“Fomos calados”, diz estudante sergipana após decisão do MEC sobre Enem | F5 News - Sergipe Atualizado

Educação
“Fomos calados”, diz estudante sergipana após decisão do MEC sobre Enem
MEC anunciou provas para janeiro, alunos de redes públicas se sentem prejudicados
Cotidiano | Por Saullo Hipolito 09/07/2020 16h25


A decisão do Ministério da Educação (MEC) de anunciar para os dias 17 e 24 de janeiro de 2021 as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), na sua versão impressa, e 31 para de janeiro e 7 de fevereiro a versão digital, não foi avaliada com bons olhos por muitos alunos - sobretudo da rede pública -, que preferiam a realização da prova no mês de maio. Professores também falaram sobre o assunto com F5 News e se mostraram angustiados com a situação no país.

Em junho deste ano, o Inep realizou uma enquete virtual para saber em quais datas os estudantes gostariam de realizar a prova. Pelo levantamento, 49,7% dos estudantes preferiam que o Enem impresso fosse aplicado nos dias 2 e 9 de maio de 2021 e o Enem digital em 16 e 23 de maio. 

 Vivemos um mix de desgosto, decepção, é como se fossemos inúteis para o MEC”, disse Laura Marceline Hipolito, que ressaltou preocupação com alunos da rede pública, para ela, bastante prejudicados: “Na verdade, suficiente [o tempo de preparação] não será. Serão apenas seis meses para os alunos de escola particular, mas para os da pública serão bem menos, já que eles não estão tendo aula. Quando eu e minha amigas fomos votar na data a gente pensou justamente por esse lado. Votamos [para as provas acontecerem] em maio, até por ter mais tempo também para se preparar, mas parece que foi em vão”, afirmou a estudante da rede privada, que pretende cursar Medicina.

A opinião dela converge com a da professora de redação Paloma Abdullah, que tem um grupo de ajuda a cerca de 50 alunos da rede pública e se sensibilizou com os sentimentos deles ao saber das datas da prova. “Eles ficaram arrasados, acham que serão prejudicados, pois são reais as dificuldades de conectividade que têm”, falou a professora. Ela avaliou que o momento de pandemia vai afetar quem está se preparando há mais ou menos tempo. “É muita incerteza, mesmo aqueles que têm todos os aparatos tecnológicos e físicos para se preparar sofrem neste momento. A saúde mental deles está abalada, a falta de perspectiva, mortes e desemprego, tudo isso influencia”, disse.

Outra professora que se mostrou contrária a décisão do MEC foi Clédia Maria dos Santos, docente de língua portuguesa na rede pública. “Não concordo com a data, é prejudicial e danoso para o aluno da escola pública. A maioria dos alunos de escola pública não tem acesso à internet. Muitos deles não conseguem participar das aulas online, para você ter uma ideia, nas minhas turmas eu tenho até 40% de participação e não é por falta de interesse, mas de ferramentas. Os alunos da escola particular têm estrutura para fazer aulas síncronas (videoconferência) e assíncronas (plataformas de aprendizagem, como o Google Classroom). Isso não funciona em nossa realidade”.

Ao comentar a decisão de aplicar as provas entre janeiro e fevereiro, o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, disse que levou em conta, além da própria enquete, as opiniões das instituições de ensino e das secretarias de Educação.

"A enquete não seria o único parâmetro para definição da data, era mais um parâmetro. Entendemos que seria muito importante ouvir os secretários estaduais de Educação, representados aqui pelo Consed, como também as instituições de Ensino Superior, tanto públicas quanto privadas. Todas as informações foram levadas em consideração. Com relação à enquete, mais da metade dos alunos optaram por dezembro e janeiro; maio foi menos de 50% dos alunos, então, mais da metade dos alunos preferiu dezembro e janeiro e a gente também está atendendo esse público", argumentou.

Diferente do que argumenta o próprio presidente do Inep, na votação três datas foram apresentadas para os alunos e a que teve o maior número de votos foi a referente ao mês de maio, com 553.033, 49,7% do total de votantes. Em seguida, ficou a data de janeiro, com 392.902 votos (35,3% do total) e por último a data de dezembro, com 167.415 votos (15% do total).

Ainda segundo o órgão,  participaram da enquete 1.113.350 alunos, o que representa 19,3% dos total de quase 5,8 milhões de estudantes inscritos confirmados, sendo realizada entre os dias 20 e 30 de junho, na Página do Participante, destinando-se apenas aos inscritos no Enem 2020.

Em sua totalidade, os entrevistados acreditam que a data escolhida pelo Ministério - à revelia do resultado da votação - reforçará o prejuízo a estudantes por causa de suas realidades, a exemplo da aluna da rede pública Débora Nascimento. Vivendo em zona rural, ela se diz triste com a divulgação das datas. A jovem garante que não está tendo aulas neste momento e vai se aperfeiçoando com vídeos disponibilizados no YouTube. Débora finalizou o Ensino Médio no ano passado e tenta estudar pelos conteúdos que os seus antigos professores passaram, na busca por ser aprovada para cursar Agronomia. “Marcaram as provas para janeiro mesmo sabendo que não é certeza o fim ou controle desta pandemia”, lamenta.

