"Albano e João não ameaçaram professores com polícia, como Déda"
Ana Lúcia diz que com Albano e João a pressão era psicológica Política 29/05/2012 06h59Joedson Telles
A deputada estadual Ana Lúcia Menezes (PT) usou, mais uma vez, a tribuna da Assembleia Legislativa para apelar ao governador Marcelo Déda (PT) que conceda reajuste de 22,22% a todos os professores da rede pública de ensino. Desta vez, porém, a deputada fez um discurso duro, argumentando que os professores estão sendo maltratados pelo governo do Estado, que age pior que os governos conservadores dos ex-governadores Albano Franco e João Alves Filho (DEM). A deputada insiste que o governo teima em não cumprir a Lei do Piso do Magistério. Ao final da sessão, Ana Lúcia concedeu entrevista aos repórteres e ratificou as duras críticas ao governo do Estado. "Em determinadas questões, a situação é pior porque a humilhação que nós passamos, ontem e hoje, nesses dois governos a gente não passou. Eu quero mais uma vez esclarecer que no governo Albano e no governo João Alves a pressão era psicológica. Era de disputa política, de concepção de política, de quais os direitos dos trabalhadores da educação, mas nós nunca fomos ameaçados com polícia, com despejo", diz. A entrevista:
Jornalistas - O governador vai conversar com a categoria?
Ana Lúcia - Aí nós não sabemos. A categoria apela para que mesmo que ele não queria conversar ele apresente uma alternativa para que possamos superar esse impasse e os professores possam voltar para as escolas.
Jornalistas - Na tribuna, a senhora ressaltou que não há nada de ilegal. Os professores estão se manifestando por um direito deles...
Ana Lúcia - O governador, no dia 3 de maio, pede a ilegalidade da greve. Graças a Deus, a Justiça, de forma madura, até agora não decretou. Que país é esse que até o Supremo julga que é direito, o governo não cumpre com o direito? Os professores entram em um processo de reivindicação e o governo não quer negociar e fecha todos os canais e não mostra alternativa e nem quer resolver os problemas por onde tem a sangria dos recursos para pagar?
Jornalistas - Utilizando a tribuna da Assembleia, a senhora taxou de arcaica as ferramentas utilizadas pelo Governo do Estado. Por que, deputada?
Ana Lúcia - Eu disse que são conservadoras, não disse que era antigo. Coisas antigas são boas também. Conservador é aquele que emperra a mudança. O governo está usando instrumentos e procedimentos conservadores. A sociedade está vendo isso.
Jornalistas - Difere daqueles governos de Albano e de João Alves, que o então deputado Marcelo Déda tanto combateu?
Ana Lúcia - Em determinadas questões, a situação é pior porque a humilhação que nós passamos, ontem e hoje, nesses dois governos a gente não passou. Eu quero mais uma vez esclarecer que no governo Albano e no governo João Alves a pressão era psicológica. Era de disputa política, de concepção de política, de quais os direitos dos trabalhadores da educação, mas nós nunca fomos ameaçados com polícia, com despejo. A Secretaria de Educação, na gestão do professor Nicodemos, nós ocupamos com um caixão de papelão, com um dragão destruindo a educação. O caixão ficou na entrada e os professores todos lá na secretaria. De imediato, o secretário atendeu, buscou alternativas. As tensões sempre existiram, mas nunca chegou a uma tensão dessa forma de desqualificar, principalmente, a direção do sindicato. Fica parecendo que a disputa é com a direção do sindicato e não por uma questão de direito. A questão é muito grave, e nessa história já são 42 dias. O governo que mais demorou em termos de greve foi o governo Valadares, em 1990, e foram 56 dias. O segundo foi o governo Albano Franco, que foram mais de 40 dias. A partir daí tanto Albano quanto João e Valadares, em outras greves, eram, no máximo, vinte e poucos dias, porque o processo de reposição é um processo que a gente tem preocupação. Os professores, os alunos, os pais dos alunos. É um processo que requer muito diálogo, para que, de fato, aconteça a reposição. São mais de 40 dias. E desses 40 dias tem mais de 30 dias letivos. Quem gerou o problema foi o Poder Executivo e quem tem que buscar a solução é o Poder Executivo. A Justiça não tem que estar preocupada com esses conflitos trabalhistas, inclusive a Justiça do trabalho é quem deveria estar resolvendo isso. A Justiça precisa resolver os processos de corrupção, de colarinho branco, de traficante de drogas porque eles estão prejudicando a sociedade, e não aos educadores. Os educadores democratizam a sociedade, socializa o conhecimento. O que nós pedimos, e conclamamos, é que o governo busque uma alternativa de dialogar e apresentar uma proposta a categoria.
