Dezembro Vermelho é uma campanha nacional, instituída pela Lei nº 13.504/2017, cujo objetivo é conscientizar quanto à prevenção, assistência, proteção e promoção dos direitos humanos das pessoas que vivem com HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis.

O portal da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) destaca que ter o HIV não significa necessariamente ser acometido pela Aids, lembrando que há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença.

Este é o caso do jornalista sergipano Saullo Hipólito, que criou no Instagram a página @infoposithivas e se assume soropositivo sem qualquer dilema – apesar do estigma que ainda circunda esse quadro de saúde, em geral alimentado pelo preconceito.

Sem medo da exposição, ele foi inclusive palestrante em uma atividade alusiva ao Dezembro Vermelho realizada pelo Grupo Multserv no dia 14 passado.

Saullo já foi estagiário e, depois da graduação, contratado como repórter de F5 News por um período, após o qual se lançou a novos projetos. Ele concedeu ao portal a entrevista a seguir, na qual relata os motivos a impulsionarem esse movimento pessoal em prol de uma causa que, a rigor, permeia fortemente a saúde pública. Confira.

F5 News - Você tem se exposto nas redes sociais como soropositivo. Por que essa decisão?

Saullo Hipólito - Logo que fui infectado, eu passei a entender que em outros locais do Brasil havia pessoas que falavam sobre o assunto, mas que aqui em Sergipe ninguém se propunha. Com isso, entendi que deveria ser essa pessoa, pela visibilidade que tinha e pela minha profissão, daí comecei a pesquisar e estudar mais sobre o assunto, até expor publicamente minha sorologia positiva. A ideia sempre foi ser a voz de outras pessoas, auxiliar aqueles que descobriram recentemente o diagnóstico e informar aqueles que buscam ou não o assunto, normalizando o tema.

F5 News - Você já sofreu algum tipo de agressão por parte de internautas?

Saullo - Graças a Deus, isso não me atingiu. Sempre recebi bons retornos vindos dos seguidores e isso é o que me dá forças para seguir cada vez mais. Curiosamente, encontrei pessoas preconceituosas em ambientes de atendimento, muito pela falta de informações e treinamentos, mas que com uma conversa tudo foi esclarecido.

F5 News - Que mensagem você deseja transmitir com a página @infoposithivas?

Saullo - Que o HIV é apenas um vírus. Ela não define quem a pessoa é, ou seja, sempre será uma vírgula dentro do imenso livro da história de vida do indivíduo que vive com o vírus.

F5 News - Os soropositivos ainda carregam um estigma perante parte da sociedade? Você sente isso na prática?

Saullo - Ainda é muito difícil ser uma pessoa que vive com o vírus no país. A gente percebe isso pela quantidade de pessoas que omitem viver com o vírus, por medo. O que a gente quer é a normalização do tema, só assim teremos menos pessoas infectadas, mais conscientização e empatia.

Mesmo sendo uma pessoa que fala abertamente, ainda sinto um tratamento diferente, ou alguns olhares de julgamento em minha direção. Não me afetam, eu sei quem eu sou e o que o vírus representa para mim, mas, infelizmente, isso não serve para todo mundo, há pessoas que ainda sofrem e é isso que eu quero que não aconteça, por isso, seguirei transmitindo a informação e normalizando o que é ser uma pessoa vivendo com HIV.

F5 News – Pessoalmente, como você lida com a condição de soropositivo?

Saullo - Sigo minha vida, contando minha história e construindo meus amores, independentemente do vírus, que é só algo controlado e que habita em meu corpo, até o fim de minha vida ou até o anúncio e disponibilização da cura.