Conheça a sergipana que faz pesquisas nucleares na área espacial nos EUA | F5 News - Sergipe Atualizado

Ciência
Conheça a sergipana que faz pesquisas nucleares na área espacial nos EUA
Ana Clécia Almeida saiu de Lagarto para estudar foguetes e pretende ser astronauta
Cotidiano | Por Emerson Esteves 06/08/2023 20h04


Qual criança não teve o sonho de viajar pelo espaço, embarcando em aventuras intergalácticas e desbravando o universo? Uma sergipana de Lagarto, Ana Clécia Almeida, levou a sério essa proposta e, embora não chegue às estrelas literalmente - por enquanto -, aos 23 anos é pesquisadora em um dos centros aeroespaciais mais prestigiados do mundo - o Centro de Pesquisa em Espaço Nuclear, em Idaho, nos Estados Unidos. 

Entre um trabalho e outro, uma viagem para um acampamento - que a deixou sem conexão -, Ana Clécia conversou com F5 News sobre sua trajetória desde o povoado Brasília até um dos trabalhos técnicos mais complexos e ambiciosos que o ser humano pode exercer, a conquista do espaço.

F5 News - Como teve início esse seu propósito de trabalhar na área aeroespacial?

Ana Clécia Almeida - Desde cedo sempre fui muito questionadora das coisas ao meu redor. Quando não estava estudando, o que foi logo cedo estabelecido como prioridade na minha casa, estava sempre mexendo com alguma coisa. Cresci numa família onde minha mãe era costureira e dona de casa e meu pai, agricultor e comerciante. Minha irmã, a primeira da família a completar ensino médio e fazer graduação, sempre foi uma das minhas maiores referências. Então, tinha muitos estímulos diferentes.  

F5 News - Como a educação foi a porta de entrada para sua mudança de vida?

Ana Clécia - As limitações de crescer em povoados, cheios de costumes e "o que uma garota deve fazer" também me levaram a questionar muitas coisas e logo cedo abri meus olhos para o poder que a educação tinha de transformar minha realidade para eu fazer o que eu bem quisesse de minha vida. Acho que para entender o que Ana Clécia é hoje, é preciso refletir sobre essas partes da minha história. Hoje, faço meu último ano na graduação em engenharia mecânica na University of Akron, nos Estados Unidos. Me aventuro de um canto ao outro do país, viajando frequentemente para participar de campeonatos de foguetes, conferências, e de um estágio ao outro em alguns dos maiores centros de pesquisa do mundo.

F5 News - Como surgiu a paixão pelo espaço e quando você percebeu que isso sairia de um sonho para se tornar sua profissão?

Ana Clécia - Eu tenho vagas memórias de desenhos animados com astronautas ainda criança, seguido de uma capa de um livro de física da minha irmã que tinha o foguete "Challenger" na capa. Aquela capa, em especial, me marcou muito. Quando no ensino médio, já estudando no Instituto Federal de Sergipe (IFS), lembro do quanto a Astrofísica me interessava e comecei a frequentar os eventos do planetário de Aracaju nos fins de semana.

Achava física o máximo, mas logo percebi o quanto gostava de engenharia e de pôr a mão na massa, desde o desenvolvimento à construção e teste. Em seguida, comecei a acompanhar os desenvolvimentos da SpaceX com foguetes que têm um estágio em que pousam e aquilo me fascinava como nenhuma outra coisa.

Em meio às tomadas de decisão do que eu queria para o meu futuro, não aceitava que eu seguisse algo que me brilhasse menos os olhos do que aquilo. Então, percebi que trabalhar na indústria aeroespacial era o que eu queria. No fundo, a ideia de ser astronauta também me fascinava muito, mas, tenha sido por influências ao meu redor ou inseguranças pessoais, achava uma coisa irreal e inatingível. Quando tive a oportunidade de trabalhar na usina termoelétrica da Barra [dos Coqueiros, em Sergipe], logo após o ensino médio, curiosamente, me deu mais segurança de que eu gostaria de trabalhar com engenharia aeroespacial e também que poderia, sim, um dia me tornar astronauta.

F5 News - Qual a influência de sua vida em Sergipe para essa decisão?

Ana Clécia - Eu cresci entre o povoado Urubu Grande e o povoado de Brasília até os meus 14 anos. E foi naquela época que eu apliquei para o IFS e fui morar em Aracaju. Morei em Sergipe até os meus 21 anos, ou seja até dois anos atrás, o que é essencial da minha identidade como pessoa no mundo.

Crescendo, minhas maiores influências com certeza eram minha mãe e a minha irmã. Ambas personalidades femininas muito fortes e sempre me encorajaram muito a perseguir os meus sonhos e mostrando a realidade que era ser mulher na localidade de onde a gente era, com as limitações que tínhamos e mostrando o poder que a educação tinha para mudar essa realidade.

