar. Quando você faz um grupo o próprio nome já fala que é coletivo. Eu não consegui vencer isso. Tem coisa que a gente já sabia, e eu lutei contra isso. Ficou a lição para outras pessoas. Tem gente que não aprende. Mas não gosto de falar de equívocos alheios. Cada um faça sua reflexão e tire a lição que quiser tirar. Por isso que somos diferentes. Iguais perante as leis, mas gostos, sabores e interesses cada um tem o seu.

Qual a diferença dessa eleição para a de 2014 no tocante à sua candidatura?

A máquina é a mesma. Fomos atropelados pela máquina. A diferença agora é que tínhamos mais gente na oposição, embora uma oposição recente, e dividiu mais o eleitorado. Dessa vez, teve segundo turno porque tinha mais candidatos. Em 2014, não teve porque foram poucos candidatos.

Quem leva a melhor no segundo turno?

Prefiro ficar calado para não induzir. Eu sempre disse que é o continuísmo. Tanto faz. Se o outro também for eleito é o continuísmo. A escola é a mesma. Se você é oposição tem que dizer que é diferente, mas quem fala mesmo é a história de cada um. Tudo que a gente faz na vida é em busca de uma referência. A referência é o histórico de cada um. Em 2016, eu cheguei a acreditar que era diferente. O rompimento despertou. Quando se coloca projetos individuais à frente se compromete o coletivo. Do nosso lado, houve equívocos também. Se eu errei foi procurando acertar.

É cedo para afirmar que o senhor disputará a próxima eleição?

Nesse momento, vou terminar meu mandato com a mesma clareza. Eu sei da temporalidade. A gente tem que estar preparado para cumprir o cargo da melhor maneira possível, e acho que conseguimos. Não é à toa que fomos considerados o senador nota 10 por um instituto de ciências sociais e políticas. Essa avaliação é feita de quatro em quatro anos. Mesmo não tendo o melhor cargo, eu consegui. Não tenho nada a reclamar. Se o povo entendeu que deveria ser outro, que o Centro de Diagnóstico não é tão importante, que o lucro do Banese precisa financiar a educação sergipana, que grande parte dele seria dividido entre os estudantes das escolas públicas estaduais, dando uma bolsa para cada estudante, na condição de ter boas notas. Aquele dinheiro ia patrocinar o cinema, o lápis, o caderno. Mas ia também patrocinar o pão, o leite, a comida. Tenho certeza que iria trazer as famílias para dentro das escolas. Outro sonho que eu tinha era a revitalização do DER. Eu ainda pretendo deixar minha emenda de bancada para construir o centro. Eu vou fazer isso.

Então, Sergipe pode contar com o senhor mesmo depois do mandato?

Sempre. Estando ou não na política, eu sempre vou dar minha parcela porque não desisto dos meus sonhos facilmente. Mas a gente materializa com os instrumentos que tem na mão. A vida continua. Não tenho nada a reclamar. Com certeza quem está lamentando muito é quem está na porta de um hospital e não consegue entrar, quem está precisando de um tratamento oncológico e não consegue. Eu ainda pretendo, com a última emenda que eu tenho direito, comprar mais duas carretas para fazer a prevenção para os diversos cantos de Sergipe, associada ao Hospital de Barretos. Hoje, temos um caminhão e quero ver se a gente consegue comprar mais dois e ajudar no custeio.

E essa aproximação do candidato Jair Bolsonaro?

Ele me ligou. Eu sou muito amigo de Magno Malta e José Medeiros. Os dois são defensores de Bolsonaro. Estão percorrendo o Brasil inteiro. Eles me ligaram, essa semana (semana passada), me botaram para falar com Bolsonaro e quando a gente é convidado é levado a fazer uma reflexão. Eu tenho conversados com alguns colegas que já votavam em Bolsonaro. O meu candidato teve pouco mais de 4% aqui em Sergipe.

E o PSDB?

O PSDB está fazendo uma reflexão. O partido sofreu alguns baques. Sou um peesedebista jovem e alguns caciques do PSDB estão pagando por alguns erros cometidos. Acho que o partido vai fazer uma reflexão grande para voltar mais forte. Talvez sidra uma poda, como uma árvore. Por enquanto eu continuo.

 

Nessa conversa com Bolsonaro, o senhor sentiu alguma coisa positiva para Sergipe?

Eu conversei com Magno Malta e com seu Henrique Prata, uma pessoa que eu gosto muito de Barretos. São amigos que estão envolvidos nisso. Eu já tinha conversados com vários amigos que naturalmente já votavam nele. O partido dele tem uma condução, eu sei respeitar, mas também ouvi dos líderes dos partidos. Que precisavam de gente que somasse e tivesse um perfil de carente índole, como o meu.

