Por Fernanda Araujo

Cinco horas da manhã e Simone Gois se prepara para mais um dia de trabalho. A rotina da sergipana sempre começou cedo, mas há seis meses ela resolveu transformar a paixão pela cozinha em trabalho e passou a vender bolos sem cobertura, os famosos Naked Cakes. A nova atividade teve que ser conciliada com o seu emprego formal como gerente comercial. A correria aumentou, mas segundo Simone, a satisfação também. Ela garante que com dedicação dá sim para manter as duas ocupações sem estresse.

“Já está no sangue, desde criança eu fui criada no comércio e terminei me envolvendo nisso. Sempre fui boa em cozinha, salgados e doces, fazia para a família, um amigo ou irmão. Sempre tive vontade de ter um restaurante, quem me conhece sabe. Eu acho que daria certo se eu montasse porque tudo o que eu faço é com amor e carinho, eu sou modesta em dizer que faço bem feito”, afirma Simone.

Tudo começou após o nascimento do seu primeiro neto. Em julho deste ano, no aniversário de um mês, Simone preparou um bolo caprichado com pasta americana. Bastou postar uma foto nas redes sociais para que o seu produto se tornasse um sucesso. “A partir daí não parei mais. O pessoal começou a pedir encomendas, estou aqui até hoje, aprimorando e melhorando a qualidade para os clientes”, comemora.

Mas a ideia de fazer bolos decorativos não surgiu apenas pelo gosto na cozinha. Com o atual cenário de recessão da economia brasileira, o orçamento apertou e fechar as contas ficou difícil, por isso, muitas pessoas têm buscado alternativas para incrementar a renda, foi o que aconteceu com Simone. “O tempo vai passando e a necessidade de trabalhar aumenta, então, eu precisava ter outro emprego, já que trabalho no blog eu vi que dava para conciliar, porque sou eu quem marca as agendas e visitas aos clientes”, salienta.

Doçuras da Symon, como o empreendimento foi batizado, está dando certo e a cada dia conquista mais clientes, segundo ela. Apesar de ser difícil e cansativo por ter que dá conta de toda a produção, o gosto pelo que faz revigora a sua vontade de permanecer na atividade. “Só faz quem gosta porque é muito complicado, como tudo no início. Eu sou muito apaixonada. Comecei em uma brincadeira e as coisas acabaram crescendo, mas quando um filho ou a filha chegam eles dão uma ajudinha e assim vou levando”, conta.

A gerente comercial pretende estabelecer o Doçuras da Symon em um espaço maior e se especializar no ramo para oferecer mais qualidade aos clientes. “Eu sei que é um sonho, com essa crise não está fácil, tem que, realmente, ter responsabilidade. Mas não pode perder a esperança”, pondera.

Para quem acha que trabalhar na cozinha é menos cansativo do que qualquer emprego formal só porque fica em casa, se engana. A rotina de homens e mulheres que se dedicam ao ramo alimentício é, sem dúvida, suada.

“Acordo cedo, porque quem tem filho sabe como é, e durmo muito cansada. Eu faço de tudo para satisfazer o cliente, até dia de domingo. Faço tudo em pé, não sei fazer nada sentada, sentando é como se eu não tivesse agindo, produzindo, então no final do dia é muito cansativo, principalmente fim de semana. Mas, é o meu jeito, eu faço o que eu gosto, não reclamo de nada e para mim estou satisfeita”, garante Gois.

No capricho

Em tempos difíceis, no momento em que as pessoas procuram alternativas para auxiliar nas despesas, a empreendedora aconselha aos sergipanos a ter certeza do que quer fazer.

“Você tem que gostar do que faz, buscar meios para aprimorar e lidar com aquilo. Às vezes você começa um negócio por alguns meses, não dá certo e vai tudo por água abaixo. No meu caso, como sei que é algo que eu gosto, vou lá e faço. A pessoa tem que ter coragem”, destaca Simone.

Para Simone, é preciso se envolver no negócio de corpo e alma. É como diz aquele velho ditado popular o olho do dono é que engorda o gado. “Tem que estar envolvido, não pode montar um restaurante e ficar lá dentro, sentado e pronto, tem que penetrar no negócio”, indica.

O comércio é atualmente um dos principais setores da economia. No último mês de novembro, as contratações nesse segmento ajudaram a manter o nível de emprego em Sergipe. Foram abertas mais de 500 novas vagas, segundo dados do Ministério do Trabalho.

O comércio também representou o maior número de clientes atendidos pelo Banco do Nordeste em 2015. Em todo território sergipano, mais de cinco mil micro e pequenos empresários possuem carteira ativa de crédito na instituição. O gerente de negócios do BNB, Breno Valentim, destaca que a desburocratização do programa de microcrédito beneficia pessoas como Simone através do Giro Solidário. “A linha de crédito é aberta para pessoas que estão começando desde que elas participem de um grupo em que as demais pessoas já tenham atividade”, explica.

O gerente reconhece que os risco para os clientes informais são maiores e por isso, a preocupação em promover o crescimento de forma gradativa. “Muitas pessoas tentam alcançar resultados diferentes fazendo a mesma coisa. É preciso qualidade, experiência e relacionamento. Se algo não deu certo, o assessor de crédito vai identificar as causas para visualizar a solução. O primeiro passo é ter certeza do que quer, a partir desse momento, você fica motivado e consegue vencer as barreiras”, ressalta Breno.

Fotos: Fernanda Araujo/F5 News

Infográfico: Will Rodrigues/F5 News