164 anos: confira os desafios para Aracaju em oito áreas | F5 News - Sergipe Atualizado

164 anos: confira os desafios para Aracaju em oito áreas
Especialistas propõem soluções para a próxima década na capital sergipana
Cotidiano | Por Fernanda Araujo 17/03/2019 08h00 - Atualizado em 18/03/2019 09h35


Aracaju, uma cidade com população estimada em 648.939 mil pessoas, completa 164 anos e tem pela frente muitos desafios. Marcada por uma construção histórica baseada em motivações políticas, patrimônios que retratam conflitos, crescimento urbano e comercial, a jovem capital do Estado de Sergipe, a menor da federação, ainda tem muitas áreas de expansão.

De acordo com os últimos dados do IBGE [2010], o Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) da capital é de 0,770 e a escolarização de 6 a 14 anos chega a 97,4%. Sua densidade demográfica é de 3.140,65 hab/km², segundo Censo em 2018, e uma área territorial de 181,857 km². Os dados apontam ainda que Aracaju tem o PIB per capita de R$ 25.717,68 [2016], com receitas realizadas em mais de R$ 1,7 bilhão e despesas empenhadas em R$ 1,5 bilhão, em 2017.

Para a próxima década, F5 News elencou com especialistas um breve relato sobre os desafios que, na opinião deles, devem ser enfrentados pelo Município nas áreas de Educação, Cidadania, Turismo, Saúde, Infraestrutura, Mobilidade, Economia e Desenvolvimento Socioeconômico. Ao mesmo tempo, os profissionais também propõem soluções para superar os problemas que parecem se agigantar a cada ano.

A assistência social interligada à Cidadania é um dos gargalos do Município, que possui 26.622 habitantes em situação de extrema pobreza, segundo Censo do IBGE de 2010 e que, de acordo com profissionais da área, tem sofrido com cortes orçamentários, impactando na execução de projetos, programas e na oferta de serviços e benefícios, levando a perdas na atenção às pessoas em vulnerabilidade social.

Entre outros desafios estão a qualidade da educação e combater a violência no ambiente escolar; investir na divulgação do destino Aracaju; recuperar a oferta de médicos; reestruturar os espaços públicos e garantir educação ambiental; gerar emprego e renda.

Educação – Ronaldo Linhares, mestre em Educação pela UFS, professor Titular do Programa de Pós Graduação em Educação da Unit e avaliador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira:

O grande desafio ainda persiste em qualidade e igualdade na educação pública. A universalização do acesso não veio acompanhada da melhoria da qualidade. Além desse desafio acrescenta-se o crescimento da violência dentro e fora da escola, que exige um aparato maior das políticas públicas de segurança. Podemos destacar também a falta de programas de formação continuada de professores eficientes que possibilite a atualização das práticas docentes, mais adequadas às demandas dos alunos que vivem numa sociedade dominada pelas tecnologias digitais móveis e ubíquas. Esta proposição por uma prática docente renovada deve ser uma preocupação das instituições de ensino superior responsáveis pela formação inicial de professores principalmente aqueles que atuarão no ensino fundamental. A relação comunicação e educação é outra dificuldade no processo de aprendizagem de jovens que tem consumido informações sem crítica através das mídias digitais. As políticas de implantação de tecnologias digitais de informação e comunicação têm sido quase sempre por meio de programas e projetos externos, sujeitando professores e técnicos à imposição de modelos de ação que não foram fruto de demanda e condições reais da sociedade. Na maioria das vezes os projetos são implantados sem que as redes tenham base financeira e infraestrutura adequada para mantê-los e atualizá-los depois que os parceiros saem e deixam as máquinas e tecnologias sob a responsabilidade do parceiro público provocando uma constante descontinuidade das ações e um desânimo por parte dos professores e alunos em relação às possibilidades pedagógica das tecnologias.

Cidadania – Maria Ione Vasconcelos, coordenadora do curso de Serviço Social da UNIT EAD:

