Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a velocidade máxima para veículos nas áreas urbanas das cidades deve ser de 50km/h. Segundo a entidade, no relatório ‘Prevenção de lesões causadas no Trânsito’, a velocidade dos veículos motorizados influencia tanto no risco, como na consequência da colisão. Ainda de acordo com a OMS, foram registradas mais de 1,35 milhão de mortes no trânsito em 2018. 

Em Aracaju, de acordo com dados da Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT), em 2020 foi registrado o total de 3.626 acidentes de trânsito. Esse ano, de janeiro a agosto, já ocorreram 1.915 colisões. 

Grandes cidades do mundo, a exemplo de Londres, já adotaram velocidades menores e têm obtido bons resultados. Na capital sergipana, a velocidade máxima permitida nas vias de médio ou grande fluxo de veículos é de 60km/h e, segundo a SMTT, não há interesse ou projeto de redução dessa velocidade por parte da Prefeitura de Aracaju. 

A Comunicação da pasta informa ainda que, até o ano de 2007, durante a primeira gestão do prefeito Edvaldo Nogueira, em algumas avenidas importantes, como Beira Mar e Tancredo Neves, a velocidade máxima permitida era de 80km/h. No entanto, diante do número excessivo de acidentes de trânsito nessas áreas, foi necessária a mudança, que aconteceu naquele mesmo ano. “Desde então, foram obtidos excelentes resultados para a segurança viária da capital sergipana”, afirma a SMTT. 

De acordo com o estudo da OMS, quanto maior a velocidade de um veículo, menor o tempo que o condutor tem para acionar os freios e evitar uma colisão. “Um automóvel em movimento a 50 km/h precisará, em geral, de 13 metros para parar, enquanto que outro, a 40 km/h, irá parar em menos de 8,5 metros. Um aumento médio na velocidade em 1 km/h está associado a um aumento em 3% no risco de uma colisão produzir lesões.

Em colisões graves, o aumento do risco é ainda maior. Nesses casos, um aumento médio em 1 km/h na velocidade aumenta em 5% o risco de colisões graves ou fatais. Um acréscimo de 5 km/h acima de um limite de velocidade permitido de 65 km/h resulta em um aumento no risco relativo de se envolver em uma colisão com vítimas que é comparável ao de apresentar uma concentração de álcool no sangue de 0,05 g/dl”, diz o texto do estudo. 

De acordo com o ex-superintendente da SMTT e Polícia Rodoviária Federal de Sergipe, o advogado Nelson Felipe, membro da Comissão de Legislação de Trânsito e Mobilidade Urbana da OAB/SE, o Código de Trânsito Brasileiro exige velocidade máxima para vias arteriais de 60km/h, como é aplicado em Aracaju. 

“A capital só tem vias arteriais e vias locais, não possuímos vias de trânsito rápido, onde a máxima é de 80km/h. Portanto, cabe à prefeitura decidir a velocidade que irá implantar nessas vias, desde que não ultrapasse a velocidade estipulada no CTB”, afirma o especialista. 

Ainda segundo Nelson, estudos internacionais demonstram que uma diferença mínima de 7km/h na velocidade máxima influencia em mais de 20km/h na hora de um acidente. 

“Se você estiver em um veículo a 67km/h e outra pessoa em outro veículo a 60km/h e ambos precisarem frear emergencialmente ao mesmo tempo por causa de um obstáculo 50m à frente, o que estava a 60km/h colidirá com o obstáculo à 4km/h, ou seja, um leve encontrão. Enquanto aquele que vinha a 67km/h irá colidir a quase 34km/h. Isso poderá ser a diferença entre os níveis de lesão ou não entre as pessoas envolvidas num acidente”, explica. 

Conforme o especialista, vias da orla de Atalaia, as avenidas Hermes Fontes e Ministro Geraldo Barreto Sobral poderiam passar a ter velocidade máxima permitida em 50km/h, pois possuem um fluxo grande de pedestres. 

“Cabe ao poder público decidir se a menor velocidade é melhor ou não para salvar a vida dos condutores. Para tanto, é necessário educação e demonstrar para a população a necessidade de se reduzir a velocidade máxima nas vias urbanas”, afirma Nelson Felipe. 

Ao F5News, a SMTT informou que defende a velocidade de 60km por hora nas principais vias de Aracaju, pois julga ser adequada para o equilíbrio entre a fluidez do trânsito e a segurança viária da população. 

“Os números obtidos pelo Núcleo de Estatísticas da SMTT revelam que, nos últimos dez anos, a maioria dos acidentes graves registrados na cidade é provocada por excesso de velocidade acima de 40% (ou seja, acima de 80km/hora), ingestão de bebida alcoólica pelo condutor, avanço de sinal vermelho e distração com aparelhos eletrônicos, especialmente o telefone celular. Por isso, o órgão municipal de trânsito chama a atenção para a necessidade do compromisso individual das pessoas com a segurança viária. Para reforçar a mensagem de conscientização à população, a SMTT realiza semanalmente ações educativas em diversos pontos de Aracaju”, reforça a Comunicação do órgão.