Falta de atendimento pediátrico em Sergipe é uma doença crônica | F5 News - Sergipe Atualizado

Saúde
Falta de atendimento pediátrico em Sergipe é uma doença crônica
Além da redução nas vagas, SBP aponta ausência de planejamento dos gestores na área
Cotidiano | Por Fernanda Araujo e Will Rodriguez 15/04/2019 06h21 - Atualizado em 15/04/2019 11h32


“E se a minha filha morrer?”. A pergunta da dona da casa Amanda Costa, feita no começo da semana passada enquanto aguardava atendimento para sua filha no Hospital Santa Isabel, em Aracaju, continua a ecoar como alerta para um problema antigo e que parece se agravar a cada dia: a falta de leitos pediátricos na rede hospitalar de Sergipe.

Amanda procurou a urgência do Santa Isabel às 4 horas da madrugada da segunda-feira (8) com sua filha – que tem paralisia cerebral – vomitando e com diarreia. Passaram-se três horas e tudo que ela conseguiu foi colocar o nome numa fila de espera. “Ela é especial, não consegue falar, a enfermeira olhou, mas não fez nada porque não tem vaga”, contou.

Dois dias antes, agonia semelhante foi vivenciada pelo comerciário Alex Souza, mas dessa vez, nos Hospitais de Urgência (Huse) e no Zé Franco, em Socorro. Foram cerca de oito horas entre uma unidade e outra para conseguir assistência para sua filha de um ano e oito meses de idade. O motivo de tanta demora? “Não tinha vagas ou não tinha médico”, disse.

Esses dois casos, mostrados pelo F5 News nas últimas semanas, não são isolados. E é justamente nesse ponto que a situação se agrava. O primeiro semestre do ano é o período em que as doenças "sazonais" prevalecem em crianças, lotando as urgências e emergências. Geralmente acentuam-se as viroses gastrointestinais, as ocorrências de alergias, gripes, infecções respiratórias, pneumonia e casos de dengue, que contribuem para o crescimento da demanda por internações, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

No entanto, a falta de vagas ainda é um entrave na saúde pública, que afeta milhares de brasileiros todos os anos. Segundo o estudo mais recente da SBP, divulgado no ano passado, em seis anos o Brasil desativou mais de 10 mil leitos pediátricos do Sistema Único de Saúde (SUS). Os estados da região Sudeste e Nordeste foram os mais afetados. 

Em Sergipe, os leitos existentes de internação pediátrica clínica caíram mais da metade nesse período. O número saiu de 536 em 2010 para 296 em 2016. Somente do SUS cairam de 477 para 236. Em Aracaju, os leitos tiveram uma redução de 196 em 2010, para 175 em 2016. Só do SUS, de 151 para 120.

De acordo ainda com o relatório, essa redução também ocorreu nos leitos de internamento neonatais, específicos para crianças recém-nascidas. Os dados apontam que faltam mais de 3 mil leitos neonatais em todo o país. O déficit na rede sergipana é de 58 leitos de UTI neonatal para chegar ao indicador considerado ideal pela SBP, segundo o qual é preciso no mínimo quatro leitos para cada grupo de mil nascidos vivos.

No total de leitos de UTI neonatal existentes em Sergipe houve uma redução de 93 em 2010 para 87 em 2017. Os leitos do SUS, que eram 60 em 2010, tiveram  aumento de apenas quatro em 2017. No total de leitos neonatais existentes em Aracaju, eram 86  em 2010 e houve a inclusão de apenas mais um em 2017.  Do SUS subiu apenas de 60 para 64.

De acordo com a SBP, a redução do número de leitos tem impacto direto no atendimento, provocando atrasos no diagnóstico e no início do tratamento de uma população que tem aumentado a cada ano e de forma considerável. 

A presidente da Sociedade de Pediatria em Sergipe, Tereza Cristina, analisa que essa rotina de desassistência "ano após ano" é resultado da falta de um planejamento estratégico. “É esperado um aumento do número de atendimentos nesse período e os gestores não preparam os serviços para atender bem essa demanda extra”, aponta.

Para a médica, a ampliação temporária dos leitos seria uma das estratégicas fundamentais para evitar os casos de superlotação e falta de assistência. "É necessária a ampliação de leitos e de pessoal do atendimento como profissionais médicos e de enfermagem, laboratório, Raio X", ressalta Tereza Cristina. 

