A importância de discutir a redução de perda e desperdício de alimentos é uma pauta urgente. A necessidade de trazer à tona essa questão mobilizou a Organização das Nações Unidas (ONU) a criar, em 2020, o Dia Internacional sobre Perda e Desperdício de Alimentos, etabelecido em 29 de setembro. 

Como forma de levantar reflexões sobre como evitar o desperdício de alimentos, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) se baseia em um dado alarmante. Cerca de 690 milhões de pessoas continuam passando fome em todo o mundo e 3 bilhões delas - quase metade da população mundial - não têm acesso a uma dieta saudável. Em 2021, segundo o FAO, 14% dos alimentos se perderam entre colheita/produção e venda. 

Esse cenário, além de agravar a fome global, que poderia ser reduzida, contribui significativamente para desperdiçar também recursos naturais como água e solo, dispende energia mal utilizada, assim como a produtividade dos profissionais do setor e o tempo deles. O desperdício também piora a mudança climática, uma vez que a agricultura gera uma grande parte das emissões de dióxido de carbono. A meta da FAO é reduzir à metade o desperdício de alimentos até o ano 2030. 

Essas perdas variam em função da região geográfica, do nível tecnológico empregado em cultivos e transporte e da educação do consumidor, conforme o livro “Desperdício de alimentos: velhos hábitos, novos desafios”, produzido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e publicado em 2018, com organização do engenheiro ambiental Marcelo Zaro.

O consumidor, muitas vezes, descarta o alimento após a compra, por verificar que ele não atende às suas exigências de qualidade, especialmente no que se refere à aparência e ao sabor. 

Contexto sergipano 

Reprodução/CEIAS

Embora não existam dados recentes que mapeiem a situação do desperdício de alimentos em Sergipe, os órgãos públicos têm procurado conscientizar a população sobre o tema e a urgência em operar sobre ele.

Através da Secretaria de Estado da Inclusão e Assistência Social (SEIAS), essa pauta tem sido frequente. Em 2022, ao menos seis eventos foram promovidos pela pasta, com o intuito de informar e conscientizar sobre o desperdício de alimentos e alternativas para a população sergipana em termos de alimentação saudável.  

Entre os temas evidenciados pela SEIAS, estão o aproveitamento integral de alimentos, as plantas alimentícias não convencionais, as hortas urbanas e jardins produtivos, os malefícios dos ultraprocessados e benefícios dos alimentos in natura, nutrição e o resgate da cultura alimentar. O Restaurante Popular Padre Pedro, no Bairro Industrial em Aracaju, foi a sede desses eventos.  

Desperdício e fome no Brasil 

Fome cresce no Brasil. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

De acordo com levantamento da ONU, o Brasil desperdiça por ano cerca de 27 milhões de toneladas de alimentos. Desse montante, estima-se que 80% acontece no manuseio, transporte e centrais de abastecimento. A mesma pesquisa aponta que 60% dos alimentos jogados fora vêm do consumo de famílias.

Num panorama já complexo, agravado pelo impacto social, econômico e sanitário provocado pela pandemia de covid-19, aumentou no Brasil o contingente de pessoas passando fome e/ou em situação de insegurança alimentar. De acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, no Brasil, neste ano, mais de 33,1 milhões de pessoas não têm o que comer.

São 14 milhões de novos brasileiros em situação de fome em pouco mais de um ano. A edição recente da pesquisa mostra que mais da metade (58,7%) da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum nível – leve, moderado ou grave (fome). O país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990, de acordo com a pesquisa.

O comportamento do consumidor na hora da compra nos supermercados, em feiras livres e no armazenamento dos alimentos em suas residências pode interferir diretamente no aumento das perdas e do desperdício, segundo a publicação “Desperdício de alimentos: velhos hábitos, novos desafios”, da Universidade de Caxias do Sul.

Um ponto importante está na conservação dos alimentos na geladeira. Colocá-los nos compartimentos apropriados garante que a comida dure mais. Confira algumas orientações. 

Como armazenar alimentos na geladeira?

Prateleiras superiores
Nas prateleiras superiores da geladeira, coloque os alimentos que necessitam de maior refrigeração, tais como leite e seus derivados.

Prateleiras inferiores
Nas prateleiras inferiores, os alimentos que necessitam de menos refrigeração. Legumes, verduras e frutas na caixa específica para eles da geladeira.

Porta da geladeira
Na porta podem ser guardadas latas de bebidas, temperos, geleias, conservas, sucos e água.

Freezer
No freezer, carnes e preparações certamente terão um tempo de conservação maior, chegando há meses. Lembre-se de congelar em quantidades menores, adequadas ao seu consumo, pois uma vez descongelado o alimento não deverá voltar a ser congelado novamente.

Alimentos perecíveis e não perecíveis
Os alimentos menos perecíveis, como as geleias e doces, devem ser conservados em geladeira, pois apresentam durabilidade maior.

Já os alimentos não perecíveis, tais como os grãos, cereais, leguminosas, açúcar, enlatados, devem ficar em locais frescos, ventilados, protegidos do calor e da umidade excessiva.

Como destaca a ONU, atualmente ter comida é um privilégio. Não desperdice.