João, o garoto que viu o futuro | Marcio Rocha | F5 News - Sergipe Atualizado

João, o garoto que viu o futuro
Blogs e Colunas | Marcio Rocha 25/11/2020 06h43

Um garoto nascido no bairro Santo Antônio, em 3 de julho de 1941, chamado João, filho de um senhor chamado João, acompanhava seu pai na construção de casas para as pessoas de uma cidade que estava em crescimento, Aracaju, nos anos 1950, quando ainda não existia uma política de financiamento imobiliário para as famílias da capital dos sergipanos que avançava em desenvolvimento, junto com a elevação de sua população e urbanismo. Ele, assim como seu pai, queria construir. Cresceu, formou-se em Engenharia e começou a trabalhar na Construtora Alves, junto com seu pai, ajudando famílias a erguerem sonhos e felizes realidades. Na construção, ele via o futuro.

Ele queria mais, queria trabalhar por uma cidade, por seu povo, por seu semelhante. Engajado politicamente, conseguiu obter destaque e assumiu a Prefeitura de Aracaju em 1975, substituindo um homem comprometido com a saúde da população, Cleovansóstenes Pereira de Aguiar. João viu uma cidade que precisava ser preparada para ser o colosso de Sergipe, aumentando muito o seu tamanho. Planejou a ação de crescimento ordenado da cidade criando vias de acesso, corredores de escoamento de trânsito quando nem se falava no excesso de carros e de pessoas de nossa cidade. Ao final de seu mandato, 14 avenidas estavam prontas, muitas delas passando por lugares que eram grandes descampados e que ainda não tinham sinais de presença da civilização. Aracaju tinha além do centro e do norte, uma zona sul, área essa que anos depois seria a mais disputada para moradias e que cresceria de modo avassalador, para abrigar a maior parte da população de uma cidade que ao final do seu mandato tinha pouco mais de um terço do que teria 40 anos depois, durante seu segundo mandado como prefeito da cidade que tanto amou. João Alves governou para 240 mil aracajuanos, o que mais de 700 mil vivem hoje em seu cotidiano. Na cidade, ele pensou o futuro.

“Quando um projeto estratégico de desenvolvimento urbano resolve os problemas do presente, faz uma projeção para o futuro”, dizia o construtor.

Com isso, em 1982 ele vence a eleição para o governo do estado, no primeiro turno. Desse governo surgiram programas importantes e ainda hoje lembrados pela população que vive uma nova realidade pensada por ele, quando pensou no futuro. Ele queria levar água para os sergipanos. Desenvolveu um sistema de abastecimento que trazia água do São Francisco, para as casas dos sergipanos, com o mecanismo das adutoras. O programa “Chapéu de Couro” ainda é lembrado por grande parte da população sertaneja como um processo transformador de realidade do povo do interior sergipano. Açudes, barragens, aquedutos, cisternas, poços artesianos, para levar água às pessoas que mais tinham necessidade, além da abertura de estradas para o escoamento da produção agrícola. Combatendo a seca e a miséria no campo, ele entendia que no pequeno agricultor, estava o futuro.

Seu trabalho foi reconhecido, a ponto de um já experiente político ser convidado para ser titular do Ministério do Interior. Sua preocupação com obras estruturantes e valorização da natureza marcaram o período em que comandou a pasta no governo Sarney, defendendo incansavelmente o ecossistema amazônico, impedindo o processo de intervencionismo. O que resultou no “Código Florestal”, mecanismo que ainda hoje é atual e serve para proteger as florestas e biomas individuais das regiões brasileiras. João viu que da natureza dependia o futuro. Natureza que ele defendeu ao não aceitar intervenções no rio São Francisco, maior bacia hidrográfica do Nordeste e principal alimentador do abastecimento de água de Sergipe, porque nele, almejou o futuro.

Em seu segundo governo, depois de vencer a eleição de 1990, o desenvolvimento econômico era seu foco, ele via que o futuro dependia da expansão das atividades comerciais e industriais, e como se daria isso? Por meio da expansão agrícola. João Alves mais uma vez pensou à frente do seu tempo e desenvolveu o projeto “Platô de Neópolis”, projeto mais avançado de fruticultura irrigada do Brasil, até então. Na época, foram mais de 7 mil hectares, que geravam 20 mil empregos diretos na produção agrícola, alimentando toda a cadeia de abastecimento, indústria alimentícia e comércio dos centros urbanos de Sergipe. Junto com isso, veio a ampliação rede de abastecimento aquífero do estado, com 1.760 km de adutoras levando água para capital, interior e principalmente para o povo sertanejo. Na água, ele entendeu o futuro.

Ainda em seu segundo governo, surgiu a obra de maior monta da história de Sergipe, o que colocou o estado dentro do roteiro turístico nacional, a Orla da Atalaia. Em sua primeira configuração, com bares modernizados, ambiente com alto grau de higiene e ambientes plurais para o lazer de crianças, jovens e adultos. Os famosos arcos ainda são o principal cartão postal do nosso estado. Cartão postal revitalizado e reconstruído em seu terceiro mandato, em 2003, com a configuração que existe atualmente. Mas há 30 anos, ele pensou no futuro.

O futuro dos sergipanos era sua preocupação, seu grande ímpeto continuava sendo construir. Em seu terceiro mandato, revolucionaria a vida dos aracajuanos, barra-coqueirenses, além das pessoas de municípios que hoje contam com a ponte “Construtor João Alves” como além de um cartão postal, uma ligação de uma região considerada altamente pobre com o desenvolvimento e crescimento econômico. Pelas vias da ponte chegaram benefícios implantados por seus sucessores, mas que se não houvesse a visão de futuro do seu predecessor, poderiam não ter sido realidade. A Barra dos Coqueiros deixou de ser uma cidade pequena, para se tornar um centro urbano residencial de alto valor, além da chegada da Celse e da ampliação da cadeia produtiva do gás natural, hoje uma transformação constante. Não sei se ele pensou nisso, quando fez o exercício da clarividência, mas lá, ainda em 1994, ergueu o Porto de Sergipe e agora sairá do papel, por meio da cadeia produtiva do gás, uma versão do seu sonhado Polo Petroquímico. Com essa obra, acelerou o futuro.

O menino do bairro Santo Antônio viu uma cidade que poucos imaginavam, cresceu e viu um estado que poucos acreditavam, trabalhou e fez disso uma bela realidade. Que seu exemplo inspire e novos garotos vejam o futuro...

 

 

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Marcio Rocha é jornalista formado pela UNIT, radialista formado pela UFS e economista formado pela Estácio, especialista em jornalismo econômico e empresarial, especialista em Empreendedorismo pela Universitat de Barcelona, MBA em Assessoria Executiva pela Uninter, com experiência de 23 anos na comunicação sergipana, em rádio, impresso, televisão, online e assessoria de imprensa.

E-mail: jornalistamarciorocha@live.com

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