Tive influência de professores muito inspiradores que marcaram muito minha vida, em especial o professor Marcos França, que era meu professor de educação FÍSICA? e de vôlei no IFS, também do professor Alisson Souza e da professora Ana Paula. Muitos amigos ao meu redor me influenciaram bastante. 

F5 News - Quais são as principais barreiras que você tem encontrado em estudar e morar fora do país?

Ana Clécia - Estudar nos Estados Unidos é um desafio e tanto. Primeiro, sempre vem na minha cabeça a questão financeira porque eu não vim de família rica. Muito pelo contrário. E essa sempre uma questão que ainda me faz bem consciente da minha condição e sempre me faz me esforçar o máximo para garantir que eu tenha um conforto. Então, sempre levo muita da minha energia em busca de bolsas de estudo, de oportunidades que eu possa fazer parte, que tenham retorno financeiro para a minha educação.

Depois disso, claro, a barreira linguística foi uma questão muito grande, principalmente no ensino médio, que foi onde eu comecei a aprender inglês e tive que atingir um nível de fluência muito grande e em pouco tempo.

Muitas inseguranças que eu tive que lidar enquanto estava lidando com os desafios de uma pessoa normal fazendo engenharia. Teve muitos aprendizados ali. A parte cultural, claro. Você se sente também isolado, principalmente na minha faculdade, que é em Ohio e não tem muitos brasileiros na região. A maioria das pessoas tem família relativamente muito próxima. E não fazendo parte de nenhuma dessas características foi um pouco complicado, complexo, de lidar nos primeiros anos. Eu sempre tenho que trabalhar em dobro ou triplo, como eu costumo brincar, para ter algumas oportunidades que são abertas a estudantes internacionais e, ainda assim, muitas vezes não é bem na área. 

F5 News - Quais estudos você desenvolve?

Ana Clécia - Eu faço engenharia mecânica. No início da faculdade, me envolvi muito com pesquisa em materiais, em ambientes extremos, inclusive publiquei o meu primeiro artigo científico no início deste ano. Depois eu me envolvi muito com a parte de estudos de desenvolvimento de foguetes na faculdade. O que já era um clube significativo cresceu muito durante esse tempo que eu tive a chance de fazer parte e hoje o sub-time de que eu faço parte, que é principalmente motores de propulsão a líquido, se tornou um dos mais importantes dos Estados Unidos, e o mais importante do de Ohio.

Eu tive a chance de participar do desenvolvimento do primeiro motor a líquido e, em seguida, do segundo motor, que foi impresso em 3D em metais no centro da NASA. Inclusive foi uma parceria que a gente teve graças a um colega que faz parte do time e que estagiava e ele mesmo quem desenhou o motor todo. Eu tive a oportunidade de trabalhar desenvolvendo o sistema de alimentação deste motor, ou seja, todo aqueles tubos e conexões, cálculos, e depois montagem, manufatura, e acompanhar a parte de testes.

F5 News - E atualmente?

Ana Clécia - Hoje eu faço parte do desenvolvimento de um lunar lander, que é basicamente um foguete que tem a capacidade de pousar.  Não é tanto almejando altura, mas sim a capacidade de manuseio, que você tem de controlar. Agora no verão, nesse período de junho a agosto, eu faço pesquisa no centro de pesquisas nucleares para a área espacial, que é localizado em um dos maiores polos de pesquisas nucleares do mundo, em Idaho, nos Estados Unidos.

F5 News - Até onde você quer chegar?

Ana Clécia - Meu maior sonho é contribuir com explorações espaciais. Porque eu acho que é uma área que abre muitas portas na tecnologia de desenvolvimento para o mundo e todas as outras áreas.  A parte também de contribuir para a exploração espacial que me fascinou muito é a de ser astronauta. Eu acho que é um dos meus outros grandes sonhos da vida que eu pretendo aplicar, está sempre no fundo ali da minha cabeça e é o que guia as minhas escolhas diárias .

F5 News - Que conselho você deixa para quem acha os próprios sonhos muito ambiciosos?

Ana Clécia - Tomar as oportunidades quando elas vêm, entender os benefícios que elas podem trazer e se jogar. Às vezes, você tem a cabeça fechada para algo, mas quando você se expõe a uma coisa diferente, pode aprender muito sobre você, sobre o que você quer e isso é muito benéfico. Eu sempre fiz muitos planos, com a cabeça aberta de que esses planos podem mudar, mais para ter um guia do que eu tenho que fazer a cada dia.
 

Edição de texto: Monica Pinto
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