Sustentabilidade está na moda. A palavra está presente nas redes sociais, nas universidades, conversas de bares e debates políticos. Ela deixou de ser relacionada apenas a hippies reclusos e se tornou um mecanismo eficiente para a preservação ambiental.

O mais recente panorama Ambiental Global (GEO-6) – relatório produzido por 250 cientistas de mais de 70 países –, a principal avaliação periódica da Organização das Nações Unidas (ONU), lançado em março deste ano, traz conclusões preocupantes sobre a atual situação – e o provável futuro – do planeta.

Desde a publicação do primeiro panorama, 22 anos atrás, houve algumas melhoras, mas nada muito significativo. O estado atual do meio ambiente ainda é de deterioração. Os vários acordos mundiais em prol da causa – como o de Paris, aprovado em 2015, do qual o Brasil faz parte – apontam o que deve ser feito: diminuir a poluição do ar, a perda da biodiversidade, usar com sensatez os recursos naturais e prestar atenção as mudanças climáticas são apenas algumas das atitudes necessárias.

Planeta em perigo

Os dados do relatório GEO-6 são assustadores - 8 milhões de toneladas de poluição plástica vão parar nos oceanos a cada ano; um terço de todos os alimentos produzidos para consumo humano é perdido ou desperdiçado; a humanidade usou cerca de 90 bilhões de toneladas de recursos em 2017; 42% dos invertebrados terrestres, 34% dos invertebrados de água doce e 25% dos invertebrados marinhos estão em risco de extinção; 95% da população do planeta reside em áreas com níveis de partículas finas superiores aos recomendados pela OMS.

Esses são apenas alguns fatos presentes no relatório que ilustram a atual decadência do planeta e servem como um grito de socorro para que políticos, empresários, autoridades e toda a população tome ações imediatas.

Apesar de ainda serem a minoria, cada vez mais pessoas estão fazendo escolhas sustentáveis e refletindo no seu impacto ambiental, seja adotando uma dieta vegana, reciclando ou consumindo menos plástico.

Seja a diferença

 

A empresária sergipana Indra d’Avila, de 31 anos, começou a se preocupar com a sustentabilidade quando abriu sua empresa “Mewe” – conhecida pela sua Kombucha, bebida probiótica – em 2017. Sua primeira mudança foi a reutilização da embalagem de vidro das bebidas, já que o material pode ser facilmente esterilizado e reutilizado.

A empresária também começou a se preocupar com a quantidade de resíduos produzida e a fazer a separação entre recicláveis, orgânicos e rejeitos (restos de processos que não podem ser reutilizados). Os materiais recicláveis são enviados para cooperativas, os orgânicos são colocados na compostagem e o rejeito no lixo comum.

Na sua vida pessoal, Indra adotou outros hábitos sustentáveis, como: usar coletor menstrual; não usar canudo; carregar guardanapo, talheres e copos reutilizáveis quando está na rua; usar escova de dente de bambu devido a sua degradação rápida e inofensiva; não consumir roupas de lojas fast fashion; usar produtos de limpeza biodegradáveis para limpeza geral e adotar uma dieta vegana há 4 anos.

Outra prática sustentável que a empresária iniciou junto com o seu esposo, Rodrigo de Freitas, é o projeto de limpeza do rio Vaza Barris. Em 10 meses de vida a iniciativa já retirou mais de 100 kg de resíduos do rio. As limpezas são feitas uma vez por mês e têm como parceira a loja Brumar, onde está sendo vendida uma garrafa com a logomarca do projeto, e toda renda é revertida às limpezas do rio.

Indra acredita que o que facilita a disseminação de práticas sustentáveis é o foco no bem maior em vez de nos hábitos egoicos e alerta que a mudança não precisa ser instantânea. "Tudo se torna fácil quando fazemos aos pouquinhos, dentro de nosso limite, uma coisa por vez, mas se movendo, saindo do conforto. A maior dificuldade mesmo é a falta de coleta seletiva nos bairros, a falta de incentivo do governo às cooperativas”, pontua.

É mais fácil do que parece

Outro exemplo de rotina com sustentabilidade é a da chef de cozinha e sócia do restaurante inteiramente vegano Bubalinos, Joelâne Silveira Alves, de 24 anos. Há seis anos, quando se tornou vegetariana e depois vegana, Joelâne entrou em contato com os impactos positivos do vegetarianismo e a redução da pegada ecológica gerada por ele.

“Sustentabilidade para mim é agir de maneira integrada, buscando alternativas que gerem menos impacto ambiental, consumindo local e adotar o veganismo como estilo de vida, parando então com o processo que mais gera impacto negativo no meio ambiente, de forma global, a agropecuária”, disse a chef.

Tanto em casa como no restaurante, Joelâne separa os itens recicláveis, não utiliza sacolas plásticas nas embalagens, reaproveita os vasilhames dos produtos (higienizando devidamente). Ela também  consome materiais de limpeza de marcas que não testam em animais, estimula o aproveitamento máximo e integral do alimento nas preparações, compra grande parte das frutas e verduras de produtores locais e separa o óleo utilizado para descarte adequado.

“Acho que quando falamos de sustentabilidade vemos algo muito distante de nós, como levar um estilo de vida autônomo e conseguir plantar tudo que se come. Mas a sustentabilidade existe e começa também nos pequenos atos. Separar o lixo, guardar o óleo, comprar roupas com menos frequência e preferir comprar de empresas locais, recusar aquela sacolinha de lixo no supermercado e tirar a carne do prato uma vez por semana são opções fáceis de começar a repensar os hábitos e ser uma sementinha positiva para um planeta mais sustentável”, reflete Joelâne.

 

*estagiária sob a orientação do jornalista Will Rodriguez. 

Fotos: acervo pessoal de  Indra d’Avila e Joelâne Silveira Alves