Vivenciamos um cenário político econômico fragilizado, onde se vislumbra o desmonte das políticas públicas, com perdas de direitos sociais, agravantes do processo de exclusão social. Desafios se colocam como a luta pela falta de recursos para efetivação do SUAS [Sistema Único de Assistência Social]; estabelecer estratégias evitando os cortes progressivos no orçamento, visando a não retirada de direitos; que os usuários possam ter informações suficientes e corretas sobre os regramentos para a concessão de benefícios, fator que dificulta o exercício da cidadania e a reivindicação de direitos. O nosso município enfrenta o grande desafio de consolidação de um Sistema de Proteção que de fato garanta ao menos os mínimos sociais. A proteção social se ocupa nas vitimizações, fragilidades e vulnerabilidades e riscos aos cidadãos e suas famílias, instituição esta centralidade de atuação, isto requer o cuidado exaustivo nas formas de gerenciamento de programas e projetos que proponham a superação dos quadros anteriormente citados, a gestão deve-se basear na emancipação, autonomia do sujeito opondo-se a um processo assistencialista de atendimento que tutela o indivíduo, deve-se considerar o direito do cidadão e não um favor a este. As novas faces da violência e formas de exclusão social tendem a demandar a formação e a capacitação continuada de profissionais que atendam as estes desdobramentos sem culpabilizar o sujeito pelo seu estado de vulnerabilidade social. Outro grande desafio é a mobilização social compreendendo o Controle Social enquanto ferramenta de gestão compartilhada e participativa fazendo o usuário entender que ele é parte do processo e não produto. A gestão financeira dos recursos atrelados à assistência é um gargalo que sufoca o desenvolvimento integral e contínuo das ações, o nosso município assim como tantos outros tem enfrentado certo recuo por parte do Governo do Estado e do Governo Federal quanto ao financiamento desta política pública tão necessária. Por muito tempo outra grande preocupação é a inclusão produtiva e a geração de renda com fins de autonomia financeira e superação da condição da pobreza e a retirada da "dependência" de usuários dos programas de transferência de renda. A infraestrutura e as condições de trabalho refletem muito no cotidiano operacional da rede de atendimento. Não obstante a estruturação da vigilância parece socioassistencial ainda pouco concreta, que acaba implicando diretamente no diagnóstico e planejamento das intervenções junto aos usuários.

Turismo – Amâncio Cardoso, professor de História do Departamento de Turismo do Instituto Federal de Sergipe (IFS), área em que atua há doze anos:

É preciso reavaliar toda a política pública de turismo para haver uma integração entre os poderes públicos municipais e estadual, ou seja, que o Estado articule a política de gestão de turismo, que ainda não está realizada em Sergipe, para que possa intervir nessa área com mais eficiência e fazer parcerias com a iniciativa privada, uma vez que também é um agente empreendedor no Trade Turístico. Além disso, é preciso incentivar cursos de capacitação para aqueles que estão inseridos nessa área, como taxistas, vendedores ambulantes, recepcionistas de hotel. Importante ainda valorizar mais esses empreendimentos urbanos ligados ao turismo, por exemplo, o atracadouro próximo ao Iate Clube de onde saem os catamarãs para passeios no rio Sergipe, o qual está precisando de uma reforma. Esse tipo de equipamento é básico para o passeio turístico e não pode deixar a cidade sem ele por conta da falta de cuidado da iniciativa privada e do poder público. Outra necessidade é a integração com as cidades vizinhas entre Aracaju, São Cristóvão, Laranjeiras, Socorro, Itaporanga e Barra dos Coqueiros, regiões metropolitanas. Precisa-se também de um cuidado maior e valorização dos patrimônios culturais, em termos de publicidade e educação patrimonial. Acho que o destino Aracaju/Sergipe é pouco ou mal divulgado em outros estados e até em outros países, como Argentina. O investimento na área de marketing turístico é importante para a  capital, que precisa de uma política de turismo mais efetiva e empreendedora.

Saúde – João Augusto, médico e presidente do Sindicato dos Médicos de Sergipe:

No mínimo, recuperar a oferta de médicos à população Aracajuana, outrora existente, mas que ano a ano vem diminuindo na rede pública municipal, pois o poder público não vem estimulando a fixação do médico em Aracaju, seja pela valorização salarial, seja pelo respeito ao profissional ou pelas condições de trabalho. Nestes últimos dois anos foram quase 100 pedidos de demissão, ou seja, a sociedade deixou de ter 100 médicos servidores públicos a menos na assistência à saúde. Não tem como ampliar oferta de consulta à população, tanto na atenção básica quanto na especializada, quando o número de médicos vem diminuindo ano a ano e de forma significativa. Se pegarmos de 2004 para cá foram mais de 1000 pedidos de demissão de médicos em Aracaju. Defendo uma política de valorização salarial com reestruturação da carreira médica existente e concurso público; maior oferta de exames à população, com maior controle da execução dos serviços contratados; organização na compra de medicamentos, pois comprar medicamentos simplesmente pela lista de medicamentos disponibilizados pelo SUS tem feito com que tenha uma grande quantidade de medicamentos vencidos por não terem sido prescritos, assim como a falta de outros por terem sido muito prescritos; associar a lista de medicações com a epidemiologia e realidade local, a nível de região de saúde ou unidade se saúde. Por fim, a informatização do atendimento em saúde, que englobe o prontuário eletrônico, o sistema de marcação de consultas, o sistema de dispensação e provisão de medicamentos e o sistema de marcação de exames. Isso feito e interligado vai haver maior controle dos gastos públicos, um controle real da prestação dos serviços em saúde, tanto próprios quanto contratados, e também do registro único da saúde do cidadão Aracajuano.

Infraestrutura – Clarisse de Almeida, arquiteta e urbanista:

Aracaju sofre os mesmos males que a maioria das cidades brasileiras: ausência de manutenção e apropriação indevida dos espaços públicos. Embora muitos outros problemas rodeiem a nossas cidades, tais como a deterioração galopante da malha viária; o colapso das redes de drenagem anunciado pela excessiva pavimentação dos espaços livres nos lotes, ou mesmo a crescente desorganização espacial fruto da falta de um planejamento para o desenvolvimento da malha urbana, considero os dois primeiros os desafios a serem imediatamente encarados, por serem a longo prazo itens que, se resolvidos, podem evitar problemas ainda maiores no cotidiano da cidade.

