Segundo o arquiteto Le Corbusier “A casa é uma máquina de morar”. A citação do arquiteto modernista já não atendem aos anseios humanos há algum tempo, pois o mesmo espaço serve não só para dormir, mas também para o trabalho, a diversão, a educação e até para o relacionamento. A pandemia do COVID-19 intensificou a adaptação do espaço à nova forma de relação entre as pessoas e o espaço onde elas moram e a urgência de melhorias veio a tona. Hoje preocupações com higiene, espaço de trabalho, forma de diversão são básicos em qualquer projeto de edificação residencial em nosso escritório. 

https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fwww.dcoracao.com%2F2011%2F08%2Fle-corbusier-o-corvo.html&psig=AOvVaw3HJsw6-NiDsZC5N393r6X_&ust=1604702982863000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCKDgv9O-7OwCFQAAAAAdAAAAABAE

Le Corbusier a  maquete da Vila Savoye

A tecnologia nos permitiu fazer todas essas atividades dentro de nossas casas, que só foi possível com a evolução desta. Por exemplo, o celular que carregamos no bolso possui maior capacidade que o computador que levou o homem a Lua, e sem a internet na velocidade que se encontra hoje não teríamos vivido da mesma forma, talvez esses meses “insuportáveis” de confinamento para alguns tivessem sido um verdadeiro inferno. Pois é, hoje estamos passando por uma moradia muito mais parecida com os Jetsons, animação de ficção cientifica, da produtora Hanna Barbera, que “acontece” em 2062.

O mercado vinha com um direcionamento muito forte de moradias menores e grande mobilidade, porém houve forte mudança. O espaço então se adaptou, o comportamento de compra desenvolveu novas alternativas, ampliando o número de residências construídas! Pasmem no período de crise pandêmica, muito interessante observar esse fenômeno.

Agora as novas casas estão sendo adaptadas aos novos usos, o espaço de trabalho mais presente nos espaços das residências, espaços de lazer próprio onde o morador pode decidir para onde ir e o que fazer.

Estudo de caso

Para facilitar esse entendimento vamos trazer um exemplo real sem vir a tona nomes.

Momento da contratação do projeto, pré-covid, em 2019

Perfil do cliente:

Família com 04 integrantes, pais mais dois filhos, funcionários de grande empresa nacional com relativa estabilidade.

Naturalidade: Centro-oeste do país, o que ocasiona diferentes costumes da nossa região

Necessidades: Desenvolver uma casa confortável, porém o máximo “espartana” possível, com espaço de lazer integrado.

Conexão da cozinha com a sala, sem deixar de interagir com o gabinete que se conecta com a sala através de uma “porta camarão”

Suíte máster, com closet e Banheiro com Banheira para relaxar

03 quartos, sendo dois no andar superior e um no andar inferior, um para cada filho e um para hospedes (familiares e amigos já que moram no nordeste, a pesar de serem naturais do centro-oeste)

Busca por trazer o máximo de luz natural e ventilação dará a residência

Costumes como fazer churrasco a qualquer momento, como uma refeição cotidiana teve que ser levado em consideração do projeto

Pontos a ressaltar

A sala que antes da pandemia deveria que ser “espartana”, durante o Covid-19 se tornou a principal área de convívio, fazendo que o cliente nos convocasse para pensarmos como ampliar este espaço, observando-se a necessidade de crescimento do principal espaço de conexão da residência. O uso intenso do espaço propiciado pela pandemia transformou o que era para ser espartano, simples, em um espaço que necessita transmitir o máximo conforto possível aos seus usuários.

O uso da casa como um laboratório com os filhos ainda crianças: compostagem, jardinagem, criação de hortas, construção de artefatos incentivando o aprendizado e a interação com a família.

No primeiro momento, a área de lazer não foi construída, porém verificou-se a necessidade de construí-la e até estende-la sendo mais aberta e interativa conectando todo o espaço para amigos e familiares, fazendo com que o morador (usuário) consiga se conectar melhor com o espaço e a natureza fortalecendo uma das principais características durante a pandemia, a busca pelo bem estar. Portanto vale ressaltar que com o uso intenso ele mudou sua propria concepção do que seria certo em sua residencia o fazendo mudar de decisão para mais conforto!

https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fwww.damha.com.br%2Fempreendimento%2Fbarra-dos-coqueiros-damha-ii&psig=AOvVaw1uY47ld3-sMrofcb5pWcGb&ust=1604703811734000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCKiT-t_B7OwCFQAAAAAdAAAAABAG

Foto dos Lagos e natureza, condomínio Damha Sergipe 

O uso intenso do espaço fez o cliente querer aproveita-lo ao máximo, tanto como condomínio melhorando seu contato com vizinhos, natureza e áreas comuns através de caminhadas e passeios com os filhos, bem como seu espaço privado, antecipando fases de projetos/obras que estavam previstas para fases mais avançadas, o comportamento do consumidor foi modificado pelo o que se apresentou como realidade atual.

Conforto térmico, aconchego e eficiência energética fazem mais parte da nova moradia do que nunca. Busca por uma melhor ventilação e iluminação natural bem como conforto luminotecnico artificial e mobiliários que se adaptam aos espaços continuam mais fortes do que nunca. Uso de equipamentos eletrônicos dentre outros tendem aumentar o custo de energia nas edificações, levando ao uso de placas fotovoltaicas diminuindo drasticamente o custo de energia mensal e garantindo mais conforto e economia.

Voltando aos famosos Jetsons guardando toda aquela fantasia podemos e devemos fazer vários comparativos, as vídeos chamadas com o chefe, conseguir visualizar os amigos em um “telefone” pessoal, a aula de educação física pela televisão, dentre outras atividades que pareciam tão malucas e futurísticas quando foi lançado este desenho e hoje são tão comuns e bem vistos, todas estas inovações fizeram com que as pessoas pensassem mais no seu canto, na sua residencia, no conforto. Como comentado pelo famoso economista brasileiro Ricardo Amorim, este processo que estamos passando hoje não possui muito nada de novo, o que não justificaríamos chama-lo de novo normal e sim de aceleração de tendências, a casa multifuncional faz parte desta mudança, ocasionada pelo COVID19 e impulsionada pela tecnologia, comunicação e formas diferentes de trabalho.

Acompanhem os proximos passos da nossa coluna onde falaremos sobre mobilidade urbana, trazendo tendencias mundiais e exemplificando em nossa cidade, seus impactos na economia e qualidade de vida.

Arquitetos
Lucas Lima
Hugo Lobão