“Infecção odontológica pode causar até a morte”, diz cirurgiã dentista de SE | F5 News - Sergipe Atualizado

Entrevista
“Infecção odontológica pode causar até a morte”, diz cirurgiã dentista de SE
Lorem Rios fala também sobre o bruxismo, um hábito que pode ser desprogramado
Cotidiano | Por Monica Pinto 11/06/2023 18h00 - Atualizado em 13/06/2023 12h55


Infecções odontológicas têm efeitos potenciais muito piores do que a dor associada a elas, assim como o rosto disforme: representam um risco à vida, se não forem tratadas rápida e devidamente. “O índice de óbitos é considerável”, alerta a cirurgiã dentista Monique Lorem Souza Rios, pós-graduada em Odontologia do Trabalho e habilitada em Odontologia Hospitalar.

Ela atuou como cirurgiã responsável pela urgência e emergência odontológica de uma clínica em Sergipe, com uma média diária de 30 pacientes. Não era incomum que orientasse alguns deles a saírem dali direto para o hospital, após regulação com o Samu, pois verificava um quadro já agravado de infecção, para além da origem dentária.

Lorem Rios – como assina profissionalmente - atende em consultório particular e em uma clínica, nesta como cirurgiã dentista, também do Trabalho. Desde 2018, ainda como estudante, ela se tornou auxiliar da professora Liane Maciel, do Curso de Odontologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), no Hospital Regional de Itabaiana.

Com aperfeiçoamento em dor orofacial e bruxismo – um hábito, segundo ela -, nessa entrevista ao F5 News, Lorem Rios mostra como, também na saúde bucal, a prevenção pode evitar o agravamento de problemas, com benefícios inclusive financeiros.

F5 News – Quais os principais riscos das infecções odontológicas?

Lorem Rios - As infecções de origem odontogênica, muitas vezes não tratadas, podem evoluir para infecções cerebrais, pulmonares, cardíacas, estomacais, podem gerar inclusive partos prematuros. É prioritário que qualquer infecção em cavidade oral seja tratada e considerada como um quadro perigoso.

Muitos pais negligenciam as infecções nas crianças. A gente vê muita criança também chegando com infecções sérias, com abcessos consideráveis, com evolução rápida porque, principalmente na nossa cultura, os pais dizem ‘é só um dentinho de leite. Daqui a pouco troca’. Não, essa infecção vai afetar o dente permanente, pode levar essa criança a um internamento, a um quadro mais grave, até mesmo ao óbito, como também em um adulto.

F5 News – No que se refere a pessoas internadas ou enfermas em casa, quais os cuidados necessários?

Lorem - Deve ficar muito claro para a sociedade a importância da odontologia hospitalar e a intervenção dela para que os pacientes não agravem. Porque principalmente os pacientes de UTI, os internos durante muito tempo, acabam tendo a higiene oral negligenciada e isso pode levar a infecções. Muitos pacientes de UTI adquirem endocardite bacteriana justamente pela falta de higienização oral.

É fundamental o papel exercido pelos cirurgiões dentistas habilitados na odontologia hospitalar, atuando e orientando tanto o pessoal da enfermagem, quanto familiares e os acompanhantes, de como executar a higiene oral, como também aos pacientes acamados. Porque eles muitas vezes necessitam de tratamentos e nós somos habilitados a realizá-lo em homecare. Não é todo tratamento que conseguimos executar em homecare, mas existe uma gama grande de procedimentos que podemos, sim, fazer.

F5 News – A senhora defende a prevenção como a melhor estratégia para a saúde bucal. Qual a importância desse cuidado?

Lorem - A odontologia deve ser preventiva e não sanativa. Os pacientes, de forma geral, acabam não associando a odontologia preventiva como o melhor caminho, o melhor recurso. E com isso, acabam tendo que demandar um valor muito maior no tratamento. Algumas vezes, são valores que chegam a seis, quatro vezes o que gastariam se realizassem uma odontologia preventiva, porque a maioria das pessoas acaba não fazendo as consultas de rotina, a cada seis meses. Apesar que as pesquisas hoje já mostram que as consultas devem ser realizadas a cada quatro meses no máximo

F5 News – Quais as vantagens práticas dessa atenção periódica à saúde bucal?

Lorem - Quando os pacientes realizam as consultas preventivas, é possível identificar lesões cariosas [cáries], lesões de origens desconhecidas, muito mais cedo. E aí a gente pode intervir antes dessas patologias, essas lesões se agravarem. De que forma? Se é uma lesão cariosa, a gente consegue intervir antes dela se tornar uma lesão endodôntica; se é uma lesão em tecido mole, a gente consegue identificar a origem por meio de uma biópsia – de novo, muito mais cedo. As lesões cancerígenas em boca, se tratadas e se identificadas de forma precoce, têm uma evolução muito melhor do aquelas não identificadas na sua fase inicial

F5 News – Quanto ao bruxismo, a senhora já disse que houve um aumento durante a pandemia de covid-19. Essa observação foi empírica ou há estatísticas a esse respeito?

Lorem – Não temos dados estatísticos estabelecidos, mas posso afirmar que, durante a pandemia e no pós-pandemia, aumentou em mais de 50%. Boa parte dos pacientes não sabem que têm o bruxismo. Geralmente os que sabem é porque alguém comentou ter percebido que, durante a noite, eles rangiam ou apertavam os dentes. Uma coisa que precisa ficar clara é que o bruxismo não é uma patologia, não é uma doença - é um hábito. Então ele não pode ser diagnosticado, até por isso a gente não tem essas estatísticas ainda estabelecidas. O bruxismo é identificado por profissional habilitado.

F5 News – Mas como enfrentar um hábito que notoriamente faz mal aos dentes?

Lorem – Desde o uso da placa oclusal, que deve ser escolhida de acordo com o perfil do paciente às terapias associativas. Quais seriam elas? A fisioterapia oral que vamos ensinar a esse paciente em consultório, quanto a laserpuntura que hoje vem se mostrando um dos maiores auxiliares no tratamento do bruxismo.  

Na fisioterapia oral que o paciente vai ser ensinado a fazer, para desprogramar o hábito porque todo hábito pode ser desprogramado. A associação dos tratamentos corretos é realmente efetiva. E o bruxismo não é simplesmente uma condição, um hábito, em pacientes que possuem dentes. Quem não tem dente nenhum na boca pode, sim, estar praticando o hábito do bruxismo em vigília, durante o dia, e no sono, à noite, quando está em repouso.

O hábito pode ser desprogramado desde que haja a colaboração do paciente em realizar as atividades e o uso da placa, e do profissional, na escolha e orientação do tratamento que o paciente vai seguir.

F5 News – Já se falou de botox como alternativa contra o bruxismo, o que há de concreto nisso?

Lorem – Realmente, se divulgou muito a informação de que a toxina botulínica ajudaria, mas, na verdade, isso não tem fundamentação nenhuma, porque o bruxismo é um hábito de atividade cerebral central e o botox age na atividade muscular periférica. Então, ele vai paralisar o músculo por um período de tempo, mas não vai promover a desprogramação do hábito.

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