Expansão da consciência e como ela pode ajudar cada pessoa e a sociedade | Levando a Série | F5 News - Sergipe Atualizado

Expansão da consciência e como ela pode ajudar cada pessoa e a sociedade
“Consciência ao cubo” e “Guia para Meditação” abrem a mente e novas perspectivas de vida
Blogs e Colunas | Levando a Série 12/02/2021 17h25 - Atualizado em 12/02/2021 17h28

Se você aprecia a infinidade de potenciais reflexões e aprendizados inerentes à caminhada humana sobre a Terra, tem ótima chance de renovar o “orgulho de ser brasileiro”.  Um documentário nacional em cinco episódios – Consciência ao Cubo (na logomarca, Consciência³) – entrega ao público exatamente aquilo a que se propõe: “investigar por diferentes ângulos o fenômeno da consciência e instigar cidadãos e cidadãs de qualquer lugar a pensar a si mesmos e o nosso mundo como um verdadeiro milagre probabilístico”.  Há ainda outra meta, tão instigante quanto a anterior: “refletir melhor sobre o Sapiens como integrante da ‘Rede da Vida’ e não mais apartado ou contra ela”. Esses objetivos constam na apresentação da série, assinada por seu diretor, o cineasta Renato Barbieri, que começou na área do audiovisual na produtora Olhar Eletrônico, em 1983, ao lado de nomes como Fernando Meirelles e Marcelo Tas. Depois de dirigir curtas e programas de TV, em 1992, ele investiu na carreira solo e fundou a Gaya Filmes, passando a se dedicar aos documentários.

Pelo que se observa em Consciência ao Cubo, disponível na Amazon Prime Video, Barbieri apostou nesse gênero acertadamente. A série é um manancial de evolução. Cada episódio trata de um eixo temático: A Consciência em Si; A Consciência do Outro; A Consciência da Rede da Vida; A Consciência na Ciência e, por fim, A Consciência de Gaia. Entremeadas por imagens lindas, vão se sucedendo análises de profissionais em diversas áreas. Admito que, desse time de feras, só conhecia o físico Fritjof Capra, autor de “O Tao da Física”, ainda seu livro de maior repercussão, ao explorar as formas pelas quais a física moderna estava mudando nossa visão de mundo - da mecanicista para a holística e ecológica. 

Feliz e grata pelo acesso a uma avalanche de preciosos aprendizados, comecei a anotar os entendimentos que mais me tocaram a alma, porém, ao término do primeiro episódio, já tinha preenchido páginas do caderno. Fiquei especialmente fascinada pelos comentários de Scarlett Marton, professora titular de Filosofia Contemporânea na Universidade de São Paulo. Ciente de minha incapacidade em transmitir a potência de uma de suas análises, ela explica como, desde Sócrates, a humanidade vem se dissociando do mundo que habitamos e captamos por intermédio dos nossos sentidos, para apostar na razão, exclusivamente. Ao invés de aglutinar o que foi separado ao longo de muitos séculos, manteve tal rumo e, com isso, diz Scarlett, o ser humano se fragmentou, perdeu visão histórica e identidade como espécie.

No cômputo geral, Consciência ao Cubo é uma ode à empatia com o outro e com o planeta. Mais além, uma dádiva a nutrir o aprimoramento do processo civilizatório, em contraponto à decadência expressa pela cultura do ódio. A série demonstra como a exclusão e o preconceito têm origem no medo do que é diferente. Como o modelo tradicional de escola se baseia em hierarquia e competição, fortalecendo a individualidade em detrimento da colaboração. Como as pessoas em geral preferem ouvir apenas opiniões semelhantes às próprias, não raro fomentando a violência contra os divergentes. Achei incrível quando o documentário expõe que “viver na bolha”, apenas entre iguais, nos empobrece, sob a premissa de que, recusando-se em se abrir à convivência com a diversidade, o indivíduo apenas recicla o que já pensa. 
 
Cumprido o propósito do cineasta Renato Barbieri, o público acompanha e participa do que ele chama de “dança alquímica do pensamento contemporâneo”, alinhadas as dimensões cognitiva, emocional e sensorial dos conteúdos abordados. “O desfecho do século 21 está diretamente ligado ao papel a ser desempenhado pela consciência individual e coletiva”, diz ele. A série é um apanhado rico em conhecimento, de edição primorosa, sobre o desafio gigantesco e urgente que a espécie humana tem agora e por muito tempo ainda à frente. É o caso de agradecer aos que a tornaram uma produção viável: o canal por assinatura Curta! e o Fundo Setorial do Audiovisual. 

Passemos à segunda sugestão de hoje, complementar à primeira - Guide to Meditation (Guia para Meditação).  Antes, porém, lá vou eu em mais um preâmbulo. No passado, meditação era um conceito que evocava monges budistas e/ou “gurus” que iam ganhando fama no embalo sobretudo do movimento hippie – e viva seu lema: “paz e amor”. Associada à religião, ou a esoterismo e misticismo, a prática ficou milenarmente circunscrita aos saberes empíricos. Isso apesar de seus vários benefícios serem percebidos com clareza pela turma que meditava a sério: fortalecimento do sistema imunológico (hoje na ordem do dia), redução de estresse e ansiedade, coadjuvante eficaz no tratamento de depressão e fobias, entre muitos outros. 

