Um Nobel no combate à pobreza global | F5 News - Sergipe Atualizado

Um Nobel no combate à pobreza global
"Economia do Desenvolvimento" ganha força com trio de cientistas vitorioso
Editorial | Por Monica Pinto 18/10/2019 12h00 - Atualizado em 18/10/2019 13h04

O Nobel de Economia deste ano traz algumas singularidades que fazem dele terreno fértil para reflexões importantes. Primeiro, é dessa categoria a única mulher em 2019 a amealhar essa tradicional e respeitada honraria – Esther Duflo. A francoamericana compartilha o  prêmio com seus dois parceiros pesquisadores, o americano nascido na Índia Abhijit Banerjee, seu marido e como ela do quadro do MIT (Massachusetts Institute of Technology), e o americano Michael Kremer, de Harvard. Mas a trajetória científica de Esther tem outros e igualmente significativos méritos: é a segunda mulher na história a ganhar o Nobel de Economia - depois da americana Ellinor Ostrom, em 2009 - e também a mais jovem, aos 46 anos.

Feito esse preâmbulo de aclamação específica a Esther Duflo, o trio vitorioso vem se notabilizando por um enfoque inovador no enfrentamento à pobreza, de aplicação teoricamente factível nos muitos bolsões por todo o planeta.  "Os laureados mostraram como o problema da pobreza global pode ser resolvido dividindo-o em uma série de perguntas menores – mas mais precisas – nos níveis individual ou de grupo. Eles respondem cada uma delas usando um experimento de campo especialmente projetado. Em apenas 20 anos, essa abordagem reformulou completamente a pesquisa no campo conhecido como economia do desenvolvimento", justificou o comitê do Nobel.

O júri levou em conta que, como resultado direto de apenas um dos estudos do trio, mais de 5 milhões de crianças indianas se beneficiaram de programas eficazes de aulas de reforço nas escolas. Para o comitê do Nobel, as pesquisas desenvolvidas pelos laureados têm um grande potencial para melhorar “a vida das pessoas em pior situação do mundo" (confira algumas delas em reportagem do portal G1).

“Apesar da melhora nos padrões de vida, mais de 700 milhões de pessoas ainda subsistem com rendas extremamente baixas. A cada ano, cerca de cinco milhões de crianças menores de cinco anos morrem por doenças que poderiam frequentemente ser prevenidas ou curadas com tratamentos que não são caros. Metade das crianças do mundo ainda abandona a escola com capacidades apenas básicas de leitura e aritmética”, disse o Banco Nacional da Suécia, que criou o Nobel de Economia em 1968, única categoria não instituída em testamento pelo químico e inventor Alfred Nobel. E acrescenta que os premiados deste ano introduziram uma nova forma de dar respostas factíveis a problemas relacionados à extrema pobreza, chegando a conclusões capazes de melhorar os resultados educacionais e a saúde infantil.

A ótica transformadora do trio de cientistas perpassa sobretudo a imagem do campo em que atuam. “Nossa visão da pobreza está dominada por caricaturas e clichês”, já avaliou Esther Duflo, para quem o esforço de mudar essa percepção precisa alcançar a economia e os economistas.  "Quando você é economista, as pessoas acham que você está interessado nas finanças ou que você trabalha para os ricos, mas isso não é necessariamente o caso", afirmou ela em entrevista. 

Numa área acadêmica geralmente sem clara conexão com a rotina da maioria – ao menos diretamente -, é um alívio verificar que há conhecimentos sendo postos em prática, de forma bem sucedida, voltados a diminuir o quadro das desigualdades sociais vigentes e as mazelas que delas advém. Vislumbra-se a esperança de que esses estudos, de aplicação já comprovadamente positiva, ao granjearem tão emblemático triunfo, contribuam para agregar e mobilizar outros pesquisadores dispostos a operar em prol do mesmo objetivo. É a Ciência, mais uma vez, a serviço de um mundo melhor. 

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