Jornalista sergipana lança livro sobre o Caso Genivaldo e aprofunda debate sobre a violência
Livro-reportagem de Franciele Oliveira expõe a brutalidade policial e os desafios dos direitos humanos no Brasil Entretenimento | Por Gabriel Ribeiro 24/11/2024 15h00 - Atualizado em 25/11/2024 09h14Um livro-reportagem que busca iluminar as sombras da violência policial e do racismo no Brasil. Quem Protege Quem? O Caso Genivaldo e o Medo da Polícia, de Franciele Oliveira, examina o assassinato de Genivaldo de Jesus Santos. O homem, negro e diagnosticado com esquizofrenia, foi torturado e morto por agentes da Polícia Rodoviária Federal em uma abordagem em Umbaúba, Sergipe, no dia 25 de maio de 2022. O caso, que repercutiu internacionalmente, tornou-se um marco na discussão sobre abuso de poder, racismo estrutural e violações de direitos humanos no país. Em entrevista ao F5 News, Franciele compartilhou os desafios, as motivações e o impacto esperado de sua obra, que transcende o relato factual e convida à reflexão.
Franciele descreveu o processo de produção do livro como "doloroso e emocionalmente desgastante". Crescida em Umbaúba, ela destacou o impacto pessoal do caso. "Era a cidade onde vivi por muitos anos, e assistir os vídeos do ocorrido foi um desafio. Precisei revê-los inúmeras vezes, em detalhes, para narrar fielmente o que aconteceu. Era como estar naquele momento, e isso mexeu muito comigo", explica.
A jornalista também enfrentou dificuldades práticas, como o acesso às fontes. "Meu objetivo inicial era entrevistar familiares de Genivaldo e reconstruir sua trajetória, mas os advogados bloquearam o contato, alegando que isso poderia interferir no processo judicial. Isso me obrigou a reformular o planejamento, o que acabou fortalecendo a obra", revelou.
A frase que dá subtítulo ao livro, "Eu não sou contra a polícia; só tenho medo dela", foi escolhida por Franciele para traduzir o sentimento que permeia a narrativa. Segundo ela, a frase reflete a realidade de muitos brasileiros. "Não se trata de atacar a instituição policial, mas de reconhecer que há um problema estrutural na segurança pública. Esse medo é resultado de abusos e da falta de confiança em quem deveria nos proteger", conta a autora.
O caso Genivaldo como marco de discussão
Para Franciele, o assassinato de Genivaldo é emblemático não apenas pela brutalidade, mas pelo contexto. A data do crime, que coincidiu com o segundo aniversário do assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, intensificou o debate sobre racismo e violência policial. "Dois homens negros, de classes sociais baixas, mortos por policiais de forma cruel. Casos como o de Genivaldo são representativos porque expõem padrões que há muito tempo precisam ser discutidos," afirmou.
Franciele explicou que sua obra tem como objetivo provocar reflexão sem abrir mão da imparcialidade. "Tentei trazer dados, relatos e análises que permitissem ao leitor formar sua própria opinião. Meu intuito sempre foi evitar que o caso de Genivaldo se tornasse apenas mais uma estatística em meio a tantas outras", disse. Segundo ela, em 2022, Sergipe tinha o segundo maior índice de mortes decorrentes de ações policiais.Quando questionada sobre o que espera da recepção do livro, Franciele foi enfática: "Tudo começa com a discussão. Quero que as pessoas entendam a importância de debater violência policial, valorizar os direitos humanos e cobrar mudanças estruturais na segurança pública. Essa luta é coletiva", disse.
O lançamento e a importância da literatura
O livro será lançado nesta terça-feira (26), na Biblioteca Epiphânio Dória, em Aracaju, com entrada gratuita. Franciele destaca a importância do evento como um espaço de troca e reflexão. Além disso, a jornalista ressaltou o papel transformador do jornalismo e da literatura no combate à violência institucional. "Enquanto o jornalismo investigativo documenta abusos e revela verdades, a literatura humaniza essas histórias e aprofunda nossa compreensão. Juntos, promovem justiça e conscientização", diz.
A obra, inicialmente concebida como Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo pela Universidade Federal de Sergipe, passou por revisões e ajustes antes de ser publicada. Franciele contou que a decisão de lançá-la este ano foi motivada por atualizações no caso Genivaldo, como a data do júri popular. "Minha orientadora de TCC me incentivou, acreditando que o livro poderia contribuir para o debate público e reforçar a importância da justiça," relatou.
Quem desejar adquirir Quem Protege Quem? pode entrar em contato com Franciele por suas redes sociais, pelo telefone 79998775830 ou adquirir o exemplar durante o evento de lançamento.