Isolamento continua uma realidade mesmo após fim de medidas restritivas | F5 News - Sergipe Atualizado

Pandemia
Isolamento continua uma realidade mesmo após fim de medidas restritivas
Durante a pandemia de covid-19, muitas pessoas desenvolveram fobia social
Cotidiano | Por Ana Luísa Andrade 01/08/2022 20h30


Após mais de dois anos vivendo a pandemia de Covid-19, é possível notar uma série de mudanças no funcionamento da sociedade como um todo. Ao longo desse tempo, as consequências do isolamento social prolongado na saúde mental dos indivíduos têm sido alvo de diversas pesquisas e estudos científicos.

É o caso da psicóloga e pesquisadora Tayanne Lobão, que estuda como as patologias podem afetar a saúde mental das pessoas. Segundo ela, a pandemia potencializou o grau de ansiedade presente em toda a população.

Ela explica que, quando ocorre de forma equilibrada, a ansiedade é um sentimento normal. Entretanto, quando existem fatores estressores com os quais o indivíduo não consegue lidar, o nível do sentimento tende a aumentar, muitas vezes levando a quadros de ansiedade generalizada ou de crises de ansiedade.

“Frente a um vírus sobre o qual não tínhamos muita informação, mas que sabíamos que era perigoso porque causava mortes, fez com que mudássemos toda nossa rotina, utilizando equipamentos de proteção, evitando sair de casa, evitando ver pessoas queridas. Foram muitas questões novas para todos lidarem. Essa realidade que trouxe tantas incertezas trouxe também o peso da ansiedade, assim como da depressão, que foi outro diagnóstico que teve aumento nesse período”, disse a psicóloga ao F5 News.

Foi nesse contexto que muitas pessoas acabaram desenvolvendo ou intensificando quadros de fobia social, que ocorre quando situações de interação social cotidianas passam a gerar ansiedade, medo, desconforto e constrangimento à pessoa. Tayanne explica que até mesmo pequenos estímulos sociais podem causar sofrimento a um paciente com esse tipo de condição.

Esse foi o caso da estudante Naially Cunha, que possui transtorno de ansiedade generalizada. Em entrevista ao F5 News, ela relatou que, desde criança, situações sociais a deixam ansiosa. Nesse sentido, ela afirma que o isolamento durante a pandemia acabou se tornando um cenário que a protegia da ansiedade social.

“Quando você passa dois anos num lugar protegido do mundo externo, é difícil voltar para ele sem que ele pareça mais assustador. Eu sempre fui ansiosa, mas antes da pandemia eu tinha uma exposição constante a essa ansiedade, então ela parecia natural. Depois da pandemia, ela pareceu voltar com mais força, justamente porque eu passei tanto tempo sem me expor a ela”, considera Naially.

A estudante contou que atualmente só sai de casa em circunstâncias necessárias, como a faculdade, a aula de dança e as sessões de psicoterapia, o que já é suficiente para deixá-la nervosa e ansiosa. Em outras situações, ela prefere sair acompanhada de alguém da família, para garantir que sentirá mais conforto e segurança.

Entretanto, Naially também afirma que, ao longo da pandemia, ela percebeu que muitas vezes acabava saindo de casa por pressão social, e não por vontade própria. “Acho que eu entendi que a pressão de sair de casa é muito mais externa do que interna, então não diria que minha vontade é de voltar a sair, mas sim de não me sentir ansiosa quando eu decido sair”, disse a estudante.

Diferentemente de Naially, também há pessoas que, mesmo após o fim das medidas restritivas de isolamento social, continuam optando por passar mais tempo em casa e longe de situações de interação com outros indivíduos.

Esse é o caso do redator técnico Wallace Rezende que, durante a pandemia, decidiu deixar Aracaju e se mudar para uma fazenda na zona rural do município sergipano de Itaporanga, onde não tem muito contato com outras pessoas.

Ele relatou ao F5 News que, antes da pandemia, costumava sair com mais frequência. Após o período de isolamento obrigatório, quando tentou voltar a sair, percebeu que essas situações não lhe despertavam mais interesse. “Ao retirar os eventos sociais da minha vida, muita energia foi economizada”, avalia.

Como trabalha na modalidade remota, Wallace disse ao portal que só sai de casa quando precisa de algum serviço que não pode acessar de casa, como ir a eventos culturais ou provar um prato diferente em um restaurante, por exemplo.

“Fico isolado na maior parte do tempo. Moro com um amigo e costumo ver meus familiares no fim de semana. Vez ou outra, meu namorado me visita ou eu visito ele, algo como cinco dias por mês”, detalha o redator.

Ele acrescenta ainda que não tem planos de voltar a sair como costumava, pois está satisfeito com a nova realidade. “Me sinto bem hoje com meus livros, minha rotina mais lenta, e sinto que minha bateria social tem menor capacidade”, conclui Wallace.

Nesses casos, a psicóloga Tayanne Lobão aponta que, muitas vezes, após dois anos passando a maior parte do tempo dentro de casa, interagir com outras pessoas e ambientes pode causar certo estranhamento ao indivíduo, que acabou se acostumando com aquela realidade que passou a ser sua zona de conforto.

A psicóloga reitera, entretanto, que cada pessoa possui sua demanda individual, sendo necessário sempre verificar se o indivíduo também não se encontra em sofrimento por conta do isolamento. Se for o caso, também é preciso buscar ajuda.

Como buscar ajuda
Tayanne explica que, para os quadros de fobia social, o tratamento mais comum é trabalhar a ansiedade por meio da dessensibilização sistemática, conjunto de técnicas de exposição/aproximação à experiência traumática com o auxílio da psicoterapia. O objetivo é que, aos poucos, o contato com os estímulos passe a não gerar mais tanta ansiedade na pessoa.
 

Edição de texto: Monica Pinto
Mais Notícias de Cotidiano
SMTT Aracaju/Reprodução
17/05/2024  19h35 Engavetamento na Avenida Delmiro Gouveia deixa feridos
Arthuro Paganini/Agência Sergipe
17/05/2024  18h09 Defesa Civil emite alerta de chuva moderada para o sábado (18) em Aracaju
Redes Sociais/Reprodução
17/05/2024  18h08 Terceiro jacaré é resgatado na Grande Aracaju neste mês de maio
SSP/Reprodução
17/05/2024  17h27 Operação Underground: segunda fase prende três e apreende armas e munições
SMS Aracaju
17/05/2024  17h00 Vacina da dengue: o imunizante é essencial contra o agravamento da doença

F5 News Copyright © 2010-2024 F5 News - Sergipe Atualizado