Novo livro do professor Jorge Carvalho aborda o colunismo social em Sergipe | F5 News - Sergipe Atualizado

Entrevista
Novo livro do professor Jorge Carvalho aborda o colunismo social em Sergipe
“Coluna social é uma fonte importante para estudar história”, diz o também jornalista
Cotidiano | Por Monica Pinto 18/06/2023 18h00


O professor, jornalista e escritor Jorge Carvalho do Nascimento lança o livro “Memórias do Jornalismo e da Coluna Social: Das Lunetas do Lord Gil ao @LuxoAju”, no Museu da Gente Sergipana, em Aracaju, no próximo dia 13.

A obra tem selo da Criação Editora e prefácio assinado pelo jornalista sergipano Ancelmo Gois, colunista de O Globo. O lançamento, às 16h30, conta com sessão de autógrafos, mas exemplares já estão à venda nas livrarias Escariz.

Membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação, Jorge Carvalho do Nascimento é autor de vários livros acadêmicos e, mais recentemente, de uma novela – "Julho".

Agora, ele traz à luz o primeiro de uma série voltada a registrar aspectos e nomes da Comunicação em Sergipe, enfocando, pela ordem de publicações futuras, O Jornalismo e os Jornalistas Sergipanos na Mídia Impressa; O Jornalismo Esportivo e, por fim, O Jornalismo no Rádio e na TV.

Nessa entrevista ao F5 News, Jorge Carvalho do Nascimento antecipa as linhas centrais de “Memórias do Jornalismo e da Coluna Social: Das Lunetas do Lord Gil ao @LuxoAju” e como a ideia surgiu e se concretizou. Confira.

F5 News - Já houve um certo desdém a respeito do colunismo social, por parte de setores da sociedade que o encaravam como um "jornalismo menor". Seu livro derruba essa visão?

Jorge Carvalho do Nascimento – Certamente. As preocupações em verificar e difundir os hábitos do homem civilizado vêm de longe. Bisbilhotar os costumes é buscar uma espécie de verniz da existência humana que dá sentido ao colunismo social como gênero jornalístico. Os grupos sociais sempre estiveram presos a padrões de decoro, moralidade e regras de comportamento coletivo, necessários à convivência de grandes massas humanas sem que os homens se agridam mutuamente.

Há, no colunismo social, uma espécie de exibição pública daqueles que são vistos como os mais polidos, os mais refinados na posse e uso dos hábitos socialmente desejáveis. E há o estranhamento diante dos que tentam viver o glamour da vida burguesa, sem que estejam efetivamente preparados para tanto. Há um padrão a ser seguido por todos, o que evidencia a necessidade de registrar o comportamento social, de há muito.

F5 News – Qual a importância da coluna social nesse contexto?

Jorge - A coluna social é um registro dos costumes, dos hábitos de uma determinada época, dos modos de comer, de se relacionar, de se vestir, de organizar festas, de chorar os mortos, de namorar, de se casar, de se divertir, com sua linguagem e suas gírias. É uma fonte importante para estudar a história.

F5 News - Nessa linha, seu livro classifica o colunismo social como importante para o desenvolvimento cultural de Sergipe. De que maneiras?

Jorge - A coluna social das notas cifradas, a que transforma intrigas pessoais em notícia com objetivos pouco claros, não cabe mais. A ética do jornalista estabelece que, cada vez mais, somente é dado publicar as coisas sobre as quais ele possui evidências. O jornalista que assina coluna pode lançar mão da ironia, ser ácido, sarcástico e colocar pitadas de bom ou mau humor nos seus comentários, quando for pertinente, mas tudo em doses homeopáticas e respaldado por evidências comprováveis.

Para fazer jornalismo de coluna social, o jornalista necessita ter vontade de conhecer pessoas, porque muitas vezes as pessoas não têm dinheiro, mas têm talento. Ter talento é muito mais importante para o colunismo social do que o dinheiro. Ter talento, fazer alguma coisa, ter algum dom, é mais importante do que ter dinheiro, quando se considera as boas práticas do colunismo social. É muito mais importante para o colunista falar de um artista, de uma pessoa que faz algo notável do que da pessoa que tem mais dinheiro.

F5 News - O presidente da Academia Sergipana de Letras, José Anderson Nascimento, disse que seu livro é "importante para o contexto geral da literatura, uma vez que expõe o relacionamento do high society com as diversas camadas sociais aracajuanas da época". Pode citar alguns exemplos dessa associação?

Jorge - O trânsito no high society muitas vezes acontece sem que os indivíduos sejam, necessariamente, detentores de poder econômico. Ser rico é importante, porém muitas pessoas circulam pelas festas dos grupos de elite pelo fato de serem detentoras de um bom capital simbólico, capital de relações sociais ou de outros elementos garantidores das possibilidades de ascensão social.

A vida dos que não eram ricos sempre interessou a colunistas como Amaral Cavalcante. Ele imprimia à sua coluna o seu próprio estilo alternativo, irônico e debochado, de um modo muito peculiar. Além de registros tradicionais das figuras do high society, a coluna noticiava polemicamente questões da política e da cultura.

F5 News – Mas aí não se enquadraria mais como uma coluna de variedades?

Jorge - A colunista Monica Bergamo, por exemplo, publica uma coluna social que é ao mesmo tempo uma coluna de variedades. Ela publica cultura, política, questões de economia, mas prioritariamente publica crônica social. Há, em vários colunistas, a característica de mesclar a coluna social com coluna de variedades. Essa tradição ficou muito afirmada no jornalismo brasileiro a partir do tipo de colunismo que foi feito por Zózimo Barroso do Amaral.