Jornalistas - Qual a avaliação da senhora sobre a colocação do governador, afirmando que alunos e pais estão sendo prejudicados?
Ana Lúcia - Ele disse o óbvio. Aluno, professor, pai e funcionários estão todos prejudicados, porque uma greve de educador não é igual a uma greve de outros trabalhadores. Cada dia não lecionado tem que ser reposto porque a legislação fecha 200 dias letivos e isso tem que ser dado porque não termina o ano letivo. Pode terminar no outro ano, mas o ano letivo tem que encerrar com ata e com tudo. Então, a população está sentindo, mas está apoiando, e se a população está apoiando quer dizer que é justo. Como é que o professor consegue conquistar um direito e esse direito é negado pelos poderes, seja municipal ou estadual? Por que não se mobilizam para buscar o recurso? Ficam só justificando, e no nosso caso tem muitos recursos sendo gastos com os outros poderes. O Executivo não prioriza, e depois fica justificando.
Jornalistas - E quanto ao apelo do governador para que os professores retornem as aulas?
Ana Lúcia - Ele apresente uma proposta que retornamos de imediato. Quem mais quer retornar as aulas são os professores. Quem mais sofrem as consequências são os professores, os alunos e os pais. Os professores têm que repor, e aí vai o mês de dezembro, janeiro, o mês de fevereiro repondo aula quando já podia ter resolvido isso.
Jornalistas - A senhora disse que o governo está com vontade de vingança. Que vingança é essa?
Ana Lúcia - O grupo que ajudou a eleger Marcelo Déda é um grupo que dirige o sindicato, e, para ele, o sindicato tem que seguir as normas que ele estabelecer. É isso que fica claro para mim porque desde que ele assumiu gera conflito com essa categoria. Ele não abre o diálogo e fica avaliando negativamente. Isso é uma fortíssima contradição.
Jornalistas - O governador desaprendeu a fazer política?
Ana Lúcia - Não. Ele está fazendo uma política conservadora e desaprendeu a fazer uma política progressista. Hoje, um ouvinte em uma determinada emissora disse que eu não era mais a cara do PT. O PT é a cara dos trabalhadores, porque ele surge daí e não mudou seus princípios. Se há petista querendo mudar, a sociedade que cobre, mas o partido não mudou não. O governador está abaixo da média. Ele precisa se recompor com os princípios. Isso não quer dizer que ele vá implementar o programa do partido porque é um governo de colisão, mas a sua forma de dialogar isso não é pressão de colisão não. E dialogar é princípio democrático. Republicano.
Jornalistas - A senhora está surpresa com o que está acontecendo?
Ana Lúcia - Estou e tenho dito. Uma pessoa com a inteligência de Marcelo Déda, coma sensibilidade que ele sempre teve, Marcelo Déda é um poeta de uma inteligência privilegiada respeitada pelo Brasil inteiro, e tem esse comportamento? Alguém tem que dizer e eu estou dizendo em público.
Jornalistas - O governador está sendo mal assessorado?
Ana Lúcia - Ele é uma pessoa que coordena muito bem, dá muita autonomia, e, por isso, eu não posso estar taxando ninguém que é mal ou bem assessorado. Eu acho que ele que é o governante que lidera e foi eleito. E tem que ter a posição de estadista.
Com reportagem de Isabelle Marques, Joedson Telles, Eron Ribeiro e Chico Freire
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