Entenda as razões para a queda de vacinação no combate a várias doenças | F5 News - Sergipe Atualizado

Entenda as razões para a queda de vacinação no combate a várias doenças
Fake news e movimentos antivacinas contribuem para menor procura, dizem especialistas
Cotidiano | Por F5 News 26/06/2022 08h00


O personagem Zé Gotinha foi lançado pelo Ministério da Saúde na década de 80, com o objetivo de incentivar a vacinação contra a poliomielite. E desde então, até meados dos anos 2000, foi usado como símbolo de conscientização e estímulo para a vacinação infantil de modo geral.  

O Zé Gotinha tornava as campanhas atrativas aos pais e crianças, mas sumiu por um tempo e retornou de fato apenas durante a pandemia de covid-19, só que, agora, nem tão popular. 

Assim como a popularidade do personagem, a vacinação infantil apresentou um declínio ao longo dos anos. No Dia Mundial de Imunização, 27 de abril, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontou que a cobertura vacinal contra sarampo, caxumba e rubéola, por exemplo, caiu dos patamares de pouco mais de 90% em 2019 para em torno de 70% em 2021. O órgão ainda estima que 3 em cada 10 crianças no Brasil não receberam as vacinas necessárias para protegê-las de doenças cujas complicações se mostram potencialmente fatais. 

No último ano, de acordo com dados do departamento de informática do Sistema Único de Saúde – o Datasus -, as taxas de imunização atingiram cerca de 60%. Apesar de os adultos entrarem nas estatísticas, as crianças estão mais vulneráveis, já que os dados apontam a falta de imunização por doenças mortais que, no passado erradicadas, agora já começam a retornar. 

O sarampo é um exemplo preocupante do risco da baixa adesão à vacinação infantil, conforme disse ao F5News o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), Juarez Cunha. “Eliminado em 2016, o certificado de eliminação foi emitido, ele voltou em 2018 por causa dessa baixa adesão à vacinação. Se isso aconteceu com o sarampo, pode acontecer com todas as outras doenças. Ou doenças já eliminadas como a poliomielite, rubéola congênita, tétano neonatal, e as doenças consideradas controladas, que através da vacinação conseguimos diminuir muito o número de casos. A tendência agora com baixas coberturas vacinais e uma pouca utilização das medidas não farmacológicas é que todas essas doenças voltem a aumentar e atinjam uma população não protegida, vulnerável, em especial as crianças”, alerta. 

Problema constatado em Aracaju

A Prefeitura de Aracaju, por sua vez, chegou a alertar para os riscos da baixa cobertura vacinal no público infantil. De acordo com dados divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde, 73% das crianças entre 5 e 11 anos aptas a receber a vacina contra covid-19 foram imunizadas. Já no âmbito das demais vacinas destinadas a todo o público infantil, de 0 a 11 anos, a média de cobertura é de apenas 49,61%. 

“O baixo registro se dá pela falta de procura dos pais ou responsáveis, uma vez que não há falta desses imunizantes em Aracaju”, afirmou a Prefeitura Municipal de Aracaju. A cobertura da vacina contra o sarampo (tríplice viral), que também protege contra a caxumba e a rubéola, por exemplo, registrou 47,65% em 2020; 61,31% em 2021 e 13,75% em 2022 com o esquema completo, ou seja, as duas doses prescritas. 

Mas quais seriam os motivos por trás dessa resistência à imunização das crianças? 

Movimento Antivacina e a desinformação

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que a vacinação previne de dois a três milhões de mortes por ano no mundo. Em 2019, o órgão chegou a reconhecer a hesitação vacinal como uma das dez ameaças à saúde global, e alertou que isso pode acabar resultando em um retrocesso do avanço observado em relação às incidências de doenças contra as quais já existem imunizantes. 

“É preciso que os pais tomem consciência da importância de atualizar o calendário vacinal dos seus filhos. Nos últimos anos, infelizmente, temos percebido um movimento antivacinas ganhar força e, com isso, doenças que já eram consideradas erradicadas no Brasil voltaram a aparecer, a exemplo do sarampo. As vacinas ainda representam a forma mais eficaz de prevenir doenças, muitas delas com potencial de letalidade preocupante. Portanto, é essencial que os responsáveis procurem as nossas unidades para proteger esse público tão vulnerável”, alertou em entrevista ao F5News a secretária municipal da Saúde, Waneska Barboza.

Quais as raízes da resistência? 

O movimento antivacinas (apelidado de antivax) vem ganhando espaço no Brasil e está diretamente relacionado ao negacionismo científico. A resistência à imunização ganhou ainda mais notoriedade durante a pandemia, por causa da vacina contra a covid-19.

O presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), Juarez Cunha, expressou preocupação com essa tendência em entrevista ao F5News. “Esses movimentos acabaram se tornando com maior penetração, maior abrangência, infelizmente, em especial neste um ano e meio. Eles são movidos por desinformação e fake news”, avalia. “A partir do momento que a gente tem todo esse movimento com maior possibilidade de impactar as pessoas, nos preocupa por justamente levar informações que não são corretas”, completa o especialista. 