E é por essa incerteza que a estudante da rede privada Rafaela Costa denota ansiedade em sua fala. “Eu felizmente tenho as aulas em casa e minha escola faz o máximo para eu me preparar. Talvez eu tenha mais facilidade, mas não sei como será para outros alunos que estudam em escolas onde as aulas não estão acontecendo e não têm o mesmo suporte que eu tenho, é preocupante. Eu tenho uma insegurança em fazer a prova, pelo momento em que vivemos, comecei o ano com a prova na cabeça e, o quanto antes ela ocorrer, acredito que vou tirar o peso das costas”, disse a aluna da 3ª Série do Ensino Médio, que pretende cursar Psicologia.

Estudante do Instituto Federal de Sergipe, a aluna Ana Rute Chagas garantiu que junto com os colegas de turma encontrou o mês de maio como a data ideal para a realização das provas do Enem. De acordo com ela, essa escolha do Ministério gera um sentimento de “injustiça e insegurança”.

“Cada pessoa tem um tempo de preparação. Para mim é tempo suficiente, mas para outras pessoas que podem estar mais ocupadas ou passando por problemas familiares não será. Essa votação, gera um sentimento de injustiça e ignorância, as opiniões de alguns dos meus colegas são semelhantes, principalmente sobre o tempo de preparação. A maioria dos alunos da rede pública está sem acesso ao  EaD e isso nos deixa bem atrasados em relação aos estudos”, disse Ana Rute Chagas, que ainda está avaliando o curso que vai fazer.

A estudante ainda ressaltou que entrou em acordo com outros amigos para votar pelas provas em maio, apesar de muitos deles expressarem receio quanto ao Enem 2021: “no ritmo em que tudo está ocorrendo, há a preocupação de que ele não seja realizado quando deveria, gerando uma bola de neve”.

Paloma Abdallah também demonstrou preocupação com essa situação. Para a professora é certo que essa decisão foi difícil, mas, se colocadas as provas em maio, se poderia criar um complicador para os Exames futuros. “Como vivemos um momento de incerteza, onde não sabemos quando as aulas voltarão à modalidade presencial, é difícil. Não acho que janeiro foi justo, principalmente para os alunos da rede pública, a maioria que compõe o Enem. Muitos deles não estão fazendo aulas, eles têm a conectividade dificultada, principalmente para pessoas mais pobres e que vivem em áreas rurais. É uma dualidade complicada, mesmo assim, não vejo maio como a alternativa por conta do próximo Enem. Infelizmente não temos a certeza nem de como estaremos na virada do ano”.

O secretário executivo da pasta, Antonio Paulo Vogel, ministro interino Educação, disse que entende as dificuldades, mas que a decisão foi técnica. "Entendemos que essa decisão não é uma decisão perfeita e maravilhosa para todos. Sabemos que não é. Então, buscamos uma solução técnica, tentando ver a data que melhor se adequa a todos", afirmou, ao divulgar o novo calendário. Segundo ele, a definição das datas foi construída após diálogo com as secretarias estaduais de Educação e entidades que representam as instituições de ensino superior, tanto privadas quanto públicas.

Empatia

Chama  a atenção a empatia que alunos da rede privada estão demonstrando com os da rede pública. Isabelle Alves, por exemplo, afirma que em relação ao tempo de estudo não se sente afetada, já que praticamente não perdeu aula durante a pandemia. Porém, se preocupa com quem não tem as mesmas condições e que só voltou a estudar no mês de junho. "Criaram uma falsa expectativa, o que nos trouxe muito mais ansiedade que o normal. Acho uma falta de respeito o fato de simplesmente ignorarem nossa opinião, que eles mesmos pediram”, afirmou.

“Esse período fez com que a empatia se tornasse algo mais palpável. É um momento que mexe com todos. As pessoas pararam e olharam para o lado e viram outro ser humano, nesse momento nós tivemos a possibilidade de perceber essas questões e valores que estavam esquecidos, ou até mesmo perdidos”, disse Clédia Maria.

Muitos alunos informaram que esperam um posicionamento do Ministério da Educação em relação a um auxílio, encontrando maneiras de substituir as aulas ou para dar algum tipo de suporte aos que realmente precisam. “Seria o mínimo que eles poderiam fazer para a gente. Uma grande ajuda para os estudantes de uma classe social que não é alta e não converge com a realidade que eles esperam”, afirmou a aluna Ana Beatriz Meneses, que votou para a prova acontecer em maio e apontou dificuldades em seguir roteiros que os professores estão passando durante a pandemia, por causa de conectividade e complicações tecnológicas.

Resultado das provas e Sisu

Ainda de acordo com o que foi anunciado pelo Ministério da Educação, a previsão é de que os resultados das provas sejam divulgados no dia 29 de março. Já em relação ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2020, o ministro interino da Educação destacou que, caso seja um desejo das instituições de ensino, o MEC poderá abrir um terceiro período de inscrições. Normalmente, o Sisu é aberto duas vezes no ano, no primeiro e no segundo semestre.

As inscrições para o atual Sistema de Seleção Unificada (Sisu) de 2020 estão abertas até esta sexta-feira (10). Na oportunidade serão oferecidas mais de 51 mil vagas em instituições de ensino superior do país.

Pela primeira vez, além dos cursos de graduação presenciais, o Sisu 2020.2 vai ofertar vagas na modalidade à distância (EaD). Além de ter feito o Enem de 2019, os interessados não podem ter zerado a redação. Estudantes que fizeram o exame na condição de treineiros também não podem participar.

Edição de texto: Monica Pinto
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