Sem Parar: os reflexos da pandemia no transporte coletivo da Grande Aracaju | F5 News - Sergipe Atualizado

Especial
Sem Parar: os reflexos da pandemia no transporte coletivo da Grande Aracaju
Queda na demanda e medidas contra covid-19 impactaram o setor considerado essencial
Conteúdo Especial | Por Fernanda Araujo e Will Rodriguez 15/01/2021 06h00 - Atualizado em 07/02/2022 09h14


Considerado essencial, o transporte público literalmente não parou durante a pandemia de covid-19. Na Região Metropolitana de Aracaju, desde março a frota opera de forma reduzida, mas não ficou um dia sequer sem ir às ruas. O serviço, no entanto, acumula perdas e ainda encontra dificuldades para se recuperar dos danos econômicos provocados pela crise sanitária. 

Enquanto a orientação das autoridades de saúde é para evitar aglomerações e, se possível, ficar em casa, os profissionais do setor vestem o uniforme e se expõem diariamente à infecção que atinge milhões de pessoas pelo mundo, para garantir o direito de ir e vir. 

Pelo seu caráter de utilidade pública, sendo  fundamental inclusive nos deslocamentos de outros profissionais que também precisaram manter as atividades, as empresas rodoviárias tiveram que alterar a rotina de seus funcionários com reduções de carga horária e remanejamento entre os setores, por exemplo, além da necessidade da realização de ações estratégicas de prevenção para resguardar a saúde dos colaboradores e usuários. 

Por dia, quase 163 mil pessoas dependem de um ônibus do transporte coletivo para se deslocar na Grande Aracaju. Com a disseminação do vírus, em meados de março, motoristas, cobradores, agentes comerciais, fiscais e - claro - os passageiros tiveram que fazer adequações perante o novo contexto da pandemia. 

Não só a higienização pessoal se tornou obrigatória, como se intensificou a necessidade de evitar aglomerações nos ônibus, limpeza dos veículos, e o incentivo aos usuários de ônibus a manter o distanciamento e usar álcool gel. Um desafio e tanto. Não raras vezes, as cenas de veículos e terminais lotados dominaram o noticiário. E foi aí que as empresas precisaram se unir para tentar reduzir a exposição dos trabalhadores e usuários ao risco de infecção. 

Para evitar o uso de dinheiro em espécie - um dos potenciais vetores do vírus - no início de agosto, as empresas passaram a trabalhar com agentes comerciais incentivando a bilhetagem eletrônica através do cartão Mais Aracaju e vendendo recarga também.

A maior parte dos funcionários de empresas de transporte nunca viveu o isolamento social exigido pela Covid-19. De acordo com pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a categoria tem 71% de chance de ser contaminada pelo vírus.

Devido ao risco da atividade, logo no início da pandemia, o Ministério Público de Sergipe expediu recomendação para o cumprimento dos decretos estaduais e municipais e promoveu ações civis e fiscalizações no transporte público coletivo de Aracaju. A partir de abril foram ajuizadas Ações para evitar aglomerações nos acessos e nos ônibus e para que fosse promovida fiscalização do sistema para manter a circulação normal da frota nos horários de pico, e o cumprimento de higienização dos veículos e terminais. 

As empresas fizeram ajustes após fiscalizações que registraram superlotações e o MP entendeu pela necessidade do aumento de ônibus nos horários de pico para evitar aglomerações. Na época, o decreto municipal estabeleceu redução da frota em 30%, exceto nos períodos de pico. Em maio, o MP conseguiu a liminar, que determinou a circulação da frota normal em horário de pico na capital, no entanto, um dia após o Poder Judiciário ter concedido a liminar, o Município editou um artigo do decreto reduzindo a frota em 30% em dias úteis, mesmo em horário de pico. A SMTT interpôs recurso e a liminar foi revogada em parte. O Ministério apresentou contrarrazões e requereu no dia 15 a manutenção da decisão anterior. 

Já no dia 19 daquele mês, o MP moveu mais uma Ação para que fosse declarada a ilegalidade e nulidade do artigo em questão. Em junho, interpôs recurso para que Justiça suspendesse o artigo e que fosse mantida a redução da circulação da frota em 30%, em dias úteis, exceto nos horários de “pico”. Em julho, a fiscalização nos terminais do MP voltou a registrar aglomerações em alguns ônibus e levou os fatos ao Poder Judiciário.

Atualmente, o setor do transporte coletivo emprega 3.500 rodoviários na Grande Aracaju. O Setransp não possui um levantamento com o número de trabalhadores infectados, nem daqueles com comorbidades que foram afastados de suas funções. Na linha de frente da operação, o F5 News ouviu trabalhadores do sistema que relatam o impacto das mudanças provocadas na rotina.

Com a pandemia, o número de veículos nas ruas reduziu em 20%, mas a demanda despencou mais ainda, oscilando entre 36% e 40% nos períodos do pico da crise sanitária. Compare o fluxo de passageiros e a situação econômica das empresas de transporte público da Grande Aracaju entre março e dezembro de 2020.

Embora seja um instrumento importante na retomada da economia, o transporte coletivo também pode ser um grande vetor de disseminação da doença. Um estudo do Laboratório do Futuro da Coppe/UFRJ analisou os contextos e os riscos de mais de duas mil profissões no país em meio à pandemia, considerando três variáveis de cada ocupação que medem a exposição do trabalhador à doenças, o quanto a atividade exige que o trabalhador fique próximo a outras pessoas e o quanto exige que o trabalhador entre em contato com outras pessoas. 

A partir desses dados, os pesquisadores concluíram que o setor de transportes é um dos cinco mais propensos à infecção pelo novo coronavírus. Nele, as principais ocupações ficaram com risco elevado (acima de 60 pontos), tendo o motorista de ônibus ficado com 71 pontos, de um total de 100, que seria o maior risco de contágio possível.

“O setor rodoviário coletivo de passageiros, com itinerário fixo, municipal e em região metropolitana, emprega formalmente pouco mais de 455 mil pessoas. Dessas, 346 mil (76%) estariam em alto risco (acima de 60 pontos) de contágio de Covid-19. Os motoristas com 71 pontos e os cobradores com 66 pontos. Isso ocorre justamente porque as atividades exercidas por esses trabalhadores exigem sempre proximidade e, por vezes, contato com outras pessoas”, disse o pesquisador Yuri Lima, em entrevista ao F5News

“A testagem, pouco feita no país, seria muito importante tanto para os trabalhadores do setor, quanto para as muitas pessoas que interagem com eles”, diz ele, lembrando a importância de se manter os protocolos preventivos adotados de modo geral, como o uso de máscara e higienização das mãos e veículos. Lima cita ainda algumas invenções que surgiram nesse período de pandemia que são específicas para certos trabalhadores como, por exemplo, uma proteção usada para isolar fisicamente o motorista dos passageiros.

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A Associação Nacional de Empresas de Transportes Urbanos buscou experiências na Europa e nos Estados Unidos a fim de criar um protocolo de Covid-19. O documento foi enviado ao Ministério de Desenvolvimento. Confira as normas:


 

Edição de texto: Monica Pinto
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