É o caso de uma fonte antivacina que pediu para não ser identificada. “Acredito numa trama sinistra para a redução populacional, articulada principalmente por quem não entende de ciência. Vírus criado intencionalmente e vacina feita de forma rápida e por quem criou o vírus não dá para ser confiável”, afirmou ao F5News.

A relutância sem base científica foi alvo de sucessivos contrapontos por parte de entidades médicas e científicas no decorrer da pandemia. A própria Sociedade Brasileira de Imunizações chegou a desmentir no ano passado, em seu site, a crença de que o vírus da covid-19 foi criado em laboratório. “O sequenciamento genético do vírus SARS-CoV-2, responsável pela covid-19, demonstrou que ele tem mais de 92% de similaridade com um tipo de coronavírus que circula em morcegos. As diferenças genéticas entre ambos se distribuem de forma aleatória, o que indica um processo de evolução natural, provavelmente com um hospedeiro intermediário entre os morcegos e os humanos”, disse a entidade. 

Prosseguindo em seu esclarecimento, a SBIm afirma: “Se essas modificações genômicas fossem artificiais, não teriam características aleatórias e seriam facilmente detectáveis. Fora isso, do ponto de vista econômico, não faz sentido um laboratório criar um vírus sem ter a solução  e dividir os lucros com todos os concorrentes”. 

As provas dos benefícios das vacinas são inúmeras, a erradicação de doenças como a poliomielite e a varíola, a rara incidência de meningite, sarampo e tuberculose, são exemplos disso. Para Juarez Cunha, presidente da SBIm, a eficácia das vacinas é inquestionável. “É calculado que a expectativa de vida dos brasileiros aumentou em trinta anos com a utilização das vacinas. Então, acho que nós temos que passar esse recado do valor das vacinas como uma das ou talvez a principal estratégia de prevenção de doenças e promoção de saúde”, afirmou ao portal.

“A eficácia de cada vacina é determinada pela forma como aquele imunobiológico é capaz de promover proteção contra a doença específica, mas também se relaciona com a taxa de transmissão. Algo que muitos esquecem ou não sabem é que, antes de ser uma medida de saúde individual, a vacinação é coletiva. O principal motivo é o controle da transmissão da doença”, afirmou a mestre em Enfermagem e especialista em Gestão da Qualidade dos Serviços de Saúde, Adriana Amado, em entrevista ao F5News. 

Ela explica ainda o protagonismo da imunização no bem estar coletivo: “O grande cerne da vacina da covid está aí: evitar a transmissão da doença, garantir o sistema de saúde funcionando para que todos que precisarem – seja por covid ou não – tenham  a garantia da assistência à saúde”, disse Adriana.

Desinformação versus dados científicos  

As fake news podem interferir nas campanhas de vacinação. Com a globalização e a internet, as notícias falsas tomaram grande proporção, influenciando e pulverizando “dados” sem qualquer base científica entre pessoas leigas - recursos que estimulam a desinformação e que podem trazer consequências graves. 

Durante a pandemia de covid-19, as vacinas chegaram a ser acusadas de modificar o DNA humano e de estarem relacionadas à maior transmissão do vírus HIV, causador da Aids. 

“Informação é algo muito precioso quando se trata de saúde, utilizá-la de forma errada faz com que haja negligência a situações potencialmente graves e até mesmo desassistência em casos que necessitam. Há ainda aqueles que com falsas informações tomam medicamentos desnecessários, colocando suas vidas em risco”, afirmou a médica infectologista Mariela Cometki ao F5News.

A infectologista ainda enfatiza para o problema que este fenômeno acarreta em relação às campanhas de imunização.“No caso das vacinas é ainda pior, pois assim como medicamentos, há possíveis efeitos colaterais, mas que nem de longe superam a eficácia da proteção. Com o crescimento de pessoas que acreditam em fake news, temos cada dia mais a diminuição das taxas de cobertura vacinal, fazendo com que tenhamos reemergência de doenças já erradicadas”, reforça. 

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) divulgou em 2019 um estudo intitulado “As fake news estão nos deixando doentes?”, realizado em parceria com a Avaaz e cujo objetivo foi mensurar a conexão entre desinformação e a queda nas coberturas vacinais. As instituições encomendaram ao Ibope uma pesquisa com cerca de 2 mil pessoas acima de 16 anos, em todos os estados e no Distrito Federal. Entre os resultados obtidos, se verificou que aproximadamente sete a cada dez brasileiros acreditam em alguma informação falsa relacionada à vacinação.

“Também foi analisada a atitude em relação à vacinação. A grande maioria (87%) disse nunca ter deixado de se vacinar ou de vacinar uma criança sob seus cuidados. Embora o índice possa parecer bom à primeira vista, quando os 13% de não-vacinantes são extrapolados para toda a população com 16 anos ou mais, ele passa a representar um contingente de mais de 21 milhões de pessoas”, diz a SBIm. (Clique aqui para acessar a íntegra do relatório)

Durante a entrevista ao F5News, o presidente da SBIm orienta a quem se sente inseguro a buscar as ferramentas de mídia tradicionais e as instituições oficiais, como o próprio Ministério da Saúde, para obter as informações corretas. 

É bom lembrar que o Estatuto da Criança e do Adolescente na (Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990) estabelece a vacinação como um direito das crianças e um dever do Estado.

 

Edição de texto: Monica Pinto
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