Mostra sabedoria, Aracaju!
Uma das últimas casas modernistas na capital corre risco de descaracterização Blogs e Colunas | Clarisse de Almeida 14/08/2022 21h00 - Atualizado em 14/08/2022 22h19Tenho andado muito desesperançada...
Principalmente com as questões dos imóveis da nossa cidade; quando não são sumariamente demolidos, e, por conseguinte desaparecem de nossa atribulada memória, são descaracterizados pelas reformas a que são submetidos como castigo por teimarem em existir.
Costumeiramente transformadas em estabelecimentos comerciais ou clinicas, casas tem seus adornos retirados, janelas fechadas, como se o jogo de aberturas x paredes cegas não fosse a alma de suas fachadas, gradis arrancados, e como golpe mortal são envelopadas pelo tal do “painel ACM” rigorosamente iguais para todas, diferenciados apenas pelas logomarcas nem sempre criativas que ostentam.
E lá ficam, feridas de morte, esquecidas de sua própria história.
E nós, expectadores do crime, sofrendo a mesma perda.
No momento, na mesa cirúrgica está uma das últimas casas Modernistas de nossa cidade, letra maiúscula, sim, por se tratar de um exemplar do estilo que emprestou qualidade reconhecida mundialmente à arquitetura brasileira, e também por pertencer a uma das correntes estilísticas mais expressivas no Brasil, a corrente Brutalista: a casa da avenida Beira Mar, esquina com a Vereador João Calazans, em frente ao Iate Clube.
Foi mantida integra por muitos anos, ocupada pela SEJUS. Um deleite para os olhos profissionais. Suspensa do ”rés do chão”, com sua materialidade exposta pelo excelente concreto aparente e alvenaria de blocos cerâmicos impecável, reinou absoluta por décadas até esses dias.
Fonte: Google Street.
Encontra-se hoje sofrendo uma intervenção. A expectativa é enorme. Que destino terá sido traçado para ela? Haverá sabedoria no ato? Será descaracterizada como foi por exemplo o imóvel do Espaço Semear que perdeu completamente sua identidade? Que medo! Torço muito para que seja respeitada e guardada. Que não tenha o triste destino dos dois belíssimos abrigos de ônibus do Calçadão da Treze, projeto do grande arquiteto modernista Lelé*, que foram sumariamente substituídos por abrigos de plástico verdes, por obra do prefeito de então. Sob nosso silêncio.
Conto então com a lucidez e formação dos “cirurgiões” da casa.
Que seja uma intervenção para sua sobrevivência e não para sua morte.
*João da Gama Filgueiras Lima, arquiteto, urbanista, construtor, ícone do Modernismo no Brasil.
Arquiteta e Urbanista pela FAUSS/RJ, especialista em Tecnologia Educacional pela UERJ e em Paisagismo pela UFLA/MG. Atua com ênfase em Desenho Urbano e Projetos de Edificação e Paisagismo. Leciona no curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIT. Possui trabalhos reconhecidos nacionalmente e tem sido palestrante em variados eventos. É membro da equipe da Ágora Arquitetos.
E-mail: arqclarissedealmeida@gmail.com
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