Nos municípios de Laranjeiras e Itaporanga D'Ajuda (SE), o segundo domingo do mês de outubro é marcado por uma festividade tradicionalmente cultural: a Festa dos Lambe-Sujos e Caboclinhos, que lembra e encena a história de ex-escravos e de índios pela terra sergipana.

Setur/ Divulgação

Mesmo sendo uma festa centenária, tombada como Patrimônio Imaterial de Sergipe, e que se estruturou a partir da figura de um líder — atualmente o Zé Rolinha —, ela parece estar tomando uma dimensão política que, anteriormente, não existia.

F5 News conversou com Evandro de Jesus Bispo, conhecido por ser o Pai Juá — personagem da encenação — há quase 30 anos, para entender os problemas que estão ameaçando a ideia originária, e que vêm se tornado um transtorno para aqueles que têm os lambe-sujos x caboclinhos como tradição. 

Devido às crises que estavam perpassando os personagem e o líder dos lambe-sujos, Evandro decidiu deixar de representar o personagem. Segundo ele, o grupo vem enfrentando problemas internos a partir de dois posicionamentos diferentes.

"De um lado, temos a maioria dos brincantes, membros do grupo, aliados ao mestre José Ronaldo, preocupados com a descaracterização que o grupo folclórico vem sofrendo no decorrer dos últimos anos”, explica Bispo.

E complementa. “Do outro lado, temos um pequeno grupo que se insurge contra a liderança do mestre, não lhe obedecendo às normas relacionadas à indumentária, ao enredo a ser encenado, inserindo personagens não existentes no folguedo, deixando de cumprir com aquilo que é peculiar às personagens que representam, não obedecendo roteiros e horários em que tradicionalmente se dá a apresentação do grupo”, diz Evandro.

Essa situação não ficou restrita ao grupo folclórico e, no dia 28 de setembro, atingiu o poder público municipal, durante reunião no Fórum Levindo Cruz, com algumas autoridades políticas.

Ainda segundo Evandro, o grupo da oposição procurou o poder público para propor que a Prefeitura de Laranjeiras assumisse o comando do festejo e o pedido foi aceito. 

Assim, a gestão municipal passa a controlar a Festa dos Lambe-Sujos e Caboclinhos, podendo decidir questões referentes a horários, locais e personagens.

Entretanto, para o antigo Pai Juá, essa decisão pode ameaçar a cultura popular. “Colocar os grupos folclóricos sob gerenciamento do poder público municipal faz com que a cultura popular fique refém da política e das mudanças”, disse Evandro Bispo ao F5 News. 

Ainda de acordo com ele, a Prefeitura de Laranjeiras investiu na festa, mas não o montante necessário.

"Os ínfimos cachês, somados ao material (às vezes diferente do que foi solicitado), quando recebidos, são um nada diante do valor, da glória e esplendor que estas manifestações folclóricas conferem a esta cidade”, declara ao portal.

Procurada por F5 News, a Prefeitura de Laranjeiras disse que a festa sempre contou com a supervisão e parceria da gestão pública.

“Está havendo um desentendimento de autoridade com os líderes do grupo e, por esse motivo, o promotor e o juiz tomaram a decisão de entregar o comando total e, não apenas a logística e organização de infraestrutura, para a prefeitura”, diz.

“A prefeitura está conduzindo a harmonização do grupo folclórico para garantir a festividade deste ano, mas o Ministério Público e o judiciário irão analisar a situação para que, nas próximas edições, a tradição retorne ao normal”, afirma ainda a Prefeitura.