A maioria dos brasileiros que vai votar em Bolsonaro vai votar em alguém que não conhece.  O que o senhor pensa sobre isso?

O que a gente percebe é uma insatisfação do povo. Ele prega o anti do que está aí. O selo, o cuidado com a coisa pública. Espero que se ele vencer possa cumprir. Quebrar vícios, maus costumes. Coisa que a gente estava se propondo fazer em Sergipe. Existe um grupo que resiste em manter o que está aí. Eu ia fazer diferente. Temos dois projetos. Um conhecido e um desconhecido. O que conhecemos teve alguns acertos, mas também muitos equívocos.

O que o senhor diria ao eleitor neste momento?

Que voto não tem preço tem consequência. Voto não é mercadoria. A consequência de um voto tem a duração mínima de 1.461 dias. Nesse tempo alguns poderão estar vivos. Foi isso que me levou para a política. Nossa democracia estará amadurecida no dia que cada um entender profundamente o significado dessa frase. Aí a gente não vai ser interferido por nada. É dado uma missão a cada um de nós por meio do voto. Não é só escolher o meu futuro: é o de todos. Quem se preocupa com o outro, que se incomoda com a dor do outro, tem que agir de forma muito responsável. Voto é amor com quem eu conheço ou não. É responsabilidade com quem eu conheço ou não. É uma atitude de plantar um futuro muito melhor, mas quando prevalece o jeitinho, o individualismo, não tem como dar certo. Em 2014, eu ouvi de uma enfermeira na feira de Riachão do Dantas que eu era um homem bom, preparado, honesto e que iria mudar o estado, mas não votava em mim. Isso porque primeiro era ela. O cargo comissionado, o interesse. Enquanto a gente pensar dessa maneira esse país não vai mudar. A urna é o melhor instrumento para acabar com os corruptos. Qual a melhor medicina? A preventiva. Qual a melhor segurança pública? A preventiva. Quando eu coloco uma polícia de divisa estou prevenindo.

Deixa a eleição 2018 magoado com o eleitor?

Não torço pelo pior, não carregou rancor e nem mágoa. Se a missão não foi me dada sei respeitar. Não vou desistir de lutar pelo que eu acredito que merece ser lutado. Isso não me torna infeliz porque não me apego ao poder. Lembro-me do início do Cristianismo, que só chegou aonde chegou pelas defesas daqueles que tiveram fé. Continuarei minha missão agradecendo ao bom Deus pelo milagre da vida, vivendo intensamente para valorizar esse milagre. Saio do meu mandato não mais rico economicamente do que entrei. Saio mais pobre. Se você olhar meu patrimônio saio mais pobre. Saio mais rico de conhecimento, amizade, experiência. Tive o privilégio de ter uma experiência que poucos têm e procurei durante os 12 anos de mandato (quatro na Câmara Federal e oito no Senado) me qualificar. Ao longo desse mandato, fiz duas pós-graduações, duas graduações, mudei alguns hábitos na política sergipana. Hoje, todo parlamentar anda com um jornalista do lado e isso começou comigo. Acho que você é testemunha disso.

As urnas acertaram ao aposentar Jackson Barreto?

Acho que tudo na vida tem um ciclo. Feliz daquele que sabe compreender que o ciclo fechou. Nesse momento Jackson, Valadares, Albano, doutor João estão sem mandato. Quem sabe ele pode até voltar? Depende da vontade das pessoas. Nem sempre a gente compreende a vontade do povo. Às vezes, individualmente, a gente não compreende o ensejo dentro de cada, imagine quando existe uma coletividade? As urnas elegeram Alessandro Vieira e Rogério Carvalho. Quero deixar bem claro que estou muito tranquilo, em paz. Tem gente que chora. Compreendi que a missão não foi me dada. Não dá para falar ainda no futuro. Vou viver intensamente. Minha índole é do bem. Os princípios que adotei na minha vida são do bem. Tem gente que pré-julga falando do meu irmão. Estou à disposição. Onde eu estiver só esperem atitude do bem.

Mais Notícias de Joedson Telles
16/11/2021  07h15 "Não vou procurar outro caminho", diz Laércio
Bolsonaro não tem preparo, avalia cientista político
11/10/2021  09h08 Bolsonaro não tem preparo, avalia cientista político
26/09/2021  09h05 "A OAB/SE permaneceu inerte quando os advogados mais precisaram de proteção"
12/09/2021  08h42 "Vou para vencer", afirma Valmir de Francisquinho sobre 2022
22/08/2021  08h03 "Valmir é o melhor político de Sergipe", diz Adailton Sousa
F5 News Copyright © 2010-2024 F5 News - Sergipe Atualizado