Confira um passeio pelo Museu de Arte Sacra de São Cristóvão (MASSC) | F5 News - Sergipe Atualizado

Entrevista
Confira um passeio pelo Museu de Arte Sacra de São Cristóvão (MASSC)
O historiador Jorge Maklin, diretor da casa, revela curiosidades sobre algumas obras
Cotidiano | Por Monica Pinto 30/07/2023 19h00


Na terça-feira passada, 25 de julho, foi comemorado o Dia de São Cristóvão, um dos santos católicos mais populares, padroeiro dos viajantes, peregrinos e motoristas, entre os quais os caminhoneiros.

No entanto, a quarta cidade mais antiga do Brasil ganhar o nome de São Cristóvão não se deu exatamente como uma homenagem exclusiva ao santo e, sim, também a seu fundador, em 1590 – o capitão Cristóvão de Barros, que aproveitou para contentar a si e à Igreja Católica, predominantemente seguida pelos colonizadores. 

É o que relata o historiador aracajuano Jorge Maklin Rocha, 32 anos, diretor técnico do Museu de Arte Sacra de São Cristóvão (MASSC). O espaço, situado na histórica praça São Francisco, guarda um acervo precioso e dissemina um cabedal de conhecimentos muito interessante não apenas para quem professa a fé católica, mas também sobre a própria formação e crescimento da que viria a ser a primeira capital de Sergipe.

Jorge Maklin Rocha graduou-se em História pela Universidade Federal de Sergipe, onde hoje faz outro curso superior, desta vez em Ciências da Religião. Ele assume orgulho em ter sido convidado, no final de 2020, para administrar o Museu de Arte Sacra de São Cristóvão, onde começou fazendo estágio em 2011, posteriormente se tornando coordenador dos estagiários. “São 12 anos ininterruptos trabalhando para esta instituição de que tanto gosto”, disse ao F5 News.

Nessa entrevista ao portal, o historiador reproduz algumas das informações curiosas que transmite aos visitantes, quando acontece de guiar um grupo pelas várias salas do MASSC. Confira.

F5 News – Por que a cidade de São Cristóvão recebeu esse nome?

Jorge Maklin Rocha - A teoria mais aceita para o nome da cidade ser São Cristóvão está relacionada ao seu fundador, Cristóvão de Barros, que teria escolhido esse nome por ser o de um santo com nome igual ao seu. Lembremos que a Igreja Católica esteve junto com os colonizadores desde o início, e a instituição tinha participação importante na administração dessas cidades, vilas ou cidadelas. Dito isso, fica notório que o fundador quis se homenagear, ao mesmo tempo em que não deixou de lado a instituição católica.

F5 News - Qual a relevância histórica do acervo em exposição no Museu de Arte Sacra de São Cristóvão?

Jorge - O nosso acervo conta uma história muito importante que remonta a do nosso país e, por consequência, a do nosso estado. Lembremos que a Igreja Católica esteve, desde o início do Brasil, junto com os colonizadores. Na verdade, a Igreja fez parte dessa empreitada. Aqui na cidade de São Cristóvão, por exemplo, estiveram os franciscanos juntamente com os jesuítas desde o início do povoamento.

Outro fator que vai mostrar a importância do nosso acervo é o fato de que, durante muito tempo, nossa instituição foi considerada a terceira mais importante, no segmento arte sacra, do nosso país. Essa relevância se deu tanto pelo quantitativo quanto pelo qualitativo das peças. Lembrando que o nosso acervo foi montado só com peças que tinha a procedência de Sergipe, e que a maioria são do século XVIII e XIX.

F5 News - Quantas peças o MASSC abriga hoje e como chegaram a ele?

Jorge - O museu abriga mais de 500 peças, entre as expostas e as que se encontram na reserva técnica. As peças vieram de aproximadamente 15 municípios de Sergipe, sendo que sua grande maioria estavam em São Cristóvão ou foram trazidas de Aracaju, fruto de doações ou aquisições.

F5 News – Qual dessas peças pode ser considerada a mais importante e por quê?

