Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) comprovaram em um estudo que a acupuntura auricular, recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e já oferecida como prática integrativa pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2006, é segura em pacientes com depressão e foi capaz de reduzir sintomas da doença.

“Os resultados do trabalho foram publicados recentemente no periódico JAMA Network Open e reforçam o potencial da terapia como tratamento complementar de um problema que motiva cada vez mais atendimentos na rede pública, de acordo com dados do Ministério da Saúde”, informa notícia da Agência Fapesp publicada no final do mês passado.

Conforme a reportagem, por três meses, os pesquisadores da Unisul e da USP acompanharam 74 pacientes submetidos a 12 sessões de 15 minutos cada e observaram remissão de sintomas. “A prática milenar chinesa não causou efeitos colaterais, segundo os resultados divulgados na revista JAMA Network Open”, diz ainda o texto.

Com esse recorte e em alusão ao Dia Internacional do Acupunturista, festejado em 23 de março, este sábado, F5 News ouviu a professora doutora Liane Maciel de Almeida Souza, titular de Anestesia de Cirurgia da UFS, com formação profissional em medicina tradicional chinesa (MTC) e acupuntura. Ela é ainda pós-graduada em Fitoterapia e prescrição de fitoterápicos e canabinoides.

Acervo pessoal

Liane Maciel de Almeida Souza - Ambas as acupunturas trabalham com meridianos energéticos e são utilizadas para tratamento de problemas psíquicos, como depressão, ansiedade, crise do pânico e insônia, entre outros.

A diferença é que a acupuntura auricular utiliza um micro sistema, que no caso é a orelha e a acupuntura sistêmica utiliza pontos (acupontos), distribuídos pelo corpo humano. A efetividade é similar e muitas vezes podem ser feitas em conjunto as duas técnicas

F5 News - Na sua prática, já foi possível observar melhoras no tratamento de outros transtornos mentais/emocionais?

Liane - A maior casuística minha é para tratamento de dor, ansiedade e insônia. Mas existe um leque imenso de patologias que podem se beneficiar desta terapia, seja como tratamento ou técnica complementar.

 F5 News - A acupuntura tem uma abordagem holística, de tratar o paciente, não a doença. Como a conciliar com outros tratamentos, medicamentosos alopáticos por exemplo?

Liane - A acupuntura não é somente holística, ela tem evidências científicas de sua efetividade. Tanto que a OMS reconhece a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) como prática integrativa.

O paciente nunca deve parar de fazer seu tratamento tradicional, ele deve usar a acupuntura como auxiliar ao que está fazendo, levando a um resultado mais rápido e efetivo

F5 News - Já houve restrições à prática da acupuntura, inclusive e sobretudo dentro do campo da medicina convencional, que chamava para si a primazia no uso dessa técnica. O panorama hoje é mais amigável?

Liane - Até hoje no Brasil não existe uma regulamentação de quem pode e não pode praticar a acupuntura. Qualquer pessoa que esteja habilitado pode executá-la.

Então, o que temos hoje é a formação em acupunturista, para todos. E a pós-graduação em acupuntura, esta somente para profissionais da Saúde.

F5 News - A senhora é professora do Departamento de Odontologia da UFS. Utiliza a acupuntura em tratamentos dentários também?

Liane - Sim, a acupuntura faz parte da minha rotina tanto clínica como de pesquisa e vivenciamos eficientes resultados clínicos no controle da dor pós cirúrgica, do edema, na cicatrização óssea e de tecidos moles, no tratamento de dores crônicas, DTM [disfunção temporomandibular], bruxismo, bem como no controle da odontofobia e da ansiedade.

Clique aqui para ler o artigo Efficacy and Safety of Auricular Acupuncture for Depression: A Randomized Clinical Trial