F5 News – Pode antecipar alguns episódios que causaram frisson, informados por colunas sociais?

Jorge - O maior frisson das colunas nos anos 50, 60 - e nas décadas de 70 e 80 também havia isso - era causado quando, no final do ano, as colunas sociais publicavam as listas dos “dez mais” e tinha colunistas que publicavam os “dez mais” e os “dez menos”. Isso sempre causou muito frisson, principalmente entre as madames e as filhas do high society.

Muitas vezes também os homens do high society, os homens de negócios, ficavam esperando ser citados entre os mais elegantes, os mais viajados e ficavam arrasados quando eram citados entre os menos.

F5 News – Quais os(as) colunistas sociais de Sergipe o senhor acha que melhor souberam operar – jornalística e financeiramente – sobre a vaidade humana?

Jorge - Indiscutivelmente, a jornalista Thais Bezerra soube perceber que a coluna social é um negócio. Um negócio da atividade jornalística, sem deixar de ser jornalismo, do mesmo modo que o médico que estabelece uma clínica, ele transforma a atividade médica em um negócio, sem deixar de prestar bons serviços médicos. A jornalista Thais Bezerra foi muito competente para transformar a sua atividade em negócio jornalístico, que envolve a empresa jornal, que envolve o trabalho dela como colunista social. Alguns outros jornalistas seguiram essa linha, mas o nome que fez isso com mais competência em Sergipe foi o dela.

F5 News - Como fica o colunismo social em tempo de domínio das redes sociais como vetores de jornalismo ético, mas também de intolerância, racismo, fake news e outras mazelas contemporâneas cuja visibilidade foi tão ampliada?

Jorge - Esta é uma grande interrogação do tempo presente. Há várias opiniões e várias interpretações a respeito disso. Há um entendimento de que o destino do colunismo social nesses tempos de domínio das redes sociais será o mesmo destino das outras práticas jornalísticas. Os grandes jornais impressos estão deixando de existir e os que mantém edições impressas, estas são cada vez menores, cada vez com tiragens mais reduzidas e com menor número de páginas. Os grandes veículos de comunicação, do Brasil e do mundo todo, estão migrando e se transformando em portais de notícias. É assim com um jornal como a Folha de S. Paulo e com o portal UOL; é assim com o Grupo Globo e o portal G1. Se você pegar o New York Times, o Deutsch Zeitung, um importante jornal alemão, o Miami Herald, o Daily News, é a mesma coisa, vão por aí. O destino da coluna social será o mesmo destino da mídia impressa.

A coluna social com um agravante.  Antes havia um elemento que dava importância à coluna social, se alguém fazia a festa de 15 anos da filha, ou do neto, procurava um colunista social para publicar fotos e registrar a notícia. Agora esse alguém tem um celular, se encarrega de gravar em vídeo a festa, de fazer 200 fotos da festa e, antes que a festa acabe, isso já está circulando em todas as redes sociais, em dezenas de grupos que existem nas plataformas de internet. são dilemas que estão postos no tempo presente para o colunismo social.

F5 News – Além dessa facilidade em pulverizar informações por si mesmo, influenciadores(as) digitais não vêm ocupando totalmente o espaço de divulgar pessoas e marcas, conferindo a elas o status que outrora foi a força motriz das colunas sociais?

Jorge - Eu penso que nem todo influenciador digital é um colunista social e que boa parte dos colunistas sociais que estão nas redes são influenciadores digitais. Na verdade, isso funciona do mesmo modo como funcionava quando não havia essa mídia via internet. O colunismo social dos jornais fazia com que os colunistas sociais fossem capazes de vender alguns produtos, de divulgá-los. E outros não tinham essa mesma capacidade. Mutatis mutandis [mudando o que deve ser mudado], se estabelece o mesmo tipo de paralelo

F5 News – Como nasceu esse projeto e como foi o processo de pesquisa para o primeiro livro?

Jorge - Militei nas redações dos jornais impressos e convivi com colunistas como Lânia Duarte, por exemplo, uma pessoa que muito me impressionou sempre, pela inteligência, pela competência, pela capacidade de trabalho. Assim que surgiu a ideia, em 2005, eu pedi uma entrevista à jornalista Thaís Bezerra, que me concedeu. A partir dela, pude perceber a necessidade que eu tinha de fazer uma pesquisa mais robusta. Fui aos jornais, a coleção de jornais publicados em Sergipe ao longo do Século XX, li essa coleção fazendo anotações, levantando o que era importante para a coluna social.

A partir daí, comecei a entrevistar colunistas sociais que estão em atividade e outros que não mais, porém permanecem vivendo em Aracaju. Entrevistei também o colunista Paulo Nou, que vive na França, e outros que vivem em outros estados. O fato é que, depois de todos esses anos de trabalho, nasceu o primeiro livro. E ao longo da pesquisa, fui percebendo que o tema não se esgota apenas em um livro e que eu precisava alargar os horizontes desse meu estudo.

Mais Notícias de Cotidiano
Ascom Coderse
20/05/2024  09h30 Barragens dos perímetros públicos irrigados de Sergipe estão cheias
Arthuro Paganini/ Agência Sergipe
20/05/2024  09h04 Confira a previsão do tempo para Aracaju nesta segunda-feira (20)
Reprodução/ SSP
20/05/2024  08h31 Após sofrer golpe, comerciante é restituído e suspeito é localizado na BA
Divulgação BPRv
20/05/2024  08h18 Três pessoas ficam feridas após duas motos colidirem com automóvel 
Reprodução Redes Sociais
20/05/2024  07h30 Homem é morto a golpes de facão em Poço Redondo (SE)

F5 News Copyright © 2010-2024 F5 News - Sergipe Atualizado