Junho é considerado o mês do orgulho LGBTQI+. Hoje, 28 de junho, são celebradas por todo o mundo paradas e manifestações em apoio a esse direito. A data faz alusão à rebelião do bar Stonewall, em Nova Iorque, no ano de 1969, onde pessoas LGBTQI+ que frequentavam o local reagiram a uma série de batidas policiais que eram realizadas com frequência no espaço.

Foto: Victória Valverde

Cinquenta anos depois, muita coisa mudou, mas ainda há muito o que se avançar. Este mês serve para celebrarmos de onde viemos e entendermos aonde precisamos ir, que pautas devem ser trabalhadas e como podemos lutar contra a violência – física, mental e social – sofrida pela comunidade LGBTQI+.

A sexualidade tem sido tema cada vez mais presente nos debates políticos, em especial depois das eleições de 2018. Apesar disso, o campo da sexualidade e todas as suas nuances ainda são um mistério para muitos. O perigo é quando essa ignorância se transforma em ódio.

Identidade de gênero x orientação sexual

Um dos conceitos mais discutidos são a identidade de gênero e a orientação sexual. Muitos confundem os dois, mas são duas definições independentes. Afinal, uma pessoa Trans é automaticamente Gay? Devo chamar de ele ou ela? As dúvidas são muitas e é necessário se educar para não agir de forma preconceituosa.

Identidade de gênero

A palavra gênero faz referência aos códigos sociais que definem o que é feminino e masculino. Vale lembrar que essa definição vai além do sexo biológico – referente ao aparelho reprodutor da pessoa, ou seja, pênis ou vagina.

O gênero é construído na nossa sociedade através de padrões estéticos, culturais e sociais, que mudam de lugar para lugar. A definição da masculinidade no Brasil é diferente da do Japão, por exemplo. Essas definições orientam o comportamento do indivíduo por meio dos papéis e expressões de gênero.

A identidade de gênero, então, é como o indivíduo se identifica perante a sociedade. Hoje em dia, o gênero perdeu a sua definição tradicional e engessada, existindo muitas variáveis além do feminino e masculino.

Há também aqueles que não se identificam com nenhum gênero específico (não binário) e quem não se enxerga no gênero em que nasceu (transexual). Por exemplo, um indivíduo que nasce em um corpo biologicamente masculino, mas não se sente social nem culturalmente representado dessa forma e se identifica com a forma feminina, é considerado uma mulher Trans. Muitos e muitas se submetem a intervenções cirúrgicas para realizarem a adequação de gênero (a chamada  redesignação sexual), mas não é regra.

Já o termo travesti ainda gera certa controvérsia na sua definição mas, para a maioria da comunidade LGBTQI+, ele é  usado para definir a pessoa que nasce do sexo masculino, mas que se identifica com o gênero feminino. Muitas travestis modificam os corpos por meio do uso de hormônios, aplicações de silicone e cirurgias plásticas, mas não é regra. Diferentemente do transexual, travesti é um termo exclusivamente feminino.

Um termo mais recente é o gênero fluído, que define as pessoas que tem uma fluidez na sua identidade de gênero, ora mais feminina, ora mais masculina.

Orientação sexual

O termo orientação sexual faz alusão aos desejos emocionais e físicos da pessoa, ou seja, com quem ela quer se relacionar. O termo “opção sexual” já não é mais usado, já que não se escolhe ser heterossexual, homossexual, bissexual ou qualquer outro termo. Apenas se é.

Existem muitas orientações sexuais e alguns termos são menos conhecidos, como pansexual (pessoas que sentem atração por pessoas, independente do gênero) e assexual (pessoas que não sentem atração sexual, mas podem sentir outro tipo de atração, como a amorosa).

Apesar de muitos confundirem os dois, a identidade de gênero não tem relação com a orientação sexual. Por exemplo. Um indivíduo pode nascer homem, mas se identificar como mulher (transexual) e sentir atração por mulheres, o que o torna uma mulher trans lésbica.

O grito da comunidade

A cantora sergipana Isis Broken enxerga a sexualidade e o gênero como conceitos fluidos e complexos, simplificados pela sociedade. O gênero com o qual ela mais se identifica é travesti. Em relação a sua sexualidade, ela é pansexual, que para ela é não estar só aberta a um gênero ou a uma orientação sexual, é uma liberdade plena e uma reinvenção do modo tradicional de se relacionar.

Por acreditar que a evolução e revolução vêm da arte, a cantora sergipana promove uma mensagem de aceitação através da música. Dentro da sua casa, sempre existiram diálogos sobre sexualidade e identidade de gênero, por isso Isis reconhece a importância de falar sobre o assunto.

“A gente precisa se perceber no mundo, entender as nossas vivências, nossas dinâmicas. Minha arte é sobre os processos de pessoas LGBTQ`s, como nossos corpos são assediados, hipersexualizados, desmerecidos. Precisamos evoluir e entender que gênero e sexualidade são algo muito individual. Todos merecem ser validados”, defende a artista.

*Estagiária sob a orientação da jornalista Mônica Pinto.
**Foto: Rodrigo Coelho. 
***Fonte: Jaqueline Jesus/UFG