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Série é coisa séria
Blogs e Colunas | Levando a Série 29/08/2020 07h39 - Atualizado em 29/08/2020 12h16

Quem já passou dos 50 anos certamente se lembra da escassez de opções televisivas lá pelas décadas de 60 e 70. As crianças de então se contentavam basicamente com o programa infantil do Capitão Furacão, um marujo com boné e cachimbo interpretado pelo ator Pietro Mário. A atração foi exibida já no primeiro dia de transmissão da TV Globo – 26 de abril de 1965 – e viria a se tornar um sucesso da emissora ao longo dos  anos seguintes. 

Para fazer concorrência ao Capitão Furacão, a TV Tupi lançou o Clube do Capitão Aza, personagem a homenagear um falecido herói da FAB que lutou na Segunda Guerra Mundial, o capitão aviador Adalberto Azambuja, conhecido por esse apelido – Aza - entre os colegas de farda. Conduzido pelo ator e policial civil Wilson Vianna, o programa estreou em junho de 1966 e tempos depois conseguiu alcançar seu objetivo: o Capitão Aza derrotou o colega de patente Furacão na batalha pela audiência.   

O Brasil vivia sob a ditadura militar e outra memória marcante para essa geração de telespectadores é a vinheta de aprovação pela censura, que antecedia todo e qualquer programa exibido àquela época. Mas o público infantil, cuja inocência felizmente ficou alheia aos fatos, se ocupava em assistir, por exemplo, ao National Kid, série japonesa que a TV Record trouxera às telinhas brasileiras naquele mesmo ano, 1964, e que fez muito mais sucesso aqui do que lá. Reprisada várias vezes pelas TVs Rio e Globo até o fim da década de 70, alcançou status de cult, ainda que a luta do herói National Kid contra os vilões – lembra dos Incas Venusianos? – tenha se reproduzido em dezenas de diferentes versões, inspirando séries que a sucederam. 

E o Batman, gente? Aquele pastiche do misterioso “cavalheiro negro” da DC Comics com o “menino prodígio” Robin, exibido nos anos 70, era diversão pura - uma afronta para os puristas leitores das comics, com suas onomatopeias e o “cinto de utilidades” do qual saiam os instrumentos de defesa mais estapafúrdios. No engraçadíssimo longa metragem produzido em cima da série, a “dupla dinâmica” tinha à mão até um spray repelente de tubarões.

No bojo das muitas séries, em geral norteamericanas, que supriram o mercado televisivo brasileiro nessas décadas, algumas chegaram a uma longevidade surpreendente. É o caso de “Jeannie é um gênio” e “A Feiticeira”, para citar apenas dois exemplos de sucessos nos anos 60 e 70, reprisados desde então e disponíveis até hoje em canais por assinatura. Sobre ambos, observações ligeiras. A história de Jeannie e seu amo astronauta – tendo a Nasa como cenário de muitas cenas hilariantes – serviu não por acaso ao contexto de plena guerra espacial entre os EUA e a União Soviética.  Digo isso apenas para o registro de que raras vezes inexiste uma mensagem subliminar em qualquer entretenimento – a favor de ou contra algo. Quanto à bruxa Samantha, ouso afirmar que uma geração de mulheres, ainda meninas, questionou a proibição do marido dela, James, de que usasse seus poderes. Ela passava aspirador nos tapetes, ao invés de mexer aquele nariz encantado e sumir com qualquer poeira. Sem pestanejar, muitas feministas devem ter começado aí.    

Entre as produções brasileiras, se destaca A Grande Família, série da Rede Globo exibida de 1972 a 75 que, unindo leveza e inteligência, precisou driblar a censura vigente na época – nem sempre com êxito –, por adentrar o terreno da crítica social. Ao retratar a rotina do subúrbio, levantou temas como desemprego e alto custo de vida, indesejáveis para a ditadura militar. Mas a audiência compensou o transtorno dos vários cortes. 

Apenas o propósito de analisar o conjunto de séries disponíveis do nascedouro à consolidação da TV brasileira renderia um interminável trabalho. Admito, assim, que essa introdução nem de longe abarca sequer o universo das décadas de 60 e 70, em sua maioria “enlatado” – como se classificava a produção estrangeira a suprir aquele incipiente mercado nacional. 

Saltando décadas à frente, chegou o streaming e tudo mudou. O exíguo rol de opções de entretenimento na telinha foi catapultado ao impossível de assistir – até para um hipotético milionário eremita que passasse o dia inteiro à frente da TV. Na próxima coluna, a gente confere como isso aconteceu e o muito de bom que resultou. 


 

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