Pobreza Menstrual: saiba o que significa o termo e os problemas envolvidos | F5 News - Sergipe Atualizado

Pobreza Menstrual: saiba o que significa o termo e os problemas envolvidos
Falta de higiene adequada durante menstruação pode afetar saúde física e mental
Cotidiano | Por Laís de Melo 15/06/2021 07h00


Milhares de meninas e mulheres no mundo sofrem com a falta de acesso à higiene básica durante o período menstrual. Sem banheiro, chuveiro, água tratada, absorventes, e até mesmo sem conhecimento sobre menstruação, muitas são incluídas nas estatísticas de pessoas que sofrem com a pobreza menstrual e, no Brasil, esses índices são alarmantes. 

Conforme dados de um relatório divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), 713 mil meninas brasileiras vivem em residências que não possuem banheiro ou chuveiro, e mais de 4 milhões não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas. 

Ainda segundo os números do relatório, 900 mil meninas brasileiras não têm acesso à água canalizada em seus domicílios e 6,5 milhões vivem em casas sem ligação à rede de esgoto. 

Essa realidade é ainda mais dura para meninas negras, já que o estudo aponta que a chance de elas não possuírem acesso a banheiros é quase três vezes a chance de uma menina branca nas mesmas condições. 

Para piorar, os absorventes são considerados artigos de luxo diante dos preços cobrados no Brasil, fazendo com que muitas meninas que vivem em situação de pobreza ou extrema pobreza não tenham condições de adquiri-los. Uma mulher tem cerca de 450 ciclos menstruais durante a vida e utiliza, em média, 20 absorventes por ciclo. Isso significa que elas devem precisar de cerca de 10 mil absorventes durante toda a idade fértil. Levando em consideração o custo médio de R$ 0,60 por absorvente, as mulheres gastam R$ 6 mil com esse item. 

No Brasil, conforme dados apresentados no relatório da Unicef, cerca de 13,6 milhões de habitantes vivem com menos de U$ 1,90 por dia, o equivalente a R$ 151 por mês, segundo cotação de 2019; e cerca de 51,5 milhões de pessoas estão abaixo da linha de pobreza. Em Sergipe, são mais de 200 mil pessoas vivendo em situação de extrema pobreza, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada em meados de fevereiro de 2020. Isso demonstra que muitas mulheres não têm condições de comprar absorventes e buscam outros meios que, muitas vezes, podem afetar em cheio a saúde feminina. 

De acordo com a médica Marina de Pádua, ginecologista da Rede Primavera, quando não há condições, muitas meninas utilizam soluções improvisadas para conter o sangramento, como pedaços usados de pano, roupas velhas, meias, jornais e até miolo de pão. 

“Quando a isto ocorre, problemas de saúde podem ser desencadeados, como alergia e irritação da pele e mucosas, infecções urogenitais como a cistite e vulvovaginites (candidíase, vaginose bacteriana), e até uma condição que pode levar à morte, conhecida como Síndrome do Choque Tóxico”, explica a médica. 

Além disso, a ausência de boas condições para o cuidado da saúde menstrual pode acarretar problemas para a saúde mental, segundo aponta a ginecologista, levando a desconforto, insegurança e estresse, de modo a contribuir para aumentar a discriminação e estigmatização.

“Em suma, é uma urgência a discussão da saúde menstrual das nossas garotas, já que é um assunto que interfere em todo seu âmbito de vida, emocional, social e de saúde”, reforça a médica Marina de Pádua. 

A menstruação é um processo natural vivenciado por todas as mulheres, a partir dos 13 anos de idade - a média de idade em que as meninas brasileiras menstruam pela primeira vez - e 90% delas passarão entre três e sete anos da vida escolar menstruando. Mas, ainda assim, o assunto é tratado com muito estigma e tabus, o que prejudica ainda mais a saúde feminina. 

De acordo com o relatório da Unicef e Unfpa, a educação integral em sexualidade, incluindo a educação menstrual, deve ser mais amplamente difundida, não apenas com o enfoque para a prevenção contra gravidez não intencional, mas também como uma ferramenta para que as meninas conheçam seus próprios corpos, conheçam seu ciclo menstrual e haja promoção de bem-estar. 

“Esse conhecimento deve levar a superar mitos de inferioridade feminina, que apontam a menstruação como podridão, indignidade ou como falha em produzir uma gravidez. Deve ainda contribuir para derrubar mitos de que os produtos menstruais internos, como absorvente interno e coletor “tiram a virgindade" ou “podem se perder dentro do corpo”, entre outros”, diz o texto da pesquisa. 

Tanto as incorreções como os mitos podem acabar frustrando o completo desenvolvimento do potencial das meninas. “A pobreza menstrual exige estratégias de enfrentamento igualmente complexas e multissetoriais, que se relacionam aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e ao Programa de Ação da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento/CIPD e que devem compreender ações no âmbito das políticas de educação, saúde e saneamento básico”, avalia o relatório. 

De acordo com a Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado da Inclusão e Assistência Social, “o papel do Estado é coordenar, capacitar, fazer o assessoramento técnico e cofinanciar a Política de Assistência para equipes de abordagem, equipamentos destinados especificamente à população em situação de rua da gestão municipal”. 

Segundo o órgão, o Governo repassa, a título de cofinanciamento estadual, o valor mensal de R$ 1 milhão para os municípios sergipanos. “O Estado também mantém dois abrigos para crianças e adolescentes em Carmópolis e Frei Paulo, um abrigo para mulheres vítimas de violência e a Casa de Passagem, além do Padre Pedro”, disse a comunicação da Seias.

Na época em que a vice-governadora, Eliane Aquino, era secretária de Assistência de Aracaju, foi instalada uma nova sede do Centro POP na Rua Laranjeiras, no Centro da capital, com vários banheiros masculinos, femininos e adaptados, para o uso da população em situação de rua, com acesso a produtos de higiene pessoal. 

Secretaria Municipal da Assistência Social

Procurada por F5 News, a Secretaria Municipal da Assistência Social informou que atua junto às pessoas em situação de vulnerabilidade social, cidadãos, em sua maioria, em situação de rua, a partir de unidades de acolhimento como o Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro POP), situado na região central da cidade e que atende, por dia, 120 pessoas.

Nesta unidade, o usuário pode guardar seus utensílios, tomar banho, lavar roupas, ter acesso à alimentação, como café da manhã e tickets refeição para almoço e jantar em restaurante popular. Além do Centro POP, outra forma de apoio é o acolhimento nos abrigos disponibilizados pela Prefeitura. Atualmente, a Assistência Social oferta, de forma permanente, o Abrigo Acolher; o Centro de Apoio ao Migrante (CAM), parceria com o Governo do Estado; a Emef Freitas Brandão; e um espaço de isolamento para o usuário com sintomas gripais ou com covid-19, para 20 pessoas, o Cras Terezinha Meira.

“Nesses abrigos, os acolhidos recebem três refeições por dia: café da manhã, almoço e jantar. Além disso, são disponibilizados produtos de higiene e limpeza, como sabonetes, absorventes, creme dental e escova de dentes, roupas, toalhas, lençóis, cobertores, álcool, além de colchões, assim como orientações sobre os cuidados necessários para o enfrentamento da covid-19. Tanto a alimentação quanto os produtos de higiene são frutos de uma parceria realizada com a Secretaria de Estado da Inclusão e Assistência Social (Seias)”, afirma a Comunicação do órgão.

Edição de texto: Monica Pinto
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