Pesquisadores sergipanos estudam nova opção de tratamento para dor oncológica
Cotidiano 19/10/2017 20h15 - Atualizado em 20/10/2017 07h20Por Fernanda Araujo
“As dores são grandes, uma inflamação inexplicável. Fui diagnosticada em 2013 já com o câncer avançado, estava num estado agressivo, mas graças a Deus a gente teve como reagir, através das medicações. Fiquei com uma inflamação no braço e perdi o movimento dele”, lembra Ana Maria de Jesus, de 51 anos.
O relato da sergipana é comum em até 80% dos pacientes que estão na luta contra o câncer. Desde 1986, a dor oncológica é considerada uma emergência global pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Ela é uma das consequências mais temidas pelos pacientes acometidos com a patologia. Diante dessa realidade a comunidade científica de Sergipe tem testado novos medicamentos menos invasivos para o tratamento.
Ana Maria foi curada, mas permanece em acompanhamento médico, se submetendo a fisioterapia e exames de rotina. Ela conta que iniciou o tratamento no Hospital de Cirurgia e depois seguiu com a radioterapia em Salvador. “Hoje eu choro de alegria porque estou aqui, mas muitas não tiveram a sorte que eu tive”, diz, emocionada.
Com muitas dores na axila, Gleide Selma de Oliveira Santos, 51, também recebeu o diagnóstico da doença em 2015. Só depois de passar por dois médicos ela descobriu que havia um caroço na mama e iniciou as sessões de quimio e radioterapia. “É muito doloroso, só sabe quem passa. Quando a gente tem apoio da família, a gente supera tranquilo. É ter fé e seguir em frente”, diz Gleide, que há um ano está curada.A esperança do alívio
Atualmente, os medicamentos com base em morfina, utilizados para amenizar esse sofrimento, causam reações adversas como prisão de ventre, dor abdominal, mal estar, tontura, e até dependência. Mas uma nova formulação de medicamento pode ser uma alternativa mais efetiva e muito menos invasiva para tratar a dor, melhorando a qualidade de vida do paciente, que já sofre com a própria condição da doença.
Pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS), através da professora e doutora Adriana Gibara Guimarães, com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação (Fapitec) e de instituições internacionais, vêm buscando alternativas terapêuticas a partir de compostos químicos de origem natural, extraídos de plantas aromáticas da flora sergipana, como o manjericão e o orégano. O medicamento pode ser aplicado por via oral, em forma de adesivo na pele ou em gel.
“O carvacrol e linalol são compostos naturais que atuam no nosso sistema nervoso central, nas áreas que percebem a dor e modulam esta percepção de dor, produzindo uma analgesia central. Estas substâncias estimulam que nosso sistema interno de controle da dor possa ser potencializado e produza uma analgesia que diminua o sofrimento dos pacientes”, explica o professor doutor Lucindo José Quintans Júnior (foto), um dos coordenadores da pesquisa.O organismo humano libera naturalmente a endorfina, um neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e por diminuir a dor. O carvacrol e linalol aparentemente atuam estimulando a liberação de neurotransmissores semelhantes as endorfinas pelo sistema nervoso central. Utilizadas em associação com a morfina, um dos analgésicos mais utilizados na medicina, as duas substâncias podem atuar no sistema central causando mais alívio às dores. No entanto, segundo o pesquisador, se administrada em doses elevadas a morfina pode causar intoxicação e levar o paciente à óbito.
“A morfina causa tolerância, ou seja, cada vez vou ter que administrar uma dose maior para ter o efeito desejado, como é comum em pacientes com uma dor crônica. Desta forma, é muito importante o desenvolvimento de novas propostas terapêuticas buscando garantir segurança para o paciente e efetividade no tratamento”, diz Quintans.
Para Ana Angélica, 32, diagnosticada com câncer aos 29 anos, uma esperança. “É muito importante ter esse apoio para diminuir as dores. Há um ano e meio terminei a radio, e a quimioterapia há dois anos, e continuo sentindo dores”, relata a paciente, ao lembrar das sequelas que afetaram o movimento do braço esquerdo. Ela continua tomando medicamentos diários e realizando fisioterapia.
“É uma luta contínua, mas não podemos perder a vontade de viver”, diz Ana Angélica [à esquerda].
Para melhorar a eficácia, os pesquisadores tentam agora reduzir a toxidade do novo medicamento para que ele possa ser ingerido em menor dose. A proposta é que a fórmula seja utilizada sozinha ou de forma integrada, com outros medicamentos já disponíveis no mercado e com eficácia comprovada, viabilizada para a rede pública. Os testes estão sendo realizados em roedores de laboratório para, em seguida, começar a ser administrado de forma experimental em humanos.
“A formulação que a gente usou é de uso oral e testada num modelo experimental de câncer que causa isquemia e dor muito intensa mais localizada.O desenvolvimento deste tipo de tratamento requer muito mais tempo de estudo e dinheiro para chegar ao medicamento. Hoje estamos desenvolvendo um adesivo, semelhante ao adesivo que contém estrogênio ou nicotina, para que possa ser administrado em associação com outras medicações. A ideia é o paciente passar dez dias com o adesivo na pele liberando os princípios ativos aos poucos, sem que o paciente abandone o tratamento convencional, por exemplo com morfina, mas em doses menores”, detalha o coordenador do estudo.
Segundo o professor Lucindo, os resultados são promissores. Em torno de 70% a 75% dos animais tiveram redução significativa da dor e não apresentaram reações adversas aparentes.
“A dose efetiva usada é menor, ou seja, todas essas vantagens permitem dizer que o tratamento é muito promissor, e até agora não achamos nenhum indicativo que seja impossível de tratar em associação com outros fármacos como a morfina, usando doses menores dos dois para obter efeitos mais satisfatórios para os pacientes. Isso vai aumentar o tempo que o paciente vai poder tomar morfina em doses menores. Atualmente busca-se usar o conceito de medicamentos inteligentes, em que se busca otimizar os efeitos farmacológicos. Acredito que é um projeto que vai agregar valor ao tratamento do câncer atual”, acrescenta o doutor.
A dor emocional
A intensidade das dores, segundo especialistas, varia de acordo com cada tipo de câncer. O paciente em que está com emocional abalado, como em pacientes com câncer, agrava ainda mais essa percepção de dor no paciente. Para a assistente social Sheila Virginia Lopes (foto ao lado), da Associação de Amigos da Oncologia (AMO), é importante acolher o paciente a fim de que ele se sinta valorizado e possa ter acesso ao tratamento.“A doença precisa ser desmistificada de que não tem cura. É olhar o paciente como um ser humano, que está doente, mas não é a doença. Ele tem sentimentos, emoções, projetos de vida interrompidos, e é preciso resgatar essa identidade, para que encontre forças de não desistir, e saber que têm profissionais caminhando junto com ele nessa luta”, observa Sheila Lopes.
A pesquisa é fruto do Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS), desenvolvido pela Fapitec.
Fotos: Fernanda Araujo/F5News
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