Quando o atendimento primário falha, a situação se agrava. Por isso, outra intervenção para desafogar a rede é a contratação de pediatras para hospitais regionais, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e para as unidades de atenção básica. "Isso evitaria superlotar os serviços de Aracaju e cada cidade atenderia seus habitantes evitando deslocamentos", sugere a presidente. 

A seccional sergipana da SBP não soube informar quantos leitos pediátricos existem atualmente no Estado e quantos seriam necessários para atender à demanda e desafogar as unidades.

O que dizem os gestores

Na rede de urgência e emergência municipal, o hospital de referência pediátrica é o Fernando Franco, localizado na Zona Sul de Aracaju. Atualmente, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a unidade possui 15 leitos clínicos para pediatria, oito leitos de observação (sendo um de isolamento), e dois de estabilização.

Além disso, o município possui contratos vigentes com dois hospitais, o Santa Isabel e o Universitário (HU). Conforme a pasta, no Santa Isabel, Aracaju contrata atualmente 20 leitos de clínica médica pediátrica; sete leitos de pediatria cirúrgica; 30 leitos de UTI neonatal; sete de UTI pediátrica e 30 para cuidados intermediários neonatal convencional. Já no HU são contratados cinco leitos para pediatria cirúrgica e 16 leitos de clínica médica pediátrica. 

Questionada se existe algum planejamento para ampliar os leitos, a Saúde Municipal relata que os cortes de verbas e recursos destinados aos Estados e Municípios pelo Governo Federal ao longo dos anos têm interferido negativamente na rede pública, inviabilizando as chances de uma ampliação efetiva. Essa ampliação, segundo a pasta, também envolve situações complexas e custos que merecem planejamento orçamentário.

"Não é possível aumentar leitos sem que haja um aditivo nesses contratos vigentes com os hospitais. Também não pode simplesmente acrescentar leitos em um ou dois meses e, depois, retirá-los. Se houvesse recursos que possibilitassem esse aumento, com certeza seriam feitos aditivos em contrato", afirma a assessoria da SMS. 

Nos casos de leitos de UTI, o Estado é o responsável por gerenciar o quantitativo de leitos para os municípios que solicitam através do Sigal. Em Aracaju, parte dos leitos é de gerência estadual. A maternidade municipal, ainda em construção no bairro 17 de Março, deve possuir dez leitos de UTI neonatais que serão entregues somente em 2020.

"A gente não consegue dar vazão a rede de urgência e emergência dos leitos de UTI que a gente solicita pelo Estado. O Sigal remaneja o paciente para alguns dos hospitais regionais da rede dele ou em algum leito no Cirurgia ou do próprio Huse. Como é uma rede conjunta, é algo complexo para dizer se vai aumentar ou não. A Saúde Municipal tenta manter naquilo que for possível para atender as crianças na rede de saúde que não está sendo devidamente subsidiada pelo governo federal", completa a pasta.

F5 News fez os mesmos questionamentos à Rede Estadual de Saúde e ao Ministério da Saúde, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.

Mais Notícias de Cotidiano
Ascom PM
05/05/2024  17h07 Viatura da PM se envolve em acidente na Zona Norte de Aracaju
Colisão envolvendo três veículos e uma moto aconteceu durante perseguição a suspeito de tráfico
Emsurb/ Ascom
05/05/2024  10h00 Trânsito ficará meia pista na avenida Tancredo Neves nesta segunda-feira (6)
Será aplicada uma segunda camada de asfalto no sentido Beira Mar da via
Arthuro Paganini/Secom
05/05/2024  09h43 Estações meteorológicas em 40 municípios devem monitorar situações de risco
Governo prevê que instrumentos tornarão mais eficaz a prevenção aos efeitos da chuva
Freepik
05/05/2024  07h30 Ovos: saiba o que acontece com o corpo se comer a proteína diariamente
Uma das fontes de proteína animal mais acessíveis, ovo traz benefícios variados para a saúde
Reprodução Redes Sociais
04/05/2024  21h47 Incêndio em subestação deixa 20 mil casas sem energia em Porto da Folha (SE)
Energisa informou que 50% dos clientes já tiveram o fornecimento reestabelecido

F5 News Copyright © 2010-2024 F5 News - Sergipe Atualizado