Aracaju tem belas intervenções urbanas que estão se perdendo dia após dia. Os equipamentos das praças, dos calçadões são constantemente vandalizados. Proponho a Educação Ambiental. Maciça. Em todas as escolas municipais; nas atividades comunitárias, em campanhas publicitárias; nos shoppings, nos ônibus, em toda a parte. Essa mesma educação ambiental pode resolver a apropriação indevida dos espaços coletivos por indivíduos vestidos de empreendedorismo que a partir de uma lógica pessoal qualquer ocupa espaços em praças, largos, calçadas, faixas de proteção, e até mesmo canteiros em jardins, para aí estabelecerem seus negócios. Educaria também o que estaciona nas calçadas, o que rouba espécies e arranca árvores dos jardins, aquele que liga seu esgoto na rede drenagem, e até mesmo quem invade as bordas dos rios. Em suma, antes de investir numa renovação urbana, precisa ser garantida uma convivência de respeito entre a cidade e o cidadão, portanto, o foco deve ser priorizar a Educação Ambiental Urbana.

Mobilidade – Nelson Felipe, especialista em trânsito e ex-superintendente Municipal de Transporte e Trânsito:

Hoje é preciso tratar as cidades brasileiras como cidades inteligentes (smart cities). Para tanto é necessário que tenhamos políticas públicas voltadas para o planejamento da mobilidade urbana como um todo. Já não é mais possível pensar as cidades sem pensar em como as pessoas vão se locomover, como irão chegar ao trabalho, à escola, etc. As cidades precisam ter em sua gestão um quadro de profissionais aptos a tratar do assunto e resolver os problemas. Atualmente existem modelos a serem seguidos, no Brasil, a cidade de Curitiba é um deles. O Rio de Janeiro e São Paulo já estão seguindo no mesmo caminho. Aracaju por ser a menor de todas as capitais, mas não menos importante, poderia ser um grande laboratório para todos esses projetos com o intuito de melhorar a mobilidade. A implantação de verdade de corredores de transporte, o VLT, o próprio BRT e não esquecer de que a população brasileira e a sergipana não é diferente, tem uma verdadeira paixão por carros, por isso também não se pode esquecer dos corredores de veículos de passeio, que em Curitiba se chama de vias rápidas. No entanto, para realizar tudo isso não é necessário somente recursos financeiros, mas também coragem para realizar uma mudança de paradigma e cultural tão signigicativa. É preciso coragem para realizar.

Economia – Rodrigo Rocha, economista na Federação das Indústrias de Sergipe (Fies):

Ao longo dos últimos anos vários segmentos econômicos sofreram impactos violentos com a crise enfrentada pelo país, em especial atividades ligadas à construção civil e petróleo gás, gerando um efeito muito negativo também na economia de Aracaju, com reflexo significativo no aumento do desemprego. Diante disto a economia aracajuana tem o grande desafio de gerar emprego e renda para a sua população. Para que isso ocorra é necessária a união de esforços entre os setores público e privado. Através da ampliação do diálogo será possível identificar os principais entraves e suas possíveis soluções, permitindo melhorar o ambiente de negócios e gerar, assim, a atração de mais investimentos, bem como a ampliação dos negócios já existentes, acelerando o processo de desenvolvimento econômico e social da capital sergipana.

Desenvolvimento Socioeconômico – Sudanês Pereira, economista na Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia (Sedetec-SE)

Aracaju é uma cidade urbanizada, mas apresentando problemas anda sérios de saneamento, habitações subnormais, transporte urbano, em especial para os bairros com maior população. Os desafios ainda são muitos. Porém, a cidade ainda possui uma qualidade de vida melhor que outras capitais do país, o que nos diferencia e nos orgulha.

Entre os dez municípios mais ricos de Sergipe, o município de Aracaju, capital do estado, está na primeira colocação, representando cerca de 40% do PIB sergipano, com um PIB em 2016 de R$ 16,4 bilhões. Do ponto de vista da sua estrutura de produção, é um município essencialmente ligado ao setor serviços, o qual tem uma participação de 81,9% na riqueza do município. Entre os cinco maiores PIB per capita de Sergipe, Aracaju está na quarta colocação (R$ 25.717,68). O setor de serviços tem um peso significativo para o município de Aracaju, que, em 2016, gerou R$ 11,9 bilhões para economia sergipana. Os segmentos onde houve aumento na participação da geração de riqueza para o município foram o atacadista, de automóveis e combustíveis. A capital também é responsável por 47,5% do transporte sergipano, concentra maior parte (72,3%) das atividades financeiras, já as atividades imobiliárias na capital representam 52,7% do total do estado. Aracaju foi responsável por 47,8% do que foi arrecadado no estado em 2016.

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