Calazar: entenda os sintomas, transmissão e tratamento da doença
Sergipe já registrou 41 casos da Leshimaniose e oito mortes neste ano Cotidiano | Por Fernanda Araujo e Will Rodriguez 08/11/2018 13h55 - Atualizado em 09/11/2018 14h04A Leshimaniose, mais conhecida como Calazar, é uma das doenças parasitárias que mais mata no mundo e das mais perigosas doenças tropicais negligenciadas (DTNs). O Brasil é um dos países que possui fator de risco para a disseminação dessa doença que afeta animais e humanos, e que precisa de um combate rápido, efetivo e contínuo.
Em Sergipe, no ano passado, segundo a Secretaria de Estado da Saúde, foram registrados 74 casos, com nove mortes. Neste ano 55 casos foram confirmados e nove pessoas morreram. Um deles, um menino de apenas três anos de idade, morador do município de Neópolis, que estava internado no Hospital de Urgências de Sergipe por 20 dias e faleceu no dia 5 deste mês.
De acordo com a técnica de Referência de Zoonoses e Arboviroses de Aracaju, Celiângela Santana, a coleta de sangue para o exame específico da Leshimaniose visceral pode ser feito em uma das 44 unidades de saúde a partir da solicitação de um médico. Esse material é levado para o Laboratório Central de Sergipe (Lacen) e, mesmo antes do resultado final, começa o acompanhamento da vigilância epidemiológica.
“Entramos em contato com o paciente, familiares, para saber toda a trajetória clínica desse paciente, por onde ele andou. É acionado também o setor de trabalho de campo do Zoonoses, que vai investigar a procedência do vetor da doença”, afirma.
Ainda segundo a técnica, o município disponibiliza o remédio glucantime para os pacientes que fazem o tratamento no âmbito ambulatorial (na própria unidade de saúde). Caso seja preciso fazer o tratamento hospitalar, a medicação é ofertada pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) no Case. E se for preciso internar o paciente, a unidade de referência é o Hospital Universitário.
O que é a doença?
O Calazar, endêmico em 47 países, é uma zoonose transmitida para o humano através da picada do “mosquito-palha” que esteja infectado e, se não for tratada, chega a ser fatal em 95% dos casos, segundo o Ministério da Saúde. O calazar é causado pelo protozoário parasita Leishmania que ataca o sistema imunológico e, meses após a infecção inicial, a doença pode evoluir para uma forma visceral mais grave.
O calazar é uma doença tratável e curável. Todos os pacientes diagnosticados precisam de tratamento rápido e completo. Aqueles que são curados do calazar quase sempre desenvolvem imunidade vitalícia.
Como é a transmissão?
Primeiro o inseto (vetor) pica o cão infectado (ou outros mamíferos de sangue quente, como raposas, ratos, gato, sagui, gambá, cavalo) e ingere a leishmania, que está presente no animal contaminado e se transforma dentro do intestino do vetor na forma infectante. A picada do vetor irá infectar humanos e novos animais, destruindo seu sistema imunológico. O próprio humano também pode ser o vetor da doença.
Quais os sintomas?
No caso do homem deve-se prestar atenção a sintomas como emagrecimento, febre, diarreia e crescimento do abdômen. No animal, as manifestações vão desde o surgimento de dermatite e feridas na pele, principalmente em regiões como focinho, ponta de orelha e cauda, como também emagrecimento, sangramento nasal, febre e problemas renais.
E o tratamento?
O tratamento para o homem é feito a partir de duas medicações, durante o período de 30 dias, e é preciso fazer o acompanhamento médico e refazer os exames a cada seis meses. Em Aracaju, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) trabalha orientando a população sergipana sobre a doença e as medidas de prevenção.
No cão, antigamente a única opção era a eutanásia. Porém, novos medicamentos aprovados pelo Ministério da Agricultura surgiram e o tratamento já é realizado por médicos veterinários, surtindo efeitos positivos. No animal a doença não tem cura, mas o tratamento aumenta a expectativa de vida e ameniza os sintomas, gerando maior qualidade de vida. O tratamento envolve exames e medicamentos que deverão ser administrados de forma rotineira até o fim da vida do animal.
Quais fatores de risco?
Estima-se que 200 a 400 mil novos casos de Calazar ocorram anualmente no mundo, mais de 90% ocorrem em seis países, um deles o Brasil. A doença geralmente está associada à desnutrição, mudança de ambiente, condições precárias de habitação e saneamento, sistema imunológico fraco e mudanças ambientais, como desmatamento, construção de barragens, sistemas de irrigação e urbanização. O inseto costuma se reproduzir em locais com matéria orgânica em decomposição.
Como prevenir?
A prevenção é combater o mosquito. No animal existem alguns métodos, através da vacina, com o uso de coleiras especiais, repelentes e inseticidas, que devem ser orientados pelo médico veterinário para não haver envenenamento no animal de estimação. É preciso ainda consultar um médico veterinário ou a Saúde do seu município para saber se existem áreas de perigo
Para evitar a proliferação do mosquito e prevenir em humanos, a melhor maneira é deixar o quintal limpo, não acumular lixo, nem deixar lixeiras abertas. Deve ainda manter o canil ou a área em que o cachorro fica sempre protegido.
Os munícipes também devem eliminar o lixo orgânico de forma adequada (restos de comida, folhas, frutos e restos de galhos), evitar água parada, limpar constantemente os abrigos de animais, além de higienizar os bichinhos.
*Com informações do Médicos Sem Fronteiras
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