Inteligência Artificial: especialista de Sergipe aponta potenciais e riscos
IA ainda não tem regulamentação no Brasil e pode ameaçar privacidade e empregos Cotidiano | Por Emerson Esteves 09/07/2023 08h00Não se falou em outra coisa nas redes sociais recentemente que não fosse o comercial de 70 anos da Volkswagen, isso por conta de um fato curioso e inédito. A produção com o uso da Inteligência Artificial chegou a ser a segunda mais vista no Youtube, ao mostrar lado a lado a cantora Maria Rita e sua mãe, Elis Regina, falecida em 1982, portanto há mais de 40 anos.
Nas redes sociais, internautas se espantaram com a possibilidade de “trazer à vida” uma das mais importantes cantoras da história do Brasil e quanto aos limites do uso da IA.
Pergunta sincera: por questões de registro-veracidade, não deveria ter no vídeo, em letras de aviso, algo tipo "essa personagem não é real, é fruto de Inteligência artificial"? Pergunta sincera mesmo... tipo, quando se mexe com "memória", tem uns zonas cinzentas ai não?
— Tulio Custódio (@tulio_custodio) July 4, 2023
pegando um ranço de inteligência artificial no quesito imagem/voz/video simplesmente as coisas estão perdendo a essência sei lá fico meio assustado e nada empolgado com essas inovações posso estar sendo chato sim posso mas é o que eu to sentindo no momento pic.twitter.com/qjqEp1q9nZ
— peteno tales (@talesspereira) July 5, 2023
Queria ser uma mosquinha para ler o email propondo a campanha.
— Fábio Garcia (@fabiogaj) July 4, 2023
"Oi, boa tarde, gostaríamos de fazer uma propaganda de carro em que você e sua mãe revivida por Inteligência Artificial disputam um racha com um veículo que estamos lançando ao som de Como Nossos Pais . Topas?"
Não é a primeira vez que o tema da Inteligência Artificial (IA) “fura a bolha” das discussões acadêmicas e específicas do campo da computação. Neste ano, o ChatGPT, um chatbot online de inteligência artificial desenvolvido pela empresa OpenAI, apresentou em janeiro de 2023 um crescimento global de pesquisas superior a 42 mil por cento, se comparado com o mesmo mês em 2022, de acordo com pesquisa divulgada pela revista Forbes.
O que é a Inteligência Artificial?
De acordo com o professor Gilton Ferreira, da graduação e da pós-graduação do Departamento de Computação da Universidade Federal de Sergipe (UFS), a Inteligência Artificial (IA) - em inglês Artificial Intelligence (AI) - agrega os avanços tecnológicos que permitem a sistemas computacionais simular o raciocínio humano.
“De modo geral, podemos definir inteligência artificial como a capacidade das máquinas de pensarem como seres humanos: aprender, perceber e decidir quais caminhos seguir, de forma racional, diante de determinadas situações. Geralmente utiliza-se de programação de computadores, decisões automáticas e bancos de dados com muitas informações”, explicou Gilton em entrevista ao F5 News.
Os prós da IA
Segundo o pesquisador, a principal vantagem da IA é a maneira como ela se insere em nosso cotidiano, principalmente na automação de atividades. Por exemplo, carros autônomos, sistemas hospitalares, redes sociais, antivírus, tudo isso envolve diretamente o uso da inteligência artificial em prol da tomada de decisões rápidas e automáticas em nossas vidas.
“Além desses exemplos, a IA está presente em muitos outros aspectos de nossas interações com tecnologia, como em recomendações personalizadas de serviços de streaming, sistemas de tradução automática, detecção de spam em e-mails e reconhecimento de voz em carros conectados. Essas aplicações facilitam nossas vidas, economizam tempo e nos permitem realizar tarefas de forma mais eficiente”, disse Gilton Ferreira ao F5 News.
A discussão ética
“Os contras da IA estão relacionados com os limites éticos dessa tecnologia e do papel que ela desempenha na sociedade atual”, avalia o professor.
O uso inadequado por pessoas e corporações que não levam em conta os limites do direito à privacidade é apontado como um risco. “Com a IA, muitos dados pessoais são coletados, armazenados e analisados para fornecer serviços personalizados. Isso levanta preocupações sobre a privacidade dos usuários, pois suas informações podem ser usadas de maneiras indesejadas ou até mesmo vazadas", analisa."Ainda, os sistemas de IA podem apresentar viés algorítmico, o que significa que podem reproduzir e amplificar preconceitos e discriminações presentes nos dados utilizados para treiná-los”, completa Gilton Ferreira.
IA e os empregos
A automação impulsionada pela IA pode substituir muitos empregos, principalmente em tarefas repetitivas ou baseadas em regras, disse ainda ao portal o professor do Departamento de Computação da UFS, ecoando uma preocupação crescente. Além disso, ele ressalta: “à medida que a IA se torna mais integrada às nossas vidas, há o risco de que os usuários se tornem excessivamente dependentes dela”.
Legislação sobre a IA
Embora existam discussões e medidas sendo trabalhadas sobre a Inteligência Artificial no Brasil, o país ainda não possui uma legislação específica sobre os limites de seu uso.
No entanto, o professor da UFS destacou ao F5 News algumas iniciativas que impactam diretamente na utilização da IA.
“Em 2019, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) lançou uma consulta pública para a elaboração de uma Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial. A consulta buscou a participação de diversos setores, incluindo academia, indústria, sociedade civil e governo, para debater temas relacionados à IA. Em discussões no Congresso, temos o Projeto de Lei 21/2020, que propõe uma regulamentação para o uso de IA em serviços públicos, estabelecendo princípios éticos, transparência, segurança e responsabilidade”, disse Gilton Ferreira ao F5 News.
A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) entrou em vigor em setembro de 2022 e alterou artigos do Marco Civil da Internet. Essa lei estabelece regras para uso, coleta, armazenamento e compartilhamento de dados dos usuários por empresas privadas e públicas.
“Para utilizar a inteligência artificial sem comprometer a segurança dos usuários, é necessário adotar medidas adequadas para proteger a privacidade e a segurança dos dados: coleta mínima de dados e proteção, anonimização e pseudonimização, e segurança, criptografia etc”, recomenda o professor
A era Cyberpunk
Para quem já assistiu produções cinematográficas como Blade Runner, Matrix ou Robocop, bem, aquela sociedade distópica representada pela fusão entre humanos e máquinas já não está tão fortemente inserida no reino da ficção,
“Além de ser um subgênero da ficção científica que surgiu na década de 1980, ele retrata um futuro distópico e tecnologicamente avançado, onde a sociedade é dominada por megacorporações, a tecnologia se funde com o corpo humano e a vida das pessoas é fortemente influenciada pela presença onipresente da internet e da realidade virtual”, detalha Gilton Ferreira.
Se você viu semelhança com a realidade, não está sozinho.