A Ciência, porém, custou a se debruçar metodologicamente sobre tais efeitos, quadro que se alterou nas últimas décadas. Fiz uma pesquisa no Google Scholar, com o termo “meditation benefits”, e apareceram mais de 373 mil artigos acadêmicos sobre o assunto. Traduzida a entrada para o português – “benefícios da meditação” –, esse montante caiu para pouco mais de 29.600. 

Encontrei uma história que vale mencionar, a de Judson Brewer,  professor assistente de Psiquiatria e diretor médico da "Yale Therapeutic Neuroscience Clinic". Ele começou a praticar meditação para lidar com o estresse enquanto estudava Medicina na Universidade de Washington; verificou os bons resultados na própria vida e isso o moveu a enveredar pela Psiquiatria. No decorrer do curso, já fazendo residência, Brewer constatou que a meditação ajudava viciados a administrar as respectivas compulsões, mas pouco se sabia cientificamente sobre essa relação causal. Ele embarcou nessa jornada e, em 2011, assinava, em parceria com colegas, um estudo publicado no "Proceedings of the National Academy of Sciences". O grupo de pesquisadores investigou pessoas que meditavam há pelo menos dez anos e o resultado foi que seus cérebros apresentaram menor atividade nas áreas ligadas a lapsos de atenção, ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, esquizofrenia, autismo e acúmulo de placas na doença de Alzheimer. Esse efeito foi verificado independentemente da técnica de meditação praticada por cada membro da amostra. 

Quem já tentou meditar provavelmente sabe que não é nada fácil manter o foco apenas no fluxo da própria respiração. As distrações surgem de toda parte, a maioria delas vinda do disparo racional, da nossa propensão a pensar incessantemente. O preâmbulo aí em cima tem o objetivo de mostrar que hoje, sob pleno amparo da Ciência, a meditação se constitui em inquestionável caminho para uma melhor qualidade de vida – em todos os sentidos. 

O Headspace, que já auxiliava esse processo como aplicativo, este ano chegou ao streaming. Fui conferir Guia para Meditação, série em oito episódios lançada em janeiro pela Netflix, parceira da iniciativa. A narração é de Andy Puddicombe, cofundador do Headspace e um sujeito que, inegavelmente, mergulhou fundo na experiência. Com pouco mais de vinte anos de idade, ele largou suas pesquisas no campo da ciência do esporte e foi estudar meditação no Himalaia. Após dez anos de prática, findou ordenado monge budista no Tibet. Agora, com a série popularizando o que já fazia o aplicativo, ganha capilaridade o objetivo exposto por Andy em suas entrevistas: compartilhar os frutos dessa missão, “para que você não precise ir ao Himalaia”.  

À semelhança de Consciência ao Cubo, o Guia para Meditação é uma cornucópia de oportunidades para tornar a própria vida mais equilibrada, potencialmente melhor nas esferas física e emocional, sempre em intercessão. Ambas as séries se baseiam nos conhecimentos que se propõem a disseminar e que o público pode sorver ao sabor das próprias escolhas - cada pessoa no seu ritmo e sob o crivo de suas referências culturais. O espírito crítico está liberado, não é preciso concordar cegamente, mas cabeça aberta ajuda.  

Em termos gerais, Guia para Meditação dispensa explicações – o nome diz tudo. Cada episódio tem cerca de 20 minutos, divididos em duas partes. Na primeira é abordado o tema da vez, que inclui desapego do passado, cultivo da gratidão e como lidar com estresse, dor e raiva. Com a narração do ex-monge Andy Puddicombe – uma voz calmante por si só -, vão sendo tratadas tais questões humanas, enquanto a gente assiste a um desenho animado plasticamente simples, mas com representações visuais de imensa capacidade ilustrativa. Cai muito bem. 

Na segunda parte – pouco mais de dez minutos em geral -, Andy nos guia na meditação, operando de forma prática aquilo que o nome da série deixa claro. Para mim, facilitou bastante. Aos 57 anos de vida, confesso que nunca fiquei satisfeita com o resultado de minhas tentativas em meditar – e, sem exagero, arrisco dizer que chegam à casa da centena. As técnicas ensinadas por ele, que a gente vai fazendo junto, me deixaram muito tranquila, em todos os planos. Hoje, convenhamos, é estado improvável de se alcançar sem essa pausa do mundo real que a meditação proporciona. E os bons efeitos da experiência foram duradouros: horas depois de meditar, ainda me percebia mais serena e menos tendente à tristeza por tantas famílias enlutadas pela pandemia no Brasil e no mundo – esta uma batalha diária que travo internamente. 

Para quem ainda achava que essa pausa a demandar disciplina e vontade é coisa “de místico”, “de maluco” ou de “bicho-grilo” – exemplos de rótulos que talvez ainda sobrevivam na cabeça de algumas pessoas desinformadas -, Guia para Meditação é o antídoto perfeito. Aos que conferirem, torço para que ajude vocês também. 

Por fim, deixo à reflexão uma frase de Confúcio muito adequada ao espírito de ambas as séries: “Nada é bastante para quem considera pouco aquilo que é suficiente”. Boa semana!

Para maratonar:
Consciência ao cubo, cinco episódios, completa na Amazon Prime Vídeo; 

Guia para Meditação, oito episódios, completo na Netflix. 

 

 

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