A Campanha “Junho Vermelho”, criada em 2015 pelo Ministério da Saúde brasileiro, tem como objetivo dedicar anualmente o mês de junho ao incentivo e conscientização da população sobre a importância de ser um doador de sangue.

Vinícius Oliveira Rocha/Arquivo pessoal

Quem recebe

No dia 18 de março deste ano, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico, a enfermeira Aryella Dutra, de 40 anos, precisou passar por uma cirurgia no cérebro e desenvolveu um quadro de anemia grave, sendo necessária a transfusão sanguínea.

Por conta da sua situação delicada, houve uma mobilização entre seus familiares, amigos e colegas de trabalho para que voluntários realizassem doações em seu nome no banco de sangue do Instituto de Hematologia e Hemoterapia de Sergipe (IHHS). A ação resultou na contribuição de 96 pessoas diferentes.

“Quando eu soube que recebi sangue, fiquei muito feliz. De pessoas que eu nem conhecia, que eu nem imaginava”, afirma a enfermeira, que considerou o gesto fundamental para sua recuperação.

Segundo a enfermeira Ruth Torres, Responsável Técnica e Assessora Científica do IHHS, campanhas como o Junho Vermelho são de suma importância para suprir essa demanda transfusional, evitando aumentar a espera do paciente ou mesmo o cancelamento de cirurgias.

E é a partir de iniciativas como o caso de Aryella que muitas vidas são salvas. De acordo com Rosângela Cruz, assessora de comunicação do Centro de Hemoterapia de Sergipe (Hemose), atualmente cerca de 50% das doações de sangue são motivadas pela necessidade de ajudar ou atender algum paciente que mobiliza campanhas nas redes sociais.

Quem doa

O 14 de junho foi escolhido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como Dia Mundial do Doador de Sangue.

O escritor Vinícius Oliveira Rocha, 26 anos, faz parte desse grupo. Para o jovem, o ato de doar sangue já se tornou um hábito; ele conta que já houve anos em que conseguiu atingir a frequência máxima de doações permitidas pelo Ministério da Saúde. 

Isso se deve principalmente ao fato de Vinícius ter o tipo sanguíneo O-, único que pode ser doado para todos os outros tipos. “Resolvi me tornar doador porque em minha família somos todos O- e eu sentia a necessidade de ajudar outras pessoas por ser um doador universal”, afirma o escritor.

Por conta disso, o jovem estabeleceu consigo mesmo, desde que completou 18 anos, em 2014, o compromisso social de ser um doador, além de sempre buscar influenciar outras pessoas.

“Tento convencer meus pais a doarem, mas isso infelizmente ainda não aconteceu. Minha irmã, por outro lado, já me disse que assim que tiver a idade mínima (16 anos) se tornará doadora também”, declara o escritor.

Baixa adesão

Apesar do sentimento de dever cumprido ao salvar vidas, Vinícius também se sente frustrado pela baixa adesão da população ao gesto de solidariedade. “Acho que ainda há um certo preconceito e descaso das pessoas sobre a necessidade de se doar”, considera o jovem. 

Essa impressão é confirmada por dados apresentados pelo Hemose. Segundo a instituição, em Sergipe, menos de  4% da população é doadora de sangue, mesmo percentual do cenário brasileiro. Atualmente, os estoques de todos os grupos sanguíneos do Instituto se encontram regulares. Apesar de o cenário ser positivo no momento, as doações permanecem oscilando. 

Já no IHHS, a situação é outra. De acordo com Ruth Torres, o estoque da instituição se encontra, atualmente, em estado crítico e não supre as demandas de transfusão, especialmente dos grupos A e O (positivo e negativo).

Por essa razão, o hemocentro irá intensificar as ações de conscientização durante o mês de junho. “Neste mês teremos uma agenda de coletas externas intensa. Na sede em Aracaju e na unidade de Lagarto, a campanha será focada no desafio: doe e traga um amigo ou familiar, vocês podem salvar até 8 vidas”, afirma Ruth.

Assim como o IHHS, o Hemose também irá reforçar suas campanhas, especialmente por conta dos festejos juninos, período em que há aumento da demanda. 

Quem pode ser um doador?
De acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde, para fazer parte da rede de doação de sangue basta estar em bom estado de saúde, ter entre 16 e 69 anos e pesar pelo menos 50 kg.

Entretanto, é necessário tomar alguns cuidados para realizar a boa ação, como estar bem alimentado; evitar a ingestão de alimentos gordurosos nas 3 horas anteriores à doação de sangue; ter dormido durante pelo menos 6 horas nas últimas 24 horas e, no caso de coleta após o almoço, é preciso aguardar duas horas.

Vale ressaltar que a frequência máxima anual para mulheres é de três doações, enquanto para homens é de quatro doações. Além disso, o intervalo mínimo entre doações é de dois meses para homens e três meses para mulheres.

PL 205/22
Em março deste ano, o deputado federal Francisco Jr. (PSD-GO) apresentou à Câmara de Deputados o Projeto de Lei 205/2022, com a proposta de transformar o “Junho Vermelho” em Campanha de Saúde Pública.

O projeto ainda está em análise e, caso seja instituído, o Poder Público deverá desenvolver ações que estimulem ações de mobilização, sensibilização, incentivo e conscientização da população brasileira sobre a importância da doação de sangue.

Para Rosângela Cruz, a aprovação do projeto pode contribuir muito para melhorar o atual cenário dos hemocentros. “Esperamos ações mais efetivas, que envolvam poder público, iniciativa privada e os cidadãos para doação de sangue, regular e voluntária, ou seja, a doação como uma atitude e gesto solidário individual, para a coletividade", considera a assessora do Hemose.