Lutando contra o câncer há 13 anos, Paulo Peregrino, de 61 anos, não reagia mais aos tratamentos convencionais e se encontrava em estágio terminal. O paciente estava a ponto de receber os cuidados paliativos quando foi admitido no Centro de Terapia Celular do Hospital das Clínicas na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), através do Programa Uso Compassivo, uma autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tratamentos ainda sem registro, como um último recurso na busca por salvar a vida do paciente.

No dia 28 de maio foi anunciado o resultado positivo: Paulo havia tido remissão total do câncer após apenas um mês de tratamento. 

Sobre essa esperança legítima quanto ao combate eficaz a uma doença de grande letalidade, F5 News ouviu a oncologista Ana Maria Fantini Silva, doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe e professora efetiva do Departamento de Medicina da UFS desde 2014. Confira a entrevista.

F5 News - Quais as etapas desse estudo experimental? 

Ana Maria Fantini Silva: O tratamento com células CAR-T é uma forma inovadora de tratar alguns tipos de câncer através do uso de células de defesa do corpo reprogramadas.

Trata-se de um medicamento preparado em que se usa células T - um tipo de célula de defesa existente no organismo - que são extraídas do paciente e depois são modificadas e reprogramadas para que sejam capazes de destruir tumores.

F5 News - Como esse estudo começou?

Ana Maria - No Sistema Único de Saúde, o Hemocentro de Ribeirão Preto, em parceria com o Instituto Butantan e a USP, iniciou um estudo clínico em 2023 onde realizou todas as etapas no Brasil, o que tem proporcionado a oportunidade de tratamento para pacientes selecionados. 

F5 News - Como funciona o acesso ao tratamento e onde ele está disponível? 

Ana Maria - Cada tratamento é direcionado e específico, pois as células T do paciente são reprogramadas de forma personalizada e o tratamento é feito em dose única, exigindo tecnologia de ponta e treinamento avançado.

Atualmente no Brasil, após a aprovação do procedimento pela Agência Nacional de Saúde (Anvisa), existem centros privados em hospitais de referência, no Rio de Janeiro e em São Paulo, que estão capacitados para realizar a terapia CAR-T, mas que ainda necessitam do envio da célula do paciente  para os Estados Unidos para a etapa de modificação celular.

F5 News - A Universidade Federal de Sergipe já se agregou a esse estudo? 

Ana Maria - Por envolver tecnologia aplicada de ponta e manipulação genética,  a terapia com células Car-T ainda não é uma realidade no estado de Sergipe, nem na maioria dos centros de tratamento oncológico do país.  Mas espera-se que se torne um tratamento cada vez mais acessível à medida que haja investimentos nos centros de pesquisa e o melhor domínio na etapa de modificação celular.

F5 News - Quais os tipos de câncer que ele trata?

Ana Maria - Atualmente  o tratamento com células CAR-T está liberado no Brasil para pacientes com linfoma difuso de grandes células B (tipo de linfoma não Hodgkin) e leucemia linfoblástica aguda, recidivado ou refratário da doença. Espera-se que em breve saia também a aprovação para linfoma folicular e mieloma múltiplo. Para essas doenças, a terapia com células CAR-T se tornou uma possibilidade de cura quando outros tratamentos não funcionam.

F5 News - Qual a diferença entre cura e remissão? 

Ana Maria - É porque a cura seria a certeza de que a doença não vai voltar. Em geral, a gente só fala que ficou curado depois de cinco anos de observação após o tratamento feito. 

Estagiária sob supervisão da jornalista Mônica Pinto