Jorge - Para ser sincero, é muito difícil apontar qual peça dentro do nosso acervo é a mais importante. Na verdade, essa resposta seria subjetiva. Mesmo assim, poderia apontar duas: a primeira seria um Cristo crucificado feito de marfim, material difícil de ser encontrado, datado do século XVII e com traços artísticos finos.

Outra peça que pode ser destacada é uma imagem que representa a Fuga para o Egito, peça feita de madeira e que é datada do século XIX, período este em que era muito raro encontrar uma escultura representando essa passagem bíblica.

F5 News - Há como diferenciar as várias representações de Maria, mãe de Jesus, na fé católica, a exemplo de Nossa Senhora da Conceição, da Boa Morte etc?

Jorge - As diferenciações entre representações de Maria, sendo sempre nomeada de Nossa Senhora, ocorrem na iconografia das imagens. Por exemplo, Nossa Senhora do Rosário vai aparecer com o menino Jesus no braço esquerdo e um rosário na mão direita, enquanto Nossa Senhora da Conceição vai surgir com as mãos juntas e uma meia lua aos pés.

Vai ser através dos atributos que a imagem vai ter que se tornará possível identificá-la. Sendo que cada Nossa Senhora representa um momento da vida de Maria, ou alguma aparição, ou passagem bíblica.

F5 News - Por que nas imagens da padroeira do Brasil, Nossa Senhora da Aparecida, ela quase sempre é negra?

Jorge - Pois Nossa Senhora Aparecida, como diz o seu próprio nome, teria aparecido para pescadores que, até então, não tinham conseguido pescar nada. Diante do resgate da imagem, o milagre surge, daí para a frente os pescadores enchem a rede de peixe.

A imagem encontrada teria um tom de pele escuro, negro. A teoria aceita pela maioria dos pesquisadores é que originalmente se tratava de uma Nossa Senhora da Conceição que, por ter ficado algum tempo no rio, perdeu sua coloração inicial, dessa forma se tornando uma imagem com o tom de pele negro.

F5 News - Por falar nisso, o que levou à canonização de São Benedito, um dos poucos santos negros do Catolicismo?

Jorge - Hoje em dia, para alguém ser considerado santo dentro da Igreja Católica, é necessário a comprovação de dois milagres que a ciência não pode justificar. Porém, nem sempre foi assim, muitos santos do catolicismo receberam esse título por serem pessoas comprovadamente boas e que viviam na fé cristã.

São Benedito viveu no século XVI e era um religioso de índole boa, dizem que ele era o responsável pela alimentação dos internos de um convento, por isso é considerado o protetor dos cozinheiros. Ele aparece com o menino Jesus nos braços, pois dizem que a criança teria aparecido para ele. Em algumas imagens, o santo aparece também com flores e a justificativa que é dada é que ele teria transformado pão em flores.

F5 News - O MASSC se detém sobre arte sacra católica. Nos seus estudos em Ciências da Religião, já conheceu outras religiões com farta produção nesse nicho artístico e de fé?

Jorge - Toda religião tem suas próprias tradições, formas de interpretar a vida e a morte. Cada uma delas também tem as suas próprias produções artísticas e culturais. Acredito que o cenário atual está mais suscetível para que possam surgir espaços culturais criados por qualquer outro grupo religioso.

F5 News – O saudoso arcebispo de Aracaju, Dom Luciano Cabral Duarte, tem uma sala com objetos e roupas que utilizou em sua vida eclesiástica. Qual a participação dele na fundação do Museu de Arte Sacra de São Cristóvão?  

Jorge - Dom Luciano José Cabral Duarte foi quem fundou o MASSC, em 1974, na época ele já era arcebispo de Aracaju, e então teve a ideia de transformar essa ala do antigo convento franciscano em um museu. Para isso ele contou com a ajuda do Governo do Estado de Sergipe e a Universidade Federal de Sergipe, que se juntaram à Arquidiocese de Aracaju na fundação da instituição.

Hoje em dia existe um acordo de cooperação entre a Arquidiocese de Aracaju e o Governo do Estado